Capítulo 7: O tigre e o pinguim

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Quase duas semanas haviam se passado desde que Haru e Yoshiro embarcaram para a China, e Mina recebeu a carta enviada pelo seu noivo.

"Mina, meu amor.

Como você está? Eu estou bem, mas morrendo de saudades de casa, de você, dos meus pais. Já estou contando os dias para voltar para o Japão.

Aqui está tudo muito calmo. Os chineses estão acuados, nos obedecem e criam poucos problemas. Seu pai também está sendo muito bom comigo. Ele é paciente, me explica as coisas com calma, e tem sido um grande mestre. Ele é realmente um homem exemplar.

Todas as noites quando me deito para dormir, penso muito em você. Sinto falta dos seus beijos e de passar as tardes com você. Esse tempo será mais longo do que imaginei.

Se cuide sempre. Sei que está treinando para a sua grande apresentação, e quero que saiba que eu estou muito orgulhoso de você. Você é uma dançarina muito talentosa, e eu tenho certeza que irá fazer uma apresentação divina, e mesmo que eu não possa te ver, estarei aí, em pensamento, torcendo muito pelo seu sucesso.

Te amo.

Para sempre seu,

Yoshiro."

Assim que terminou de ler a carta do noivo, Mina enxugou as lágrimas que começaram a rolar por seu rosto. Ela sentia muita falta do rapaz também, e pensava nele constantemente. Dois anos era tanto tempo.

Ela colocou a carta de volta em seu envelope e a guardou em uma das gavetas de seu criado-mudo ao lado de sua cama. Mais tarde escreveria uma resposta.

Dentro dessa gaveta, no entanto, ela encontrou uma de suas mais antigas e queridas lembranças: um origami em formato de pinguim.

Aquele era o último presente que Naomi, sua falecida avó paterna, havia lhe dado.

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Japão, 1927

Uma senhora magra, alta e de cabelos brancos estava sentada em sua cama, fazendo bichinhos de origami.

Quando Naomi era jovem, seu marido Ieji ficou muito doente e após algum tempo veio a falecer. Sem muito o que fazer, ela acabou tendo dificuldades para criar seu filho Haru. O dinheiro que ela conseguia trabalhando como empregada doméstica mal dava para comprar comida, muito menos brinquedos para o seu filho, e então, sem outras opções, ela acabou aprendendo a fazer origamis com papéis velhos da casa de seus patrões para que Haru pudesse brincar. O menino adorava todos aqueles animaizinhos, inclusive dava nome para cada um deles e passava horas brincando, mas os seus favoritos eram os pinguins.

Além dos origamis, Haru criava uma gatinha tricolor, que ele deu o nome de Asami. Asami e os origamis ajudavam Naomi a distrair Haru da situação que eles se encontravam.

Os anos se passaram, Haru cresceu, Asami se foi e Naomi adoeceu.

Ela tinha muito orgulho de seu filho, apesar de suas escolhas na vida. Naomi gostaria que Haru tivesse seguido a vida trabalhando em alguma fábrica, mesmo que fosse para ter um salário menor. A vida de militar lhe trazia preocupação, pois toda vez que ele partia, ela não sabia se o veria novamente, mas ele era um rapaz teimoso e assim fez sua vida. Se casou com uma moça bonita, como sempre quis, e teve uma filha ainda mais linda.

Quando Haru soube da gravidez de Kimi ficou em êxtase, e a primeira coisa que ele fez foi comprar um pinguim de pelúcia para presentear seu filho ainda por nascer. Não importava se viria menina ou menino, a pelúcia de pinguim era seu sonho de infância, e como ele nunca pôde ter, fez questão que seu filho tivesse.

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