Holofote - pt. I

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Manhã de domingo e como de praxe, eu estava sozinha em casa. Só escutava o barulho da TV e um despertador que estava tocando há horas.

Eram sete horas da manhã de um domingo ensolarado. Levantei da cama e caminhei até o banheiro para fazer o ritual de higiene que sempre faço quando acordo. Lavei o rosto e me olhei no espelho. Vi coisas que jamais tinha enxergado em mim. Era como se eu estivesse dividida ao meio. Um lado do meu corpo era o consciente. O que eu vivia todos os dias em ciência no trabalho, nas ruas, restaurantes, nas rodas de amigos, enfim, tudo o que eu demonstrava ser superficialmente. O outro lado era o subconsciente. E confesso, estava uma bagunça! O consciente vivia uma rotina, seguia seu roteiro, uma ordem todos os dias. E o inconsciente me presenteava com noites de insônia.


No espelho vi a transparência do que eu era. No meio das divisões entre consciente e inconsciente, vi uma luz. Não sabia dizer se era parecido com uma lâmpada ou uma vela. A única certeza é que, sendo comparada a lâmpada ou vela, estava se apagando. Nesse momento me dei conta de uma canção que eu escrevi, e nomeei holofote. E talvez eu só estivesse enxergando o holofote dentro de mim... Claro que muito apagado por ser um holofote. Mas ao redor dessa pequena claridade vi sonhos, decepções, frustrações e tudo aquilo que me doía. Percebi então, que aquilo eu poderia chamar de esperança. Luz da esperança ou holofote da esperança. Mas aquilo retratava o que eu almejava, ou o que um dia quis e não consegui, por exemplo. No instante que parei pra refletir sobre o que era aquilo, senti meu coração acelerando. Comecei passar mau. Dei boas vindas a um novo episódio de ataque de pânico.

Os ataques de pânico aconteciam repentinamente. Não tinha hora, lugar ou porquê deles estarem acontecendo. Foram poucas as vezes que percebi que eles tinham um fundamento. A primeira vez que tive um ataque de pânico, achei que estava tendo um ataque do coração, uma parada cardiorrespiratória. Foi uma mistura de coração acelerado, falta de ar e muito suor. Parecia que eu havia corrido uma maratona. O que mais me deixou confusa, é que apesar de estar suando e cansada, eu estava deitada, lendo um livro de psicologia as 1:10 da manhã. Esse ataque de pânico primário durou exatamente uma hora e meia. E a sensação que eu tinha é de que iria morrer. Não sabia sair daquela situação. Aliás, eu não sabia o que estava acontecendo. Aconteceram mais outras vezes... Procurei um cardiologista imaginando ser algo no coração. Fiz todos os exames e o resultado foi negativo para qualquer tipo de doença cardíaca -para minha surpresa.

Há um ano atras, recebi um diagnóstico de depressão. Não sabia o que pensar sobre, afinal de contas, nunca tinha escutado falar dos sintomas dessa doença. Através de conversas com uma amiga, troca de ideias e conhecimentos, ela me falou sobre ataques de pânico. Outra coisa que era nova pra mim. Comecei pesquisar sobre, e suspeitei que eu pudesse estar tendo alguns ataques de pânico, mas nada diagnosticado por um especialista. Marquei hora com uma psicóloga para me cuidar, e descobrir se isso poderia ser sintomas de um conflito na minha cabeça. E sim, era ataque de panico e TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada), que também me fazia passar mal e chegar a beira da morte -emocionalmente- com situações adversas. Até a data presente, não sei dizer o que provoca ou ira o meu emocional para me presentear com ataques de pânico ou surtos de TAG. Mas segundo a psicóloga, pode ser algum trauma que possivelmente esteja armazenado no inconsciente. Sinceramente, pelas vagas lembranças que tenho desses quase 20 anos anos vividos (ou como costumo dizer, sobrevividos), não consigo recordar de nenhum acontecimento que pode ter me feito tão mal. Chega ser estranho você acordar sendo domada por seu emocional. Sem saber se vai sair, se vai sentir fome. Sem no minimo saber responder se está tudo bem. Que tem sido uma das perguntas que eu tenho fugido de responder. É como se eu tivesse o dever de perguntar ao meu cérebro se está tudo bem, e como será o meu dia. Acredito que algumas pessoas que lerem isso, poderão ter sentido isso em algum momento de sua vida. Ou não, posso estar enganada. Mas ainda penso na possibilidade de que para alguns, sempre da um nó na mente quando a pergunta "está tudo bem?" chega como um peso de toneladas, e parece ter atingido o seu coração, e não sua mente, que fica perdida procurando uma resposta. E o mais doloroso, é não saber responder... Me sinto uma marionete do meu próprio eu. Sem poder colocar em prática aquilo que quero no momento, por estar dependendo de uma resposta positiva do subconsciente. Penso que nada pode doer mais, do que a dor daquilo que não se pode ver, tocar ou tomar um remédio para alívio imediato.

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