SAMANTHA
HALLOWEEN - 31 DE OUTUBRO DE 2004
Nunca sei responder quando alguém me pergunta sobre como eu me lembro tanto daquele Halloween de 2004. O meu primeiro, com cinco anos. Eu estava vestida de fada, usando uma saia de tutu rosa junto com um par de asas brilhantes e um chapéu de cone enorme que ficava jogando purpurina nos meus cabelos presos em um rabo de cavalo alto. Na minha mão, uma varinha de condão e uma sacola de papel pardo que minha mãe usava no supermercado.
- Você está linda, meu amor. - Minha mãe me falou, pegando na minha mão e abrindo a porta.
Praticamente todas as crianças da vizinhança estavam andando na rua, algumas em grandes grupos, outras sozinhas, outras com seus pais. Algumas, que pareciam mais velhas, roubavam doces das mais novas. Apertei minha sacola contra o peito.
- Não precisa ter medo. Ninguém vai roubar seus doces. - Minha mãe colocou a mão em minha cabeça. - Podemos ir?
- Sim. - Falei enquanto ela estendia a sua mão para mim.
Saímos andando pela calçada, parando de porta em porta para pedir os doces. Nessa época do ano, Albany fica cheia de crianças. A população jovem é relativamente pequena. Muitos pais mandam seus filhos para passarem o dia das bruxas com suas avós, na esperança de salvar as crianças da violência da cidade de Nova Iorque.
Observei as casas envolta. Algumas muito bem enfeitadas com abóboras, luzes, esqueletos, bruxas e fantasmas de papelão. Outras totalmente vandalizadas, com cascas de ovo escorrendo pelos vidros e papel higiênico seco envolvendo arbustos e árvores dos quintais daqueles que não haviam doces para oferecer aos pedintes.
Senti minha mãe soltar a minha mão assim que paramos em outra casa.
- Você pode continuar sozinha, querida? - Ela perguntou. Só então eu vi uma mulher um pouco atrás dela com um sorriso no rosto. Ela estava fazendo carinho em alguma coisa com sua mão esquerda, porém não dei atenção. Me virei e andei até a porta da casa. Ganhei dois pirulitos de cereja e uma barra de snickers daquela senhora.
Quando vi que minha mãe ainda estava conversando com a mesma mulher, peguei meu saco de doces e sentei na grama, chutando um rolo de papel higiênico vazio do caminho. Meti a cabeça dentro do saco e comecei a olhar para ver o que tinha adquirido, e mal notei quando um menino caminhou até mim e se sentou ao meu lado.
- Oi. - Ele esperou eu olha-lo, com a cabeça para o lado.
Eu o olhei, em silêncio. Os cabelos, meio bagunçados, eram um tom de loiro mais escuro que o meu, e os olhos eram claros. Assim que ele notou que eu estava olhando, deu um sorriso escancaradamente forçado. Eu franzi a testa enquanto olhava a sua fantasia de super-homem.
- Eu me chamo Philip. - Ele estendeu a mão para eu saudá-lo, retirando o sorriso do rosto. Assim que percebeu que não estava mais sorrindo, forçou os músculos de seu rosto novamente em um sorriso quase tão exagerado quanto o de antes. - Minha mãe disse que eu vou estudar com você!
- Oi. - Falei, olhando sua mão. Estava melada de açúcar e chocolate. Minha vontade era de dar um lencinho umedecido para ele. - Eu sou Samantha. - Olhei para o garoto. - Pare de sorrir. Está sendo estranho.
Ele pareceu ficar decepcionado.
- Minha mãe disse que eu devia ser simpático. - As bochechas dele ganharam uma coloração rosada. Logo, os olhos de Philip se iluminaram novamente. - Quer ver os doces que eu ganhei?
Ele ficou de pé e correu até a mulher que estava falando com a minha mãe e pegou uma mochila dos Power Rangers que estava em suas mãos. Correu de volta para mim e despejou todo o conteúdo da mochila no chão.
- Eca! - Falei, fazendo uma careta. - Vai sujar de terra!
Philip ignorou, dando de ombros.
- Eu gosto de Twix! - Ele me mostrou a embalagem dourada e tentou abrir.
- Ei! - A mulher que conversava com a minha mãe exclamou. - Philip, já chega de doces por hoje! Ainda mais à essa hora da noite. Se comer, você não dorme! - Estreitei os olhos quando prestei atenção em como o sotaque da moça era forte.
- Mãe... - Choramingou.
- Philip, sem mais. - Ela disse de onde estava. - Guarde tudo dentro da sua mochila, senão vai encher de formiga.
Ele cruzou os braços.
- Eu te avisei. - Falei para ele, que me olhou rapidamente.
- Meninas são chatas. - Resmungou.
- Hã? - Falei. - Não somos não!
- São sim! - Ele disse, realmente bravo. - E você é a mais chata de todas! - Ele apontou para mim e eu me levantei. - Eu tentei ser o seu amigo, e você não quis! - Voltou sua atenção para os doces por meio segundo, antes de completar o discurso: - Bobona! Feia!
Meus olhos se encheram de lágrimas e eu corri para os braços da minha mãe. Eu não precisei falar nada.
- Philip!? - A mãe dele chamou. - Venha aqui imediatamente!
- Não! - Ele permaneceu sentado no gramado e virou a cabeça para o outro lado.
- Peça desculpas para sua amiga!
- Ela não é minha amiga! - Ele gritou. - Ela é feia!
- Eu não sou nada! - Gritei a plenos pulmões.
- É sim! - Ele ficou em pé. - E ainda está com o nariz escorrendo, que nojo!
- Philip... - A mãe foi em sua direção e o pegou no colo, voltando para o lado da minha. - Peça desculpas para Samantha e dê um abraço nela.
- Vou pegar germes! - Ele exclamou.
- Seu chato! - Gritei.
- Samantha. - Disse a minha mãe. - Por favor...
Eu me ajeitei no colo dela, com a cabeça apoiada em seu ombro sem que o chapéu me atrapalha-se, enquanto via Philip me encarando com os braços cruzados e com cara de poucos amigos. De saco cheio, dei língua para ele, que pareceu surpreso. Ele arregalou os olhos claros e também mostrou a língua para mim, se inclinando na minha direção.
- Philip, já chega. - Falou sua mãe.
Dei uma risada da bronca, e ele notou. Me encarou por vários segundos até sua expressão suavizar e eu notar os cantos de sua boca se curvando ligeiramente. Ele estava sorrindo para mim.
''Esse menino é estranho'' - Pensei.
Fiz cara de brava e virei o rosto para Philip. Nunca mais queria olhar na cara daquele menino porco que havia me chamado de feia. Por um acaso ele já tinha se olhado no espelho?!
Nossas mães continuavam conversando distraidamente na calçada sobre qualquer coisa que não era do nosso interesse. Me ajeitei no colo da minha mãe, virando o rosto, e vi que Philip me encarava. Encarei de volta, revelando todo o meu ódio que eu já sentia por aquele menino apenas com o meu olhar, que seria capaz de matar alguém. E era o que eu queria fazer com ele naquele momento. Obviamente, uma menina de cinco anos não pensaria dessa forma, mas eu, a Samantha de dezessete anos, teria matado aquele garoto insuportável.
Antes dele se tornar quem ele é até hoje.
Essa era a minha vontade relacionada a Philip, meu melhor amigo desde o dia seguinte ao Halloween de 2004.
•••
Notas da autora:
Olá! Então, espero que gostem da história. É a minha primeira no estilo romance/comédia romântica.
Favoritem e comentem o que acharam, por favor! Isso é mesmo muito importante pra mim.
Obrigada por lerem! Até o próximo capítulo. <3
KaliC.
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Young
Teen FictionSamantha não abre mão de seu programa favorito do final de semana por nada. Livros, um cobertor bem quentinho, uma música qualquer tocando em sua playlist e uma caneca de chocolate quente ao seu lado. Extremamente calculista, Sam possui sua vida pla...