╰╯despair ╰╯

29 1 0
                                    

Short Story.

O Mundo não é perfeito. Nunca fora, e até prova suficiente, nunca será. Por isso, surgiu o sistema de governo. O sistema que se baseia no poder de um conjunto de indivíduos, ou um individuo por si só, em controlar o que nos rodeia.

Sehun nunca se veria em tal posição, porque sendo a pessoa convencida que era, não se esperava outra coisa que não uma certa arrogância. Não que fosse uma pessoa, rude, por assim dizer, apenas gostava de certas palavras que se enrolavam na sua língua, palavras essas que a maior parte do público ouvinte caracterizava como brutas ou pouco educadas. Por muito de príncipe que Oh Sehun fosse, continuava a ser um jovem cheio de aspirações e defeitos. Todo o ambiente em que fora criado limitava os seus gostos grosseiros. Nada de faltas de classe. Nada de vulgaridades. Pouco podia fazer. O príncipe achava-se perdido no meio de tanta excelência, por assim dizer. Não que não gostasse da vida que levava, não a trocava por nada. Deixar de usufruir do poder encantador da riqueza? Das suas feições perfeitas? Do seu corpo bem tratado? Nunca. Nem lhe passava pela cabeça. Mas o que o instruía a desobediências fúteis (palavras dos seus próprios pais) era a sua hábil imaginação. Visões furtivas. Sonhava com algo maior que aquilo. Em breve seria o substituto para o trono, mas nada dessas responsabilidades lhe diziam respeito. Oh Sehun convencia-se a si mesmo disso. Os luxos de ser o menino protegido do castelo real perdiam a sua cor, e todos os seus encantos, quando tudo o que o jovem queria era poder libertar-se. Queria o mundo na palma das mãos, mas não o poder que isso exigia. O quão bom era sentir o vento soltar todos os jeitos aperfeiçoados e meticulosos que foram feitos nos seus cabelos? Correr sem olhar para trás, sem pensar nas responsabilidades muitas que o aguardavam. Abraçar o frio agradável da chuva, tingir as suas vestes reais. Gritar para ninguém. Gritar para toda a gente.

Ser Oh Sehun significava excelência, brilhante e ilustre jovem real, riqueza e luxo. Ser Oh Sehun significava ser um pássaro enjaulado. O Príncipe queria sentir o calor dos raios de sol na sua pele pálida, tocar toda a imensidade de um campo de flores de primavera. Não as pobres plantas entristecidas dos jardins reais. De uma vez por todas, Sehun queria rebelar-se, confrontar esta vida maldita que não escolhera. Não a trocava por nada. Mas apenas um segundo de liberdade queria que corresse nas suas veias.

No meio de tantos desejos amaldiçoados, veio a deparar-se com o maior de todos. O Rapaz.

Todos os pormenores se perderam. Ou talvez Sehun apenas não se lembrasse de nenhum deles. Adrenalina misturada com mero sangue, respiração instável, visão nublada. Nada daquilo era correto. Mas o incorreto sabe demasiado bem para ser deixado de parte. O príncipe encontrara-se nos vastos corredores do imenso Palácio Real, corredores conhecidos por si, atravessava-os de olhos fechados se fosse preciso. O que praticamente era o que se dispusera a fazer. A escuridão engolia as paredes, deixando-o dependente da pouquíssima luminosidade de algumas velas e o tato dos seus dedos longos e calejados. Sentia o seu coração contra o seu peito, pulsante no nó da sua garganta. Sehun amava o perigo. Estudava a sua saída silenciosa, adentrando pela noite profunda. Ou madrugada? Sendo as horas que eram, não importava. Passou os milhares de vastos corredores e quartos, nenhum som sendo ouvido. Era tão ágil como atraente. Em meros minutos já apalpava os móveis das traseiras do castelo, pronto para correr para os seus desejos. Não antes de manifestar uma palavra grosseira por baixo da sua respiração. Guardas, pois claro.

Seria de achar que, por ser o príncipe, Sehun poderia simplesmente mandá-los abrir caminho, sem grandes justificações. Mas não era nada disso. Os seus pais não eram idiotas, ora, conhecendo as atitudes sem jeito do filho, já sabiam muito bem o que esperar. O facto de Sehun ser já adulto não entrava em jogo. Demasiadas foram as vezes que haviam cortado os atos do príncipe a meio. Sempre assim fora, tendo a idade que tivesse. Qualquer pessoa que trabalhasse sob as ordens da realeza conhecia a regra de ouro: Manter Oh Sehun dentro de limites.

Bem lá no fundo, parecia até que viviam com um medo constante. Medo que talvez, Sehun pudesse fugir por entre os seus dedos. Não era uma realidade distante, de todo. Mas a frustração do príncipe só aumentava perante tais restrições. Apenas desejava soltar-se das correntes, mais e mais.

- Vão largar-me da mão, de uma vez por todas. - Murmurou entre respirações desreguladas. Não era o fim. Nunca era, por mais que o parassem. Era uma questão de atenção. Observava os homens altos atentamente, não eram muitos. Pelo menos não estavam concentrados, apenas espalhados pelo terreno real. Só tinha que os afastar por um pouco, sabia que conseguia correr muito mais do que qualquer um deles.

A meio da sua linha de raciocínio, a mais doce das vozes captou a sua atenção. E se não fizesse nada, também a dos guardas seria desperta.  Arregalou os seus orbes escuros, virando metade do seu torso num movimento grutesco. Os seus olhos pousaram na origem do som, um corpo menor que o seu, pouco iluminado. Não percebera sequer as feições da pequena pessoa, não lhe interessavam minimamente. Apenas esticou o seu corpo, tomando posse do menor dos seus braços. Sehun não era propriamente meigo nos seus toques, muito menos agora, puxou a pessoa para si bruscamente, recebendo um guincho surpreso de volta. Levou a sua mão cegamente ao rosto desconhecido por si, pressionando-a contra a sua boca para obter o silêncio de novo.

- Shhh, a minha presença não pode ser notada! - Gritou num sussurro, esticado para ver se os guardas haviam ouvido alguma coisa. Pareciam rigorosamente na mesma. Suspirou então pesadamente, ainda prendendo o corpo menor contra o seu. Era agora a sua vez de gritar quando sentiu a dor aguda espalhar-se pela sua mão. Morderam-me?! Sem reação, nem pensamento, sentiu-se ser empurrado por um par de braços, recebendo uma pancada nada efetiva no seu peito.

- Largue-me já! O que pensa que estava a fazer?! Eu vou chamar a gu- O príncipe voltou a calar a voz, reconhecida como masculina, de novo. Prendeu-o nos seus braços, arrastando-o para longe da desejada saída. Antes isso do que haver um escândalo ali mesmo. Nem conseguia imaginar o quão limitado iria ficar se chegasse aos ouvidos do Rei que voltara a tentar fugir. Talvez deixasse de poder ver a luz do dia, ora! Sentia o outro corpo lutar contra o seu, inutilmente na sua opinião, numa tentativa de se largar.

Olhava para os lados, observante de qualquer possível testemunha no local. Respirou fundo quando se certificou de que não havia ninguém. Ninguém para além da criatura que guinchava e se mexia contra si. Oh Sehun rolou os olhos, entrando na primeira porta que sentiu por baixo dos seus dedos, nem se importando em fechá-la como deve ser. Empurrou o outro com menos força agora, encurralando-o contra a parede. Continuava escuro, não se via rigorosamente nada para além de meros traços faciais iluminados pela incidência da lua na janela. Um rapaz  percebera.

Antes de ter sequer a oportunidade de falar, o menor explodiu numa mistura confusa de palavras cursivas. Um sotaque forte adornava a sua voz caracteristicamente aguda. Se não fosse pelas meras feições que observava, Oh Sehun diria que se encontrava de frente a uma jovem menina.

- Qual é o seu problema?! Quase morri de susto ali! Vou fazer queixa de si sabe? I-isto é ataque físico! Isso! Violação quase! - O pequeno ser apenas espetava palavras na cara do príncipe, e este observava atentamente, tentando perceber o que era aquele rapaz. - Se...se o rei sabe disto, vai pagar muito por me ter arrastado daquela forma! - Um brilho estalou no olhar de Sehun. Logo a reação foi imediata da parte do maior. Aproximou-se dele num instante, prendendo os seus pulsos sob a sua cabeça arduamente. Nem o pobre menino se conseguiu defender antes de ser encurralado pela voz ameaçadora de Oh Sehun. - Nem pensar. O rei não vai saber de nada disto, entendido? Ninguém vai saber que estava ali a estas horas! - Moveu o seu rosto para trás, irritado com o seu plano falhado. Sem se aperceber, o luar iluminava agora a sua face. Isto arrancou uma fraca respiração do desconhecido, agora calado, procurando pela sua voz.

- P-Princípe Oh Sehun - as palavras caíram dos seus lábios preenchidos como uma maldição. E na verdade poderia vir a ser tal coisa, depois de tudo o que falara contra o príncipe, a realeza.

(...)

Mei x 

Royalty in Repose | HunHanOnde histórias criam vida. Descubra agora