Um tempo

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Um tempo.

Pausa para respirar. Gastar cada dia – hora, minuto, segundo – pensando sobre Taehyung e sobre si mesmo, sobre o sentimento abrasador que floresceu no fundo do estômago, germinou pelo corpo, consumiu tudo no caminho, bagunçou suas concepções e atrapalhou seu sono... Era exaustivo. Estava esgotado.

E a gota d'água havia caído, o deixando ainda mais confuso, a ponto de transbordar. Seja lá o que fosse – o que aquilo significava – Jeongguk precisava de um tempo.

Pausa para arejar a mente paranóica, sem mais remoer os próprios medos e desejos secretos. Saber a nova natureza de seu interesse por Taehyung, que ultrapassava a curiosidade por sua personalidade e o desejo de protegê-lo, traduziu-se na prática mais como um peso do que como um alívio. Agora que sabia, as vontades de Jeongguk ficaram mais abusadas.

Se antes se contentava só em o admirar e o ouvir tagarelar por assuntos aleatórios, isso já não parecia bastar mais. Jeongguk vibrava com cada sorriso que lhe era oferecido, mas suas mãos pareciam tremer na ânsia de tocá-lo. O cabelo em mil tons de castanho, as mãos de dedos finos e longos que se encaixavam entre os seus como se tivessem sido feitos com esse propósito. Ficar perto de Taehyung tornou-se mais difícil depois de sua fatídica descoberta, porque agora simplesmente não podia mais se contentar em apenas ficar perto.

O que precisava não era de tempo para pensar, mas o exato oposto: um tempo sem pensar em nada. Arejar a mente, livrar-se daquela obsessão insana que o garoto de olhos estrelados provocava. O fim de semana depois das classificatórias tinha dado tempo de sobra para refletir, e a conclusão não havia sido nada boa. Tinha extrapolado todos os limites.

Na segunda-feira Jeongguk caminhou a passos incertos até o refeitório claustrofóbico durante o intervalo e sentou-se em seu antigo lugar de direito, na companhia de Jimin e Songyi. Tinha as pálpebras pesadas, as costas doloridas e a atenção desvirtuada, a ponto de não conseguir se concentrar em coisa alguma. Via o olhar curioso de Jimin, ouvia a voz animada de Songyi, as risadas histéricas dos colegas, sentia o cheiro familiar de comida gordurosa – mas ninguém sabia. Jeongguk era a única vítima e o único culpado. Estava com vergonha, tenso e perdido. Precisava de tempo, já que o problema em suas mãos parecia impossível de ser solucionado.

Jeongguk não queria ver Taehyung hoje.

- Tá tudo bem, Guk? – Jimin chamou sua atenção num tom de voz obviamente preocupado. – Você está com cara de que não dormiu nada essa noite.

Duas noites, corrigiu em sua mente. Não consigo dormir desde sábado.

- Está, sim. – Respondeu à contragosto. – Insônia, só. Acho que é a ansiedade pras provas finais.

Reconheceu o olhar desacreditado de Jimin, com uma das sobrancelhas arqueadas. Às vezes, Jeongguk detestava como ele podia ler a suas expressões como um livro aberto – vide ter sido o primeiro a notar suas intenções em relação ao incógnito, antes mesmo que se desse conta disso. Guardar segredos do melhor amigo era como dar um tiro no próprio pé.

Queria confidenciar a verdade, e odiava ter que mentir para ele. Entretanto, dessa vez era mais do que a implicância de Jimin que o impedia de tocar no nome de Taehyung.

Era também vergonha, pura e simples. Teria que carregar aquele fardo sozinho já que era impossível pronunciar em voz alta.

- Você brigou com Taehyung?

Jeongguk arqueou as sobrancelhas, surpreso, finalmente focando a atenção por um segundo. Reconheceu a preocupação nos olhos de seu hyung e pensou que, se ele chegou ao ponto de mencionar Taehyung depois de tanto evitar o assunto, era porque sua cara devia estar mesmo um lixo.

Incógnito | vkook  [concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora