Fogo Cruzado

Irina

Eu sempre achei fascinante os ambientes de bares e boates, pessoas flertando, a forma como a multidão se movimenta em bandos de amigos, se esbarram, derrubam bebidas, desculpas são pedidas e sorrisos são falsamente unidos com a checagem da situação da roupa molhada por cerveja.
A música alta só deixa todos mais agitados e felizes, soltos e largados ao embalo do som, não se importando se o pequeno espetáculo está sendo bem recebido ou sequer assistido por alguém.
A diversão é a única coisa que as pessoas que entraram ali buscam, alguns exageros nos cantos da boate não passam despercebidos, mulheres já de joelhos ou com a barriga colada na parede e a saia erguida, homens com cintos e calças abertas. Não olho o suficiente para saber se há alguma proteção, o uso de drogas também não é escondido, pessoas com carreiras de pó branco na mesa e o que se passaria por selos postais sendo colados na língua das pessoas em troca de alguns dólares.
Não vou além de alguns drinks muito bem observados para que eu não vá parar em um canal de notícias qualquer como mais uma garota que sumiu após uma festa de balada.
Sinto um olhar em mim, pesado, o peso chega a ser físico e uma bebida é entregue em minha frente no bar.
-Cortezia do cara de jaqueta de couro, pelos peitos.
Revirei os olhos e ao pé de recusar, Rebecca, que era minha melhor amiga mas que nunca foi a melhor em conselhos, abre um sorriso.
-Alguém vai se dar bem hoje, agradeça o que o universo te oferta!.