Capítulo III

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Paro de reviver o pesadelo no momento em que a voz doce e calma da moça, a qual veio nos visitar, chegam em meus ouvidos. Olho para ela e fico em estado de paz instantaneamente, exterminando toda escuridão da minha alma apenas com seu sorriso angelical.


- Olá meninas - diz com sorrisos tímidos - Eu sou a Kailan, mas por favor, me chamem apenas de Kai - seus risos ecoam por toda sala, os mesmos que contagiam todos em questão de segundos.


- E eu sou o Pedro - anuncia o marido de Kai, com uma voz firme, porém amigável - E já vou dizendo que eu fiquei sabendo que toda quarta-feira vocês fazem a cabana da "Terra Era Uma Vez" e claro que não vou embora sem contar a minha história para vocês - termina olhando cada uma de nós com atenção, enquanto esboça alegria em seu rosto.


- Aaaah!! Quero deixar claro que eu também quero contar minha história!! - diz rapidamente Kai, erguendo a mão em pedindo de atenção.


Como se todas as meninas compartilhassem pensamentos por telepatia, uma onda de gritos animados se levanta em poucos segundos, fazendo com que o casal pulassem de felicidade.


- Meninas, aproveitem toda essa animação para mostrarem o orfanato para o senhor e senhora Callister - ordena a Lucy, se colocando a nossa frente com um sorriso visivelmente forçado - Aposto que a cabana "Terra Era Uma Vez" irá deixá-los de boca aberta!!!


Como se tivessem liberado o portão da boiada mirim, todas correm para agarrarem as mãos dos Callister. No sofá só permanece eu sentada, até a grandalhona da Carla sai empurrando qualquer um que entre em seu caminho para conseguir a posse de uma das mãos da Kai. Claro que a Lucy fica observando minha atitude com total reprovação, mas prefiro apenas levantar calmamente se seguir o grupo agitado pelas escadas.


- Vamos começar pelo meu quarto! - sugere uma das meninas.


É óbvio que essas poucas palavras foram apenas uma faísca para que o enxame de gritos volte a reinar no orfanato, uma vez que toda querem ser a primeira a mostrar o quarto ou até mesmo uma parede qualquer do orfanato, somente para ganhar seus tão sonhos minutos de atenção dos seus possíveis futuros pais.


- Esperem meninas - anuncia Kai, abanando as mãos para que elas ficassem quietas - Calma gente! Uma de cada vez, por favor... por que senão não vamos conseguir ouvir nem nossos próprios pensamentos!


Nem quando ela quer parecer brava ela consegue, porque rapidamente sua expressão séria se desmonta em uma gargalhada abafada pelas mãos. Com muito sacrifício conseguimos chegar no fim da escada em total silêncio, mas basta uma pergunta do casal para que a devastadora explosão de vozes infantis renasça.


- Espere um pouco... - diz Pedro ficando a frente de todos depois de dar um passo bem largo - Vocês estão muito afobadas, então respirem bem fundo e se acalmem.


Movimentando lentamente uma das mãos no ar, ele começa instruir como deve se respirar. "Cheira a florzinha", com uma puxada de ar pelo nariz ele enche os pulmões e longo em seguida, "Assopra a velinha", assim ele solta todo o ar pela boca de forma uniforme.


- De novo, cheira a florzinha... - todas puxam o ar pelo nariz, inclusivo eu já que depois disso me rendo aos encanto desse casal - Agora, assopra a velinha - como em um nado sincronizado, esvaziamos os pulmões juntas.


Pedro nos faz repetir isso algumas vezes até perceber que seu truque deu certo e que as meninas já estão mais calmas novamente. Antes de falar qualquer outra coisa, ele olha para o longo corredor com certo cuidado, como se estivesse procurando algo importante.


A filha da SombraOnde histórias criam vida. Descubra agora