VERSOS E CIGARROS

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Mancha a vida, ó verso,
com liberdade e graça;
mancha o pulmão, ó cigarro,
com amores de verão
e infinitos de fumaça!
Assim a vida passa,
e a gente embarca:
os que fazem versos
e os que fazem fumaça...

Todos irão!
Têm hora marcada,
e não se sabe qual,
mesmo assim ninguém se atrasa.

Há os que fazem os dois,
e depois todos se vão
feito fumaça de cigarro,
como um verso de oração.
A vida acaba pra todos,
mas sempre há algo que fica,
alguma lição por palavras
não ditas...

Pois mesmo sem serem ditas,
podem chegar à uma mente,
a do fumante dos versos,
a do poeta fumaceiro,
ou talvez somente
a de gente como a gente!

Versos e cigarros:
um tema propício
tanto ao verso
quanto ao vício...
talvez de soprar poesia
como se sopra fumaça.

A. Andrade

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