0.5 prólogo

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 O Livro dos Rótulos

Setembro não era apenas um mês, no Colégio Cardinal ele é uma tradição.

Todos os anos, três meses antes da formatura, 15 exemplares de um livro chamado Livro dos Rótulos simplesmente apareciam pelo colégio. Uma espécie de anuário, que contém o maior feito dos formandos.

Boatos, fofocas, histórias não-confirmadas, era disso que o livro sobrevivia, mas para quem o lê, as fontes das notícias não são importantes. Ao ser exposta, ela automaticamente se torna uma verdade incontestável.

Durante os quatro anos de tradição, as paredes do Cardinal viram reputações serem destruídas por causa desse livro, relacionamentos terem um fim, longas amizades acabarem e até mesmo vidas serem tiradas. A diretoria não se manteve cega a esses acontecimentos, todo ano eles tentam evitar a publicação, diminuir os danos e punir os culpados.

Todos os anos eles falham vergonhosamente. O melhor que podiam fazer era manter o assunto restrito aos muros do colégio.

A verdade é que ninguém faz a menor ideia de quem escreve o anuário. Com o passar dos anos, suposições foram criadas. Eles sabiam que não tinham sido escritos pela mesma pessoa, pela variação de linguagem e forma de escrita. Muito provavelmente não eram escritos por uma pessoa só ─ um conjunto de três ou quatro, talvez, entre homens e mulheres. Uma das mais fortes teorias é que a responsabilidade de escrever o livro é passada de geração a geração entre os formandos e, de alguma forma, as pessoas concordavam em continuar.

Nas últimas edições, um grupo de alunos tentou descobrir por conta própria quem tinha publicado o anuário. Seguindo a teoria, eles encontraram as quatro pessoas no livro cujas palavras eram bastante leves, mas não existiam provas e a investigação não deu em nada.

Alguns alunos simplesmente não ligam, desmentem as histórias falsas, explicam as meias verdades e continuam suas vidas, afinal, em menos de três meses eles estariam formados. Mas, para outros, as consequências do livro duram por muito tempo.

Apesar do medo que rondava os corredores do Cardinal, a maioria dos alunos estavam ansiosos. Já era a segunda metade de setembro e o livro ainda não tinha sido publicado. Esse era o maior assunto do colégio e as suposições de quais histórias seriam escolhidas eram muitas.

Quando o Livro dos Rótulos finalmente fora publicado, na última sexta-feira do mês, quando muitos acreditavam que essa tradição estava acabada, os efeitos logo começaram a serem sentidos.

Ainda na primeira aula do dia, poucos minutos depois do sinal tocar, alguns e-mails e notificações começaram a se espalhar pelos celulares do Cardinal ─ dessa vez, o anuário era online. Os alunos não paravam de compartilhar o link, tornando-o viral em questão de minutos. A diretoria fez o seu melhor para tirar o site do ar e conseguiram menos de uma hora depois, mas não rápido o bastante. As prints já tinham se espalhado pelo Facebook, Twitter e diversos stories, e até o fim da segunda aula, cada aluno do colégio já tinha tido pelo menos uma prévia do que estava no anuário.

(in)rotuladosOnde histórias criam vida. Descubra agora