Por Carla Teles Gouvea

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Tudo começou com a descoberta da nossa gravidez (8 semanas).
Com toda nossa inexperiência, falta de informação e valores trocados, meu marido e eu fomos em busca de um obstetra que pudesse nos acompanhar durante nossa gestação. 

Para nós a cesárea era o "normal" e usual, mas senti que alguma coisa estava errada nessa história quando, na primeira consulta com o obstetra, nos foi passado o valor total do parto cesárea, contemplando anestesista, pediatra neonatal e instrumentador. Em casa fiquei me questionando por dias e dias se realmente esse era o procedimento correto, apesar de usual.

Depois de quase dois meses, decidi procurar uma segunda opinião e encontrei uma obstetra perfeita,
(pelo menos na minha cabeça),
senhora idosa,
com experiência de mais de 50 anos de partos,
enfim muito fofa e disposta a me proporcionar o parto normal.
Durante toda a gestação fui bem clara sobre o meu desejo do parto normal Meu corpo e meu bebê pediam isso! 

Comecei a pesquisar MUITO sobre o assunto e buscar esclarecimentos. Como pode o ato de parir ter se tornado tão distante???
E minha decisão foi ficando cada vez mais concreta. 

Durante as últimas consultas com minha simpática obstetra,
fui começando a abrir os olhos para os empecilhos que ela estava colocando:
eu estava com 36 semanas e meu bebê estava ENORME,
com 3,100 kg,
tinha a possibilidade de o cordão enrolar no pescoço dele,
tinha a possibilidade de não ter passagem na hora do meu parto Como assim??
Depois de tudo que pesquisei, de todos os relatos de parto humanizado/domiciliar que li

Bom,
para confirmar minhas dúvidas, minha obstetra fofinha me deu alta do pré-natal com 36 semanas de gestação e disse para aguardar apenas as contrações e seguir para maternidade quando fosse minha hora.
E ela havia deixado bem claro que, além das possibilidades acima citadas, se meu trabalho de parto ultrapassasse 12 horas,
partiríamos para cesariana. 

Ok, ok, ok, pois eu estava decidida a ficar em casa até o meu limite e alertar minha obstetra fofa na
"hora certa" para não ultrapassar o limite de 12 horas e meu bebê não "entrar em sofrimento". 

Segundo minha obstetra eu poderia ficar bem tranquila porque no dia do meu parto normal ela estaria presente junto com TODA a equipe
(anestesista, pediatra e instrumentador).
Todo o circo estaria armado,
até porque a episiotomia seria realizada para que eu não sofresse tanto!
Ficar tranquila
Como assim?
Para que eu precisaria de episiotomia?
Para que anestesista?
Eu quero meu parto normal e humanizado!! 

Entrei em licença médica e fiquei em casa aguardando minha hora chegar para me dirigir à maternidade indicada pela minha obstetra (maternidade particular),
com incidência de parto cesárea de mais de 95%! 

Quando entrei na semana 38 de gestação,
fui me vendo extremamente estressada e meu marido sugeriu que procurássemos uma doula para nos orientar,
já que estávamos de alta da obstetra. Pesquisei na internet e questionei algumas doulas,
e por intuição,
afinidade,
confiança,
sorte,
destino,
acabamos encontrando nossa querida e genial doula. 

Ela também se assustou com as informações que passei a ela,
e chegamos à conclusão de que deveríamos repensar meu parto
(com 38 semanas).
Foi então que ela me falou de uma maternidade nova que poderia nos atender e nos proporcionar um parto normal/humanizado digno. 

Meu marido e eu fomos visitar a referida maternidade.
Chegando lá,
fomos atendidos por uma gentil assistente social e,
em seguida,
pela enfermeira obstétrica diarista. Elas foram geniais no meu acolhimento,
nos recebendo com carinho e,
no mesmo dia,
nos colocaram para assistir à palestra que a maternidade oferecia a quem realizava o pré-natal lá.
Pronto, decidimos:
"Nosso parto humanizado será aqui!".
 
Observação: Abdicamos de utilizar nosso plano de saúde e optamos por uma linda e preciosa maternidade da rede municipal do SUS! 

Apesar de todas as minhas confirmações e certezas,
resolvi entrar em contato com minha obstetra fofinha quando estava com 39 semanas.
Estava com dúvidas,
sem respaldo,
me sentindo abandonada por ela. Liguei para agendar a consulta e --surpresa! -- me atendeu a instrumentadora
(com quem eu nunca havia conversado e nem conhecia),
me dizendo que eu havia faltado no dia da minha cesárea que estava agendada para o sábado anterior. 

Como assim!?
Marcaram minha cesárea com 39 semanas de gestação?
E eu não fui informada?
Graças a Deus houve falta de comunicação e eu não fiquei sabendo. Estava decidido: Eu não quero mais a obstetra fofinha.
Quero parir meu filho no SUS! 

Completei 39 semanas e 6 dias começando com pequenas cólicas pela manhã.
Fui informando a doula sobre a evolução durante o dia todo.
No final do mesmo dia,
percebendo que eu já estava entrando nas minhas tão desejadas "dores",
meu marido pediu à doula para vir para nossa casa nos acompanhar durante as contrações.
Ficamos os três em casa cronometrando contrações irregulares.
Caminha,
senta,
levanta,
senta na bola,
vai para chuveiro quente,
descansa,
caminha
Ufa! 

As contrações começaram a ritmar e, quando estavam de dois em dois minutos (viva!),
decidimos ir para a "nossa" maternidade (4h da manhã). 

Chegamos lá na troca do plantão (pouco antes das 7h),
marido, doula e eu.
Fomos acolhidos na emergência às 7h pelas técnicas de enfermagem, enfermeiras e obstetras humanizadas do plantão,
que nos tranquilizaram ouvindo o coração do nosso esperado bebezinho e verificando minha dilatação
(que continuava evoluindo),
até que,
graças a Deus,
decidiram me internar e me encaminharam para MINHA suíte. 

Em nossa suíte (maravilhosa) nos foi apresentada a equipe de plantão,
que nos acompanharia durante todo o trabalho de parto e durante o parto (claro),
isso se acontecesse até às 19h
(quando haveria troca do plantão). Gente, vou culpar as dores por não ter grandes lembranças de todo o processo de trabalho de parto,
mas lembro de toda dedicação, atenção,
carinho,
respeito e amor ao trabalho que eu e minha família recebemos de todos. 

Eu estava com dores e com 8 cm de dilatação por volta das 19h,
quando aconteceu a troca do plantão. Que medo!
Estava perdendo a equipe pela qual havia me apaixonado e confiava por inteiro,
e estava sendo entregue para uma equipe desconhecida! 

Mas Deus é maravilhoso!!!
Eu já estava entrando na "partolândia",
no meu mundo,
no mundo do meu bebezinho,
mas posso falar com propriedade que a equipe que assumiu o plantão das 19h foi tão impecável quanto a equipe anterior
Humanizada,
amorosa,
cuidadosa,
respeitosa.
As duas obstetras foram dois anjos colocados por Deus em nossas vidas, não desmerecendo o restante da equipe maravilhosa. 

"Minhas" obstetras nunca serão esquecidas e sempre serão lembradas ao meu bebezinho (Mauricio),
que nasceu de exatas 40 semanas,
às 23h39, apgar 9-10, 3,720 kg e 51 cm. 

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