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Um detetive enxerga a si mesmo em cada pessoa que deve vigiar. Às vezes, a identificação é ínfima. Outras vezes, é assustadora. O detetive, a exemplo do escritor, investiga a natureza humana. A solidão do ofício faz com que cada investigação seja um tipo de jornada de autoconhecimento.

Essas são palavras próximas às do homem sem janelas, aquele que não pode fugir de ser um homem-janela. Por muito tempo pensei em segui-lo. Eu faria como um dos personagens de seu livro A trilogia de Nova York. Numa das histórias, um escritor de romances de mistério chamado Daniel Quinn recebe uma ligação. A voz do outro lado da linha quer falar com o senhor Paul Auster, da Agência de Detetives Auster. Nas noites seguintes, como se a voz desconfiasse do fato de que aquele número não fosse o da agência, as ligações continuam, até que Quinn resolve assumir o papel do detetive. É o que eu faria. Eu me daria ares do detetive Paul Auster, da Agência de Detetives Auster. Só que para seguir o escritor Paul Auster.

Eu me faria de (um) Paul Auster para seguir (o) Paul Auster.

Eu, um detetive de escritores.

FrestaWhere stories live. Discover now