Cap. 18

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Gregório

Estou em frente ao seu apartamento e não posso voltar atrás agora. Sou um homem de quase quarenta anos, preciso me munir de coragem e apertar a campanhia.
Como vou me apresentar?! Ela já me viu a semana toda no café, foi muito educada. E agora como vou agir?! Valentina merece conhecer toda a verdade, quero tanto abraça-la. E se ela me odiar? O que vou fazer se ela me  rejeitar? São tantos questionamentos que me afligem agora.

Aperto a campanhia e aguardo, minhas mãos estão geladas agora. A porta se abre e vejo a pessoa mais importante da minha vida a minha frente, ela me encara sem saber como agir, é agora que tudo faz sentido na minha vida...

- Boa noite Valentina, acho que precisamos conversar. Desculpe pelo horário mais não poderia mais esperar.  Gregório, Gregório Berman - puxo ar com força, tentando encontrar forças  - Filho do Róger Berman seu pai - suspiro, ela me encara - Acho que agora você não precisa deduzir ou me perguntar quem eu sou.

Ela me olha como se buscasse semelhança a seu pai, me sede passagem pra que eu entre, está estática. Vejo vários pares de olhos me encarando sem dizer nada...

Valentina está pálida como um papel, seus olhos se enchem de lágrimas. Ela não me responde, apenas se apoia no namorado.

- Como assim? Minha nossa senhora das beldades perdidas!!! Você disse filho do pai da Vale? Velho safado tava escondendo o ouro!  - me questiona a amiga - Eitaaa que o negócio ficou sério agora! Agorinha é que a vaca vai pro brejo!!!

- Não pode ser! Meu pai não mentiria assim? Mentiria? Quer dizer, eu nunca soube direito da família dele... Irmão, eu tenho um irmão?! Meu Deus, eu tenho você agora!!! - ela chora e é amparada pelo namorado.

A amiga doida me convida pra se  sentar, Valentina se senta ao lado do namorado. Ele a apoia em todo tempo, posso ver o cuidado em cada gesto.

Valentina me encara, não tem palavras... Tomo coragem pra narrar minha história:

- Eu sou seu irmão por parte de pai, Valentina. Róger nos  abandonou quando eu tinha dez anos. Ele trabalhava pros seus avós de motorista, então ele se envolveu com a sua mãe e nos deixou pra casar com ela - tomo ar pra tentar controlar o bolo que se forma em minha garganta - Um dia ele chegou do trabalho e estava nervoso, minha mãe sabia que ele andava estranho, então aquele dia meu mundo acabou, ele disse a ela que aquela vida que nós tínhamos estava fadada ao fracasso e  que ele não queria mais. Lembro-me de que ele pegou uma mala velha que tínhamos, colocou todas as suas roupas e saiu porta a fora sem ao menos me olhar nos olhos. Ele foi embora sem olhar pra trás.

Valentina chora, eu não aguento vê-la assim, minhas lágrimas teimam em cair. Ninguém fala nada e crio coragem pra continuar:

- Dias depois descobrimos que ele havia se casado com a filha do patrão e viajado pra Europa em lua de mel. Minha mãe quase enlouqueceu! Ela o amava.
Quando ele voltou de viagem, Brenda nos procurou e ameaçou minha mãe, ela tinha dinheiro e nós não tínhamos nada, então tivemos  que deixar nossa casa. Viver um dia de cada vez. Quando você nasceu eu vi pelo jornal, mais nunca pude me aproximar. Nem de você e nem da Valéria. Eu via vocês apenas de longe. Valéria era tão linda. Eu estava sua  na última apresentação de dança. Tentei se aproximar mais Brenda me viu e me expulsou de lá.

- Por isso ela estava tão nervosa aquele dia - Valentina relembra

- Quando Valéria faleceu eu estava de viagem marcada pra Alemanha, eu me escondi no cemitério  pra vê-la uma última vez. Passei em uma faculdade da Alemanha e  minha mãe também estava de casamento marcado com o Vagner que mora lá e tinha vindo a passeio. Eu juro Valentina, não houve um dia que eu não me lembra-se de vocês! Me formei em advocacia, estudei ainda mais e me tornei um dos melhores delegado do país. Eu não queria ter que dizer tudo isso pra você pequena, quando consegui juntar dinheiro suficiente contratei um investigador pra descobrir seu paradeiro, já que a perdi de vista quando você saiu de casa. Há pouco mais de um mês recebi o dossiê com tudo relacionado a você, e eu não pensei em mais nada. Eu larguei tudo e vim atrás de você pequena. Minha irmã, a irmã que eu tanto amo.

Valentina chora, me olha nos olhos com tanto amor, Lana está aos prantos no colo de um rapaz que deve ser seu namorado. Nao diz nada, eu não sei o que fazer, não sei como agir. Tantos anos sendo tão duro, rígido e nessa hora não sei nem ao menos como falar.

- Me perdoe pequena, acho melhor eu ir embora. Você tá muito confusa agora e eu não quero que me odeie - me levanto num impulso pra sair

- Por favor, fique! Não vai mais embora, meu irmão - Valentina se apressa em se jogar nos meus braços.
Abraço minha irmã pela primeira vez como se minha vida dependesse disso. Ali naquela sala somos apenas duas pessoas feridas que buscam sua cura.

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