Acordei com a cabeça latejando e incomodado com o chão duro. Sentei e olhei à volta, para as prateleiras de livros entre pequenas janelas. Então baixei o olhar, arregalando ao ver o meu estado. "Por que estava dormindo como vim ao mundo?"
Pedaços desconexos de memórias da noite passada, aliados o sonho pecaminoso, preencheram minha mente. Então meus olhos pousaram na coroa de margaridas despedaçadas no tapete. "Eu desonrei mesmo a princesa de Aileach?" Apavorado, alcancei minha calça e levantei de supetão, pulando enquanto vestia e catava minhas coisas, urgentemente. A porta se abriu e meu sangue gelou, deixei as coisas caírem.
— Bom dia — desejou Eileen, tão calma que girei nos calcanhares, estarrecido e seminu.
Ela pousou uma bandeja numa mesa, com um sorriso fechado, e veio andando suavemente em seu vestido esverdeado.
— Por que está tão tranquila? — inquiri, preocupado, sem me mover. — Sua mãe não vai me capar?
— Bobo, não é assim que as coisas funcionam aqui — declarou, enquanto rodeava meu pescoço e amarrava um cordão de couro — Nos unimos no sagrado Beltane, sob as bênçãos dos deuses.
— A tal coroa... E o ritual... — balbuciei, estarrecido.
Franzi o cenho para ela, que me olhava em expectativa.
— Sabe que partirei em dois dias — lembrei-a, desanimado
— Então, é melhor aproveitarmos — afirmou, beijando-me brevemente.
O que bastou para abandonar meus receios. Rodeei sua cintura, desejando que nunca fugisse de meus braços.
— Poderia ir comigo, Eileen — sugeri, num ato de loucura.
— Agradeço, Wolfgang, mas prefiro uma vida livre no campo às intempéries e perigos em alto mar — e se desvencilhou de mim como o mar bravio que recuava na praia, apenas para me acertar novamente com sua poderosa onda de paixão, ao me beijar urgentemente e escapulir para fora da biblioteca.
Eileen incendiava o meu corpo e supria a sede de conhecimento de minha mente. Senhor! Como ansiava ter a princesa irlandesa em minha cabine todas as noites. Mas tive de me contentar com os ínfimos dias que nos restavam, em que procrastinei completamente a minha missão, com a intenção de retornar em breve, para continuar a pesquisa.
Se eu conseguiria, só o tempo diria, mas desfrutei cada segundo. Não escondi o sorriso ao observar a morena acenar um adeus no cais, enquanto eu remava o pequeno bote e o colar com que ela me presenteara pendia ao lado do peito, que queimava de saudade como as fogueiras da noite de Santa Valburga.
➳ 400 Palavras
➳ Total de Palavras do Conto: 4970 ✔
➳ A tradução da música usada como inspiração pode ser encontrada aqui no link do comentário:
➳ Notas da Autora: E então, meus aventureiros e princesas, gostaram do conto? Acham que esta poderia ser apenas uma história de marinheiro? Deixem seus votos nos capítulos, agradeço imensamente quem comentar, também, adoro responder ❤
Já fazia algum tempo que eu queria escrever sobre esta celebração celta usando personagens do universo do meu livro Orgulho - Espadas & Sangue. Quem ficou interessado, a primeira parte dele está completa, é só entrar no link aqui no comentário para lê-lo, e preparem-se para surpresas, surpresas em dobro ❤
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Walpurgisnacht
Short StoryVinte e oito de abril do ano de nosso senhor de 1844. Um aventureiro desembarcava em uma missão no norte da Irlanda, em busca de livros antigos sobre o místico paraíso celta. Ele considerava a lenda uma grande falácia, mas ao meno...