07. úrsula

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07. úrsula

Sexta-feira, 28 de Setembro  

Úrsula colocou a língua para fora e levantou um pouco o rosto, numa tentativa de mostrar todo o espaço disponível dentro de sua boca, confirmando que pequeno comprimido branco realmente havia sido engolido. Esperou até que seu irmão assentiu para dar um leve sorriso e levar suas mãos até a tranca do cinto de segurança, soltando-o numa lentidão irritante. Diferente do que poderiam pensar, seu ato não tinha nada a ver com birra ou chantagem emocional para não sair do carro, menos ainda numa tentativa de se vingar por ter sido obrigada a tomar o remédio. É verdade que ela não queria ter que ir para a aula, mas no fundo ela até entendia porque Heitor queria que ela fosse. E bem lá no fundo, ela se sentia grata por isso.

Na verdade, toda essa lentidão era calculada. Por dentro, Úrsula estava prestes a sair correndo dali. Faltavam poucos minutos para que o sinal batesse e a primeira aula começasse, mas não tinha nada a ver com isso. Contando os segundos em silêncio, ela fez cada um de seus movimentos no tempo estimado.

─ Você quer que eu fique até o sinal bater? ─ Heitor perguntou, mas recebeu um pequeno gesto em negativo da irmã.

Os dois sabiam que ele já estava atrasado para o trabalho e ela sabia que mesmo que a pergunta fosse verdadeira e sem segundas intenções, Heitor acabaria se culpando depois, achando que poderia ter soado como uma expulsão.

Finalmente, a loira pegou sua mochila que estava jogada pelo chão e desdobrou as pernas que estavam cruzadas sobre o banco e forçando novamente um pequeno sorriso para o homem ao seu lado, saiu do carro. Atravessar a rua, subir as escadas que davam acesso ao colégio e passar pelo portão levavam poucos minutos e somente alguns metros. Assim que passou pelas grades, ela se virou e deu um tchauzinho na direção do carro que continuava ali, mais na intenção de saber se ele continuava a observando do que numa vontade de realmente se despedir. Respirando fundo, Úrsula se encaminhou para dentro da construção de três andares.

Foi direto para o banheiro feminino, que por sorte estava vazio. Escolheu a cabine mais afastada e entrou, deixando a mochila no chão e se ajoelhando perto da privada. Levou o dedo indicador e o médio até a boca, não demorou muito para que sua barriga se revirasse e gosto de bile subisse pela boca, juntamente com todo o conteúdo de seu estômago. Apenas para se certificar que não havia sobrado absolutamente nada, levou os dedos de volta até a garganta. Depois de dar descarga, ela lavou as mãos, o rosto e saiu do banheiro.

Úrsula tinha aula de filosofia no terceiro andar, mas não subiu as escadas na intenção de ir para sua sala. Caminhava devagar, desviando dos corpos adolescentes que insistiam em correr, tremia um pouco e seu estômago ainda não estava confortável. Subia degrau por degrau com cuidado, sem pressa. Assim que chegou no corredor, o sinal bateu. O momento era perfeito, os outros alunos estariam ocupados demais correndo para suas salas e os inspetores se ocupariam em separar os casais que se despediam. Ninguém prestaria a atenção nela.

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