Capítulo IV

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- Para! - digo colocando as mãos nos meus ouvidos afim de impedir que qualquer som chegue neles - Não quero pensar isso. Não posso sentir isso. Não quero pensar isso. Não posso sentir isso. Eu sou uma boa pessoa, mesmo ninguém acreditando... eu sou uma boa pessoa.


Repito isso inúmeras vezes enquanto tento esquecer as dores nas costas, as mesmas que ardem como fogo quando a fraca água quente escorre lentamente pelos meus ferimentos. Assim, no momento que ela é engolida pego ralo, pode ver que leva vestígios do meu sangue junto.


Levanto a cabeça sem pressa e na mesma velocidade, passo o olhar por todo ambiente, confirmando que estou completamente sozinha no enorme banheiro. Com apenas o som da minha ducha ligada propagando, deixo escapar um abafado e agonizante choro ao mesmo tempo em que meu corpo vagarosamente agacha até o chão.


- Eu não estou aguentando mais - digo baixo, fazendo com que minhas lágrimas caem - Eu só quero que tudo isso acabe...


Num piscar de olhos, as duas únicas janelas se fecham num rápido e estrondoso movimento, me fazendo parar de chorar com o susto. Levando correndo e enrolo meu corpo pálido e magro na primeira toalha que encontro. Minha respiração ainda está ofegante, mas tudo piora quando as lâmpadas estouram de uma vez só, enchendo o chão de vidros.


Meu grito ecoa pelo banheiro de maneira frenética. Sendo que agora estou sozinha na penumbra e quanto mais eu pisco maior se torna a densidade da escuridão.


Nunca mais repita essas palavras! Não crio fracos. Não dou vida para fraqueza. Jamais repita essas palavras!


A voz infernal e sobrenatural invade minha mente, junto desfruto de um frio descomunal que me abraça sem piedade. Posso ver, sem nenhuma dificuldade o tamanho da ira que a voz transmite. Olho para os lados com desejo de finalmente saber a origem desse som satânico, porém tudo que meus olhos conseguem enxergar é o vazio do breu.


Você não fraca. Porque eu não te fiz fraca!


A voz faz com que meus ouvidos comecem a doer como se cada palavra fosse uma lâmina afiada.


- Quem é que está falando? - grito, olhando feito louca para todos os lados - Do que você está falando? Por que não me mostra quem você é?


Você ainda não percebeu quem eu sou... E o pior de tudo, ainda não percebeu quem você é?


Sem que eu possa falar mais uma palavra, uma risada áspera e sussurrada enlouquece minha mente. Tento tampar os ouvidos, mas de nada adianta. Tudo o que eu tento fazer para impedir essa tortura apenas piora.


No entanto, quando a freira Piedade entra às pressas no banheiro, simplesmente tudo volta ficar num irritante silêncio, até janelas se abrem novamente.


- Menina... o que você pensa que está fazendo? - diz desesperada, enquanto corre ao meu encontro.


- Eu não sei Irmã... - respondo olhando para ela com olhos de choro - Eu sinceramente não entendo o que está acontecendo.


- Calma Cinzia... Calma - diz se aproximando com jeito e delicadeza - Eu já falei que a Irmã Lucy está indo longe demais, onde já se viu fazer isso com vocês - seus olhos se dedicam em observar minhas costas com tristeza, porque a toalha branca já está se encontra com vestígios de sangue.


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⏰ Última atualização: Nov 27, 2020 ⏰

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