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Estive por diversas vezes me procurando em várias identidades, em outros corpos e em outras personalidades. Tinha como intenção, me encontrar em algum desses lugares e me tomar pra mim. Mas durante essa busca, percebi que não estava perdida em momento algum mas, que a partir dali, me perdi em minhas próprias cordas -bambas- de personalidade.

Me confundi a respeito do que eu era, do que decidi como certo e errado pra mim. Me perdi nas minhas confusões e não consegui me achar em mim mesma. Comecei ficar desesperada sobre meu crepúsculo, eu queria descobrir a minha identidade. Tentei me achar numa mesa de bar, com bebidas de alto teor de álcool, cigarros e minhas drogas receitadas por médicos.

Nesta noite eu me perdi de vez. Cheguei em casa embriagada, chapada, exausta. Tentei pensar no que eu estava fazendo, mas a única certeza que eu tive, foi de que me abandonei numa mesa de bar-de-esquina. Surgiu uma revolta enorme dentro de mim. E durante essa situação eu não dei apenas socos nas paredes ou me feri com facas e agulhas.  Quebrei tudo o que pra mim tinha uma historia, um valor ou simples memórias.

Fui até o espelho do banheiro onde via aquele pequeno holofote em mim. Com os olhos embaçados pude ver apenas faíscas. Dei um murro no espelho. Quebrei o único vinculo que eu tinha com minha alma. Acabei dormindo ali, jogada no chão do banheiro, com as mãos ensanguentadas e completamente sem noção.

No outro dia pela manhã acordei com uma ressaca insuportável, seguida de vômitos e náuseas que queimavam meu estômago. Andei pela casa e fiquei me perguntando quem poderia ter feito aquilo. Não me reconheci mais uma vez. Tomei um banho e me deparei com os cacos de vidro do espelho no chão. Entrei em prantos por ter percebido que acabei com toda a chama de esperança que eu poderia ver em mim.

Eu não via meu reflexo em mais nenhum lugar. Entrei numa nova busca. Dessa vez eu procurava por espelhos, vidros, qualquer holograma que refletisse o que estava dentro de mim. Cheguei a pensar que estava perdendo a lucidez, ficando louca e que, de qualquer forma, poderia existir esperança em mim. Mas eu só conseguia acreditar vendo que ela estava lá.

Entrei em estado de choque quando percebi que nao me via em mais reflexo algum. Estive durante uma semana procurando minha esperança por todos os lugares de SP. Senti os sinais da depressão se aproximando e tive certeza que minha única luz-da-esperança havia se apagado por minha embriaguês irresponsável.

Desisti dos tratamentos psicológicos e psiquiátricos. Para mim aquilo não passava de um show de estatísticas. E nunca esteve em meus planos fazer parte de um espetáculo desse teor ou ser  soma na agenda de um formando. Em algumas ocasiões essa revolta tomou conta do meu consciente. Me fez desacreditar friamente que eu pudesse me sentir bem de novo. Ainda mais depois de não me reconhecer, de ter me perdido por aí sem saber como e onde iria me encontrar. Estive disposta a... mais nada. Perdi a vontade de procurar algo que pudesse me deixar melhor. Simplesmente desisti de ser uma pessoa melhor ou buscar o melhor no meu interior. Me abandonei de vez. Deixei de me cuidar psicologicamente, esteticamente... Me abandonei em todos os âmbitos. 



As coisas tem acontecido de forma em que eu não planejo, não tenho controle. Só simplesmente acontecem. E eu sou a vítima, aquela marionete do próprio eu, que no momento tem transbordado defeitos. Tenho me sentido vazia. É como se eu fosse um holograma vivo. Saio pela noite e sempre me encontro numa mesa de bar enchendo a cara de alguma bebida que no dia posterior eu vou me arrepender de ter tomado, e deixando o pulmão um pouco... acizentado. Particularmente eu gosto dessa coisa meio preto e branco. E é assim que tenho me visto. Um holograma em preto e branco. É como se o mundo inteiro me visse, mas jamais me enxergasse.

Nas raras noites que eu conseguia dormir, as noites eram tomadas por pesadelos. Eram horríveis. Eu sempre estava no ápice da bebida e morrendo de tanto tossir por fumar tanto, sempre rodeada de pessoas que riam, zombavam, tiravam com a minha cara e com a minha situação. É certo que essa situação era vivida quase todos os finais de semana que eu me alojava numa mesa de bar. Mas eu nunca consegui compreender as pessoas que riam a minha volta nos vários sonhos e pesadelos. 

Talvez eu devesse perceber que, aqueles que estavam a minha volta, não teriam que ter de mim, toda confiança que eu depositava neles. Foi dessa forma que eu comecei ser fria e me ver mais pra mim, me entregar mais pra mim e me amar mais.

Comemorava a minha vida todo final de semana num bar, e ao mesmo tempo ia acabando com ela lentamente, quando eu chegava em casa e me entupia de remédios...


To be continued.

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⏰ Última atualização: Nov 11, 2017 ⏰

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