Capítulo 5

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Mais um capítulo, amores. Não se esqueçam das estrelinhas :)

***

A segunda, para muitas pessoas, é o pior dia da semana, não apenas por ser o primeiro dia de trabalho, e sim porque ela representa o recomeço de tudo que fizemos na semana anterior. Mas, para mim, ela é o melhor dia de todos. A segunda é o dia mais distante do fim de semana, quando sou obrigada a passar vinte e quatro horas ininterruptas ao lado de Rafael.

Não deveria ser assim, eu deveria ser apenas uma pessoa normal que aproveita o fim de semana, e ao fim do domingo queria apenas tomar um bom vinho enquanto rezo silenciosamente para que o próximo chegue antes que eu me dê conta. Mas não é assim, nunca será.

— A patricinha vai vir para cá hoje. — Raquel diz. Ela sempre fala mal de Maris Ísis.

Na minha opinião, isso não é apenas falta de profissionalismo, é também falta de caráter. Ísis é uma maravilhosa patroa, e graças a ela hoje posso ter alguns momentos de liberdade. Nunca me esquecerei do dia em que apareci na loja.

Era uma terça, o sol brilhava com força no céu enquanto eu andava sem parar por entre as lojas do Centro Comercial. Naquele dia, a cotas de rejeição já haviam ultrapassado minha paciência.

Não fora fácil convencer Rafael a me deixar trabalhar, ele sempre achou que lugar de mulher é dentro de casa, e só mudou o pensamento quando percebeu que estava difícil pagar as contas de casa sozinho. É claro que ele deixara bem claro que o dinheiro iria todo para sua mão, mas eu não importava, só queria poder passar algum tempo fora de casa e fingir ser uma pessoa normal.

Algumas lojas já estavam quase fechando, outras permaneciam abertas e pareciam não querer descer as portas tão cedo, dessa forma, poderiam aproveitar o grande fluxo de adolescentes que lotava a praça de alimentação do Centro Comercial pela noite.

Uma loja com a fachada sofisticada e imponente chamou minha atenção assim que cheguei ali, mas evitei ao máximo me forçar a tentar algo no local. Para mim, era bem lógico que nunca aceitariam uma pessoa como eu.

Estava tarde, e eu não havia conseguido nada. Rafael nunca fora o rei da paciência, e provavelmente mudaria de ideia se eu chegasse em casa sem um emprego. Com isso em mente, passei minhas mãos por meu jeans velho e desbotado, e olhei novamente para o espelho tentando melhorar meu semblante. Mas era tolice! Meu marido não me dava dinheiro para comprar roupas, as poucas que eu tinha eram restos de Sophia, e aquela maravilhosa fachada gritava que nunca contratariam alguém que se vestisse como eu. Pensei em desistir, mas apesar de já saber a resposta, precisava tentar.

— Boa tarde. Estão contratando?

Uma maravilhosa ruiva, que mais tarde descobri se chamar Raquel, me examinou da cabeça aos pés com o olhar repulsivo.

— Sim. Mas creio que não seja uma vaga apropriada para você. — suas palavras deslizavam de forma cruel por seus lábios.

Não revidei. Depois de anos de humilhações, eu sabia muito bem a hora de me retirar de um local em silêncio.

— Você ficou louca, Raquel? — uma voz suave e decidida soou forte atrás de mim.

Eu estava de costas, pronta para sair daquele local, mas parei de andar quando uma mão tocou de leve meu ombro esquerdo.

— Venha até minha sala, querida.

A segui em silêncio, enquanto o murmurinho na frente da loja nos acompanhava.

Tudo de nós (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora