PHILIPNos finais de semana, Samantha não saía de casa. Só se eu insistisse muito, muito mesmo. Eu julgava como maluquice, mas então, alguns anos atrás, descobri que ela tinha uma espécie de ritual: colocava uma música ambiente, preparava uma bebida quente - quase sempre chocolate -, colocava um cobertor em suas pernas, e pegava um livro para ler. Ela fazia aquilo desde os treze anos. Era o seu descanso de toda a semana. Era o seu momento de paz, quando eu não perturbava com ligações ou até mesmo visitas inesperadas. Mas ela nunca reclamou.
E naquele momento, eu estava me segurando para não ligar pra ela.
- Supondo que temos uma partícula carregada com carga q = 4 μC e que ela seja colocada em um ponto A de um campo elétrico cujo potencial elétrico seja igual a 60 V. - Eu lia o problema pela quarta vez em voz alta. Eu estava sentado em minha cama e o livro e o caderno estavam abertos na minha frente, e ao meu lado, estava meu notebook em uma página sobre eletricidade. Atrás de mim, também na cama, estava Max. - Se essa partícula ir, espontaneamente, para um ponto B, cujo potencial elétrico seja 20 V, qual será o valor da energia potencial dessa carga quando ela estiver no ponto A e posteriormente no ponto B?
Eu encarei a parede do outro lado do quarto.
- Porque uma partícula se moveria espontaneamente? - Perguntei para o nada. Aquilo me frustrava.
Minha mãe dizia que desde que eu era pequeno, não tinha muita paciência para as coisas. Geralmente quando eu estava estudando alguma coisa e não entendia, ou quando eu tentava fazer um exercício e não achava a resposta certa, começava a chorar porque ficava nervoso. Já eu, sempre me achei afobado mesmo. Cansei de errar uma questão inteira em uma prova porque fiz uma multiplicação simples errado. E eu sempre fui bom com números, então chegava a ser mais frustrante do que ficar com duas opções de alternativa e marcar a errada. Eu gostaria de dizer que desde que eu entrei no ensino médio isso melhorou, mas infelizmente eu estaria mentindo, e eu odeio mentir. Na verdade, isso não parou de acontecer desde que a minha mãe se divorciou do meu pai e voltou para o País de Gales.
A questão é que: o trabalho da minha mãe fazia ela viver muito em movimento pendular. Ela era funcionária do governo britânico, e ainda na faculdade, foi escalada para trabalhar no consulado Galês nos Estados Unidos. E então ela veio, e ficou quase um ano. Se transferiu para a Universidade de Albany e lá ela conheceu a mãe de Samantha, se tornando muito amigas rapidamente. Mas então ela teve que voltar pra casa. Então, anos depois, ela teve que voltar, e foi quando nós nos mudamos. Dessa vez, ela veio com um período de permanência mínimo: quatro anos. E foi exatamente esse tempo que ela ficou antes de ser chamada para retornar para casa.
Eu tinha nove anos quando ela foi embora, e eu nunca soube o motivo do divórcio. Mas as vezes eu não achava muito difícil de entender quando eu simplesmente passava alguns minutos na companhia do meu pai. Eu também ficava com vontade de ir embora. Ainda sim, de vez em quando eu me sentia abandonado. Não sei se isso é egoísmo da minha parte, mas eu não ligava muito.
Ela me ensinava a não ser tão avoado. E eu estava precisando disso mais do que nunca.
- Bem, eu não sei fazer essa questão. - Falei por fim. - Próxima...
Minha forma de estudo não era necessariamente correta, mas funcionava na maioria das vezes. Eu já não era muito bom em física, então eu simplesmente não insistia. Ponto final. Agora literatura era o meu pior demônio. Eu nunca vou cansar de dizer como eu odeio literatura. Vai estar escrito na minha lápide ''aqui jaz um ser que odiava literatura''.
Meu celular começou a tocar.
- Fala.
- Já de pé? - Matt pareceu se surpreender.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Young
Teen FictionSamantha não abre mão de seu programa favorito do final de semana por nada. Livros, um cobertor bem quentinho, uma música qualquer tocando em sua playlist e uma caneca de chocolate quente ao seu lado. Extremamente calculista, Sam possui sua vida pla...