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            {Harry Styles}

  Um dia, mais um dia em que acordo. Mas os pensamentos que pairam na minha cabeça não são os mesmos. Estou preso àquele momento em que tomei a iniciativa, àquele beijo... Porque é que o fiz? Foi um impulso do qual me orgulho, do qual esperava que, mais dia menos dia, acontecesse.

  Não é só a sua beleza que me atrai, é a sua personalidade, o que ela me transmite. Eu gosto desta rapariga como nunca gostei de nenhuma.

  Desembaraço-me dos lençóis e vou até à cozinha, de tronco nu, onde cumprimento a minha mãe com um beijo na cabeça.

  - Bom dia... - profere e o seu tom de voz, que se arrasta a cada dia, parte-me o coração. Ela é demasiado nova para sofrer o que já sofreu e para se encarar desamparada, quase a bater no fundo do poço. A vida devia sorrir-lhe, devia mostrar-lhe a luz no fundo do túnel e preocupa-me isso não estar a acontecer.

  Juntos, só os dois, vivemos no meio da pobreza, numa casa pequena e quase em ruínas. Qual é o ponto que a vida nos está a tentar mostrar perante estas condições?

  Vou ao quarto e abro a caixa com o último dinheiro que tinha amealhado nas corridas. Claro que tenho de deixar sempre algum para apostar, mas quando conseguir sair disto, será todo da minha mãe.

  - Toma... - passo-lhe os rolos de notas para a mão e não a deixo responder. Mas as lágrimas nos seus olhos são bem visíveis. - vou sair e volto para almoçar.

  Saio, depois de vestir qualquer coisa, e vou até à margem do rio onde fumo e relembro a noite passada. Há muitas coisas na minha cabeça neste momento, demasiadas. Primeiro sei que a minha mãe não nasceu ontem, ela não é parva, e sabe que a forma como arranjo aquele dinheiro é ilegal. Só não sabe quão má é essa ilegalidade. Depois, a Jane não me sai da cabeça. Aquele beijo só me veio confirmar o sentimento que desenvolvi em tão pouco tempo por ela.

  Depois de tomar uma decisão volto para casa. Mas agora com a sensação de que estas horas até anoitecer vão demorar mais do que realmente pretendo.

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  Já não aguentava nem mais um segundo. Estava prestes a cometer a loucura de aparecer na casa dela durante o dia, mas o perigo que isso envolvia e os possíveis problemas consequentes fizeram-me refletir melhor.

  Acelero o máximo que posso e tento não pensar em nada, apenas fazer e não pensar demais. Não quero desistir...

  Chego à moradia que pairava na minha cabeça e saio da mota retirando o capacete. Hoje só tinha trazido um, mas foi propositado. Preferia ficar por aqui, pela berma da estrada. Passo várias vezes pelo portão de ferro e faço alguns barulhos baixos para que os cães comecem a ladrar. É a única forma que tenho de a chamar à atenção. Contudo, faz-se luz na minha cabeça. Ela só viria se ouvisse motores. Ligo a mota e faço algumas acelerações, mas sem sair do mesmo sítio.

  Não foi preciso muito para ela aparecer ao portão.

  - Já acabou? - questiona do outro lado dos ferros.

  - Não chegou a começar - digo esboçando um sorriso pequeno. Ela sai da sua propriedade sempre acompanhada pelas chaves de casa.

  - Então? - questiona confusa com a minha presença.

  Sem pensar numa resposta melhor, agarro o seu pescoço com as minhas mãos e junto, uma vez mais, os nossos lábios. Na minha cabeça esta era a resposta certa a qualquer pergunta que ela me fizesse.

  - Só trouxe um capacete - digo ainda com os nossos rostos próximos - hoje ficamos por aqui...

  Separo-me dela e sento-me na gravilha do chão, desconfortável, mas feliz. Com ela ao lado tudo parece mais minimalista e os problemas parecem todos sumir, mesmo que só por meros momentos.

  Começamos e terminamos conversas tão rapidamente como a velocidade que atinjo nas corridas. É bom estar assim com alguém, sem limites. Pela primeira vez, na minha vida, confessei o meu gosto pela música. Impressionantemente, não se mostrou surpreendida e até gozou, dizendo que, aos olhos dela, tinha uma figura de artista. Foi inevitável rir-me da sua intervenção, algo que é muito raro.

  A noite está mais quente, pelo que não tenho o casaco vestido. Vou até à mota e pego no mesmo, retirando do bolso o maço de tabaco quase no final. Volto para o meu sítio e, vendo as suas pernas descobertas arrepiadas, pouso o meu habitual casaco de cabedal preto nas mesmas.

  - Obrigada... - não me manifesto e acendo o cigarro. - Hoje já não o vais pôr no buraco junto dos outros... - encaro-a que me olha demasiado intrigada.

  - Apago e depois guardo. Quando lá for guardo-o, não te preocupes. - expulso o fumo de uma só vez e o seu olhar não me larga.

  - Deixa-me experimentar... - a minha cabeça vira repentinamente e creio que o meu olhar não é, de todo, dos mais simpáticos - vá lá! Tenho curiosidade, é só desta vez...

  - Não. - digo seco, mas com ela a aproximar-se.

  - Prometo que é só desta vez, e estou ao pé de ti - apago o cigarro, apesar de não estar totalmente acabado e levanto-me.

  - Já disse que não Jane. - dirijo-me até à mota pronto para ir embora. Já se faz tarde e estes momentos souberam bem. Agora já estão a ir longe demais. Ela não é suposto pedir-me isto.

  Rodeia a minha cintura e pousa a cabeça por trás do meu ombro.

  - Pronto, desculpa... - pede e tento amolecer. Inspiro fundo e deixo-me acalmar-me - não te queria deixar assim... Só queria experimentar - viro-me devagar e, encostado à mota, deixo-a envolver-se no meio dos meus braços.

  - Mas eu não quero que experimentes, Jane. Tu não mereces envolver-te nestas coisas e eu digo-te, é mau, é muito mau. Mas as pessoas aprendem a gostar, forçam-se a gostar, enganadas pela psicologia de que acalma. - perfuro o seu olhar e deixo-a beijar-me.

  - Desculpa... - abano a cabeça de um lado para o outro.

  - Não quero que peças desculpa. Quero que me prometas agora que não vais nunca tocar num cigarro, nem em qualquer coisa parecida. - ela olha-me reticente e endureço o meu olhar, forçando-a a pensar da forma correta.

  - Prometo! - diz ainda presa nos meus olhos e sorrio, finalmente, beijando-a mais descansado.

  Algum tempo depois acelero, e forço-me a desaparecer do seu campo de visão. É tão bom tê-la por perto...

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  Hey! Duplo update! Estou a esforçar-me imenso nesta short story para que consiga que vocês disfrutem de cada capítulo da forma certa, sabendo que não restam muitos mais.

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         Inês

Engines || Harry Styles Onde histórias criam vida. Descubra agora