Cap. 5 (Estranho)

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Ainda era fim de tarde, o céu queimava  nos tons laranjados do sol. Creio que naquele momento eu era um puro animal. Não tinha ganância, não tinha objetivo, mas não me sentia vazio de forma alguma. Toda aquela raiva e sede me preenchiam sem deixar espaço para mais nada. Pura e genuina natureza. Eu era literalmente livre. Tudo me encantava, tudo era curioso, a forma que o mundo se  mostrava para mim, era algo magnifico. Os aromas, as cores, os sons. Era tudo tão vivo e intenso.
Caminhava as margens de um pequeno rio observando os peixes curiosos em suas profundezas cristalinas, quando a ouvi.

—Rosa! Rosa!

Você talvez pense o pior de mim. Que sou um egoista, um homem ruim. Talvez no fundo eu fosse ou seja. Mas a primeira coisa que fiz foi tentar me esconder. Eu sei! É uma atitude lástimavel. Mas veja tudo o que  me passou por tentar ajudar aquele velho macumbeiro. Fui cacetado, fui amarrado e levei um tiro. Isso em poucas horas de vida. Diga lá se ainda não me jogara uma praga. Eu sabia que se eu atendesse aqueles apelos desesperados eu teria problemas. Mas aquela voz... Aquela voz... Invadiu o canto mais oculto de meu ser. Eu queria, eu nescessitava saber de quem era aquela voz. Não havia nada, nem uma moita, nem uma pedra grande, nem uma planta que me servisse de esconderijo nas proximidades. Olhei na direção do outro lado do rio e vi entre o capim um movimento estranho e veloz. E três minutos depois a vi. Aquela menina de cabelos trançados e  sardas . Era ela, a dona da voz.

Nossos olhos se encontraram e perdi completamente a ação, minhas barreiras baixaram, meus instintos se acalmaram, nenhuma palavra foi dita, aqueles pequenos olhos azuis prenetrantes alcançaram o canto mais obscuro de meu ser. Lágrimas desciam por seu rosto transtornado e apavorado, me pedindo silenciosamente por socorro. E eu soube naquele instante. Eu precisava salva—la, por ela, por mim, não sei... Era algo maior do que eu e meus conflitos de existência, eu sentia. Corri o mais rápido que pude e um pouco mais, calculei o provável trajeto que a criatura tomaria, mais a frente encontrei um tronco fino que servia como travessia para o outro lado. A todo momento me perguntava o  porque de isso me importar, a voz na minha cabeça dizia: —Não seja tolo, não é problema seu. Lembra–te do velho.  — Mas aos poucos esses pensamentos foram perdendo espaço para uma nescessidade que crescia em meu peito.

Meu sangue esquentava, minhas veias dilatavam para não romper devido ao elevado fluxo, ouvia nitidamente as batidas aceleradas do meu coração, havia algo em mim lutando para ser liberto, eu era instinto puro. Os interceptei um pouco mais a frente, me atirando como um kamikazi. Eu já não pensava mais, estava entregue a toda aquela coisa em mim e isso me fazia extremamente bem. Quanto a criatura, não sabia oque era aquilo, ou talvez soubesse e só relutasse em admitir. Era um homem... Ou algo que um dia fora um. Uma criatura magra, desnutrida, imunda, de olhos fundos e  pequenos, boca anormalmente grande, dentes protuberantes que mal se omitiam em seus labios finos e ressecados. Caímos os três, devido a velocidade rolamos algumas vezes pelo chão.

Até hoje fico embasbacado, que força tinha aquela critura. Ele não a soltava por nada, não importava quantas vezes o acertasse. A pobre moça fora sacudida de um lado a outro como um trapo velho, por algumas vezs nossos golpes lhe passaram à pouco. Aquela não era uma briga justa, ele a segurava como se lhe pertencesse, era sua posse, seu único objetivo era ela, tentava afasta—la de meu alcance a qualquer custo, como uma onça defendendo sua presa de um invasor. Ele estufou o peito, desenrolando sua corcunda para se mostrar um homem consideravelmente mais alto que eu, creio que fora uma tentativa de intimidação, mas isso ao contrário despertava um sentimento estranho em mim. Uma nescessidade de enfrenta–lo e subjulga–lo. Uma nescessidade de tomar oque ele julgava seu. Eu precisava... Eu queria. Avancei diante de sua afronta.  A primeira vista me pareceu ter sus 1,90 de altura, seu corpo so era coberto por algo que um dia fora uma calça. Em sua pele haviam necroses podres, o odor ainda mais notavel, era de causar engulhos.

Seus movimentos eram extremamente rápidos para alguém tão desnutrido.  O golpeei na cara tão forte que som da colisão era audivel, dexando-o tonto e irritado desequilibrou-se mas bao chegara a  cair me mostrava as presas como um cachorro bravo avisando-me para não tentar, claro que isso de alguma forma aumentava minha excitação. Avancei sem lhe dar espaço ou chances de se preparar, nos golpeamos mais algumas vezes, acertei sua cara dura e ossuda, ele rasgou meu ombro com suas unhas enormes. Agarrei seu braço em uma nescessidade animal de arranca–lo, eu sabia que poderia faze–lo, ele me jogou com um empurrão, em meio à nosso confronto para minha surpresa a dita Rosa sacou um canivete de seu decote e o fincou sem piedade em seu braço, o distraindo para mim por um minuto delicioso de ira. Liberta de seu agarre ela engatinhou para longe, porém a criatura estava de fato obcecada por ela, tentei guiar nossa peleja para longe mas era algo impossivel. Nos golpeamos mais, a critura cansada de dividir sua atenção entre sua presa e seu oponente, a golpeou na tempora na tentativa de desmaia–la para que não fugisse.

Agora eramos so nos dois, sem distração, sem impecilios, isso... Isso era oque eu realmente queria. Minha pele queimava, eu queria vencê–lo. O desgaraçado me acertou um golpe certeiro na tempora, e cai zonzo para logo depois apagar.

Recordo–me de despertar sobre os joelhos e aquela maldita sensação de ausência novamente, de não pertencer à meu proprio corpo. Aos poucos meus sentidos ficavam mais claros, sentia aqueles pequenos ombros entre minhas mãos, minha visão aos poucos ganhava nitidez e deparei–me com o rosto temeroso de Ana, seus olhos lacrimejavam e seus lábios tremiam. Estava confuso, não estávamos no mesmo lugar de outrora, não havia sinal da criatura e tão pouco da moça.

–—Desculpe... (Demorei algins segundos para ver que a apertava e solta–la). Desculpe, desculpe... Oque aconteceu? (Ana me deu espaço). Onde está a criatura? E quanto a moça?
Levei as mãos à cabeça confusão e dor se misturavam.

—Ele já foi embora. Tá tudo bem agora.

—Não... Não é seguro aqui. Va embora.

Eu o sentia pelas proximidades, sentia o cheiro de perigo, de medo, de furia, de fome.

—O homem de baixo da terra? É diabo ou anjo?

—Oque?... (Voltei–me intrigado)... Oque você disse?... (aproximei–me dois passos)Repita!(Avancei selvagem) Repita!

Mas antes que pudesse alcança–la, fui golpeado brucamente na cabeça e desmaiei. Aquelas palavras me perseguiriam eternemente.

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⏰ Última atualização: Nov 19, 2018 ⏰

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