Já estou começando a gostar dessa caixa... Não dá para ouvir direito o que dizem do outro lado, isso se eu não quiser ouvir. Talvez eu use isso a meu favor, talvez até esqueça que mais alguém vive aqui...
"Pode entrar, esse vai ser seu novo quarto.", disse a enfermeira enquanto acompanhava uma jovem adolescente, deveria ter 18 ou 19 anos, não sei dizer com exatidão e também não me importo tanto assim com isso. Ela tinha dreads bem longos que foi o que mais me chamou atenção nela. Segurando uma mala ela entrou no quarto sem dizer uma palavra, apenas olhou de canto a canto até parar os olhos em mim. Me olhou como se eu fosse um tipo de enfeite do quarto, não se importando muito em eu estar ali.
A enfermeira saiu falando apenas alguns horarios que ela deveria se adaptar e aproveitou para avisar que o almoço estava vindo. Ela parecia estranhamente avontade, porém indiferente com tudo isso. Talvez já tenha certa experiência com trocas de quartos ou de lugares.
Ela se sentou na cama e continuou olhando canto por canto do quarto, contou quantos móveis tinha ali 3 vezes, e antes de se deitar contou os dreads, também 3 vezes. Eu queria perguntar para ela o motivo disso, mas eu não queria mesmo ter algum tipo de contato com ela.
Ela encarou a minha caixa, deitou e ficou me olhando como se eu fosse uma escultura, algo a se admirar, mas qual a finalidade dessa observação? Ela por acaso também queria me estudar?
"O que você está olhando?", perguntei, calmo e um pouco confuso. "Você está dentro de uma caixa.", disse ela como se realmente não entendesse que essa era medida de proteção, falou como sendo uma coisa nova e que ela queria saber o motivo. "Eu sou 'perigoso', é o que dizem." "Então você não acredita que seja perigoso?" "Não, acho que não, mas sempre falam que eu não entendo o que eu sou." "também falam isso para mim, dizem que meus comportamentos são desnecessários." "Estão errados, na verdade eles são muito irritantes e estranhos." "Disse a pessoa que está dentro de uma caixa dentro de um quarto.", ela falou isso enquanto dava uma leve risada de canto de boca e por mais estranho que pareça, eu também.
A enfermeira logo chegou com nosso almoço, passando o meu por uma entrada como aquelas que o carteiro usa, mas a diferença é que nessa cabia uma bandeja inteira. Pude ver a jovem fazendo todo um ritual para comer, trocando 3 vezes de talheres para só assim poder começar a comer.
"Como está o gosto, homem da caixa?", perguntou ela sarcartiscamente, vendo que meu rosto não era de uma pessoa satisfeita. "O gosto está o mesmo de sempre...", respondi enquanto pegava um pedaço com a colher e o levantava para examinar. "Coitada de mim então.", disse ela enquanto sorria para mim, o mesmo riso de canto que dera da última vez.
Já havia se passado algum tempo dês do almoço, estavamos os dois parados e calados, geralmente são momentos como esse em que eu me desloco dessa realidade para pensar em mil e uma formas de alguém morrer engasgado ou de perda de sangue ou qualquer coisa assim, porém a minha nova... Colega... Tinha um pensamento diferente, por algum motivo ela queria me conhecer, falar comigo.
"Sabe, você não perguntou qual é o meu nome.", disse ela com um ar de confusa. "Pessoas diferentes sempre perguntam meu nome quando se encontram comigo." "Eu não me interesso em saber seu nome.",disse para ela enquanto encarava o teto. "Bem... Meu nome é Sara.", disse ela enquanto mostrava um ar de alívio, eu não tinha perguntado nada, mas talvez ter saído do padrão tenha apavorado ela. "Você não precisa saber meu nome, eu sou apenas um animal do zoológico...", disse para ela pensando que apenas isso faria ela se afastar um pouco... Mas eu ainda tinha que perguntar uma coisa. "Já que estamos falando... Qual o motivo para você fazer tudo 3 vezes?" "3 é um numero importante para mim, eu tive 3 irmãos, 3 animais de estimação, 3 casas, 3 locais favoritos... Enfim, esse número me faz bem e eu sinto que tudo deve ser feito pelo menos 3 vezes, é como se ele fosse meu numero da sorte.".
Após a resposta dela eu simplesmente me deitei e esperei chegar a noite. Naquele dia nós iriamos dormir mais cedo, para todos começarem a se adaptar melhor.
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1+1=3
HorrorUm psicopata se encontra em total desvantagem ao ter que dividir seu quarto com uma pessoa estranha