Quando acordei ainda era noite, abri os olhos meio lerdo para olhar aquele céu incrível e estrelado, como nunca tinha feito e de uma forma que não pensei que fosse humanamente possível, as estrelas me pareciam mais convidativas, estavam maiores aos meus olhos, mais brilhantes. Não sabia se tinham se passado horas ou minutos, mas de alguma forma estava mais calmo, minha sede estava mais contida, mais ainda presente. Levantei-me um pouco tonto, vi-me a alguns metros de onde recordava, estava próximo ás lenhas e cão havia fugido de mim novamente. Caminhei um pouco tonto rumo a casa. Ainda arrisquei um olá, mas provavelmente não havia ninguém. Pude ser mais atento aos detalhes que não observei mais cedo. Havia poucos moveis no pequeno cômodo, que servia de sala de jantar e de visitas. Sobre a mesa rustica sem acabamento, um prato limpo esmaltado e lascado, próximo a esta, somente uma cadeira de acabamento similar, que dividiam a sala com um sofá duro e pequeno de dois acentos, um rádio velho sobre uma prateleira também inacabada, e um quadro sustentado por um prego em uma cordinha, que dizia uma passagem bíblica. Pela janela aberta pude ter visão do poço. Qualquer um poderia ter me acertado um tiro daqui.
Avencei para mais um cômodo, que era feito de cozinha, ali havia, mais uma pequena mesa, mas esta um pouco mais rudimentar. Um banco de madeira no canto. Uma pia sob uma janela grande e fechada. Um pequeno fogão de ferro á brasa, sujo e entirnado. Um filtro de barro que fui averiguar. Apanhei uma caneca descascada suja de café e cheia de formigas atraídas pelo açúcar, a sacudi verificando se não tinha ficado nenhuma. Vendo que restara uma, a tirei cuidadosamente com o dedo, pois se debatia tentando soltar-se, não queria esmaga-la e deixar seu amargor na água. Pude encher a caneca, mas assim que a aproximei do nariz, meu estômago se contorceu novamente me fazendo pensar duas vezes. Raios! Larguei-a ao lado do filtro, sobre um balcão que servia a pia. Não havia iluminação na casa, somente a luz da lua cheia que entrava pelas frestas das tábuas.
Abandonei a cozinha, prosseguido minha pequena excursão. Passei novamente pela sala notando um pequeno corredor que levava a duas portas, sua entrada era adornada por uma cortina de contas e miçangas, talvez uma mulher morasse aqui. Abri a porta da direita e me deparei com um sanitário, nem tão imundo, mas nem tão limpo, oque descartou-me a probabilidade da presença feminina. O corredor terminava em um armário colonial, usado para armazenar toalhas e lençóis limpos, que notei por sua vidraçaria. O móvel de madeira rubra se destoava, por seu requinte para o ambiente. Fui à porta um pouco mais adiante à esquerda e desta vez, se tratava de um dormitório. Tinha uma cama de casal antiga de madeira pesada, com lenções brancos encardidos revirados. O cheiro forte de suor estava impregnado naquele cômodo. Também havia um criado mudo de cada lado da cama, cada um com um abajur e no móvel à direita, uma bíblia e um copo d'água. Aproximei-me do copo onde a água parecia mais limpa e a cheirei, bi biquei sedento, mas o estomago ainda recusava o liquido, o devolvi ao mesmo lugar. Não compreendia minha sede. Sobre o criado mudo ainda havia uma vela gasta sobre um pires, fumaçava me fazendo deduzir que a casa não era abandonada. Ouvi um tiro ao longe e fiquei olhando em sua direção pela janela. Quando avistei um homem de idade que caminhava apressado e com muita dificuldade rumo a casa, parecia sentir dor, parecia ferido, ele não me viu, estava mais preocupado em estancar o sangue que vazava pelas costelas sujando a camisa bege encardida, cambaleou até cair nas proximidades da casa. Logicamente corri em seu auxilio. Mas o velho era tinhoso e mesmo beirando a morte ergueu sua espingarda para mim, parei próximo onde estava com as mãos erguidas observei–o me olhar assustado e arisco, até perder a consciência.
O arrastei sem muitas dificuldades apesar de ser pesado e um pouco obeso. O sentei naquele pequeno sofá empoeirado e tomei o cuidado de esconder sua espingarda, para evitar maiores danos, confesso que me senti estranho sentindo o cheiro de seu sangue, meu estomago fez ruídos e começou a doer novamente, mas nada que não pude relevar. Ouvi sons de vozes se aproximando e tive de encontrar uma solução rápido, o velho tinha acordado e parecia assustado com minha presença. Ameaçou gritar, mas eu logo tampei sua boca, fazendo sinal para que não o fizesse, demorou um pouco até que ele compreendesse e ouvisse homens se aproximando. Compreendi que aqueles homens o tinham atacado, ouvi as vozes se aproximando cada vez mais. O velho parecia assustado, não sabia quem o assustava mais, se era eu ou os outros lá fora. Mas ele não tinha opção naquele momento e nem eu. Pois se fizeram isso com ele, oque poderiam fazer com um estranho no meu estado.
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O Estranho
VampireImagine despertar sem memória em um deserto seco e de sol escaldante, em condições mínimas de sobrevivência. Beirando a insanidade e a morte, a única lembrança certa é o pior dos sentimentos, o ódio. Um estranho chega a uma pequena cidade congelada...