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Me chamo Dizel e tenho 56 anos, falo com vocês já que não tenho mais ninguém, estou cansado, cansado mesmo, só que menos cansado do que fiquei naquele dia 22 de abril de 2017, tem coisas que até um velho homem, não esquece, então quando entre o Brás e República minha viagem foi interrompida, o metrô estava bem cheio para um sábado pós feriado, ouvia Lady Gaga nos meus fones de ouvido, bem provável que vocês não conheçam, porém ela era bem popular naquela época, era uma pessoa real e não uma máquina programa para cantar e o sono me dominava, até que um tranco no metrô me chamou a atenção, o som de fora atravessou os fones e ouvi um barulho, logo as pessoas começaram a gritar, outro tranco as portas se abriram e o metrô parecia tentar parar, agora o barulho do metal tentando frear estava maior, quase ensurdecedor, permaneci sentado estava assustado, pessoas corriam de um lado para o outro, vi algumas pulando para fora do vagão, alguém falava no alto falante, os gritos, o som do metal, não me deixam ouvir a mensagem, comecei a sentir um suor pelo meu corpo de nervoso, não queria me mover, talvez fosse um sono, bom seria que fosse.

- VAMOS MORRER! VAMOS MORRER! O TREM ESTÁ CAINDO.
Um senhor me agarrou pelos ombros e começou a gritar, o seu hálito era bem desagradável cheirava a cebola e outros alimentos, não consegui desviar o olhar, pois ele parecia enlouquecido.

- senhor, VAMOS DAR UM JEITO.
Não queria gritar, porém se continuasse a falar baixo seria impossível sem ouvido, todos gritavam, corria era o caos.
Ele ainda segurava meus ombros com certa forca, remexi para tirar as mãos dele e quando eu falei, um sorriso surgiu no rosto, um sorriso como víamos no cinema, um sorriso dos loucos e ele me largou, se virou e correu para a porta e pulou.

Parecia ter passado pelo menos dez horas quando deviam ter passado trinta segundos, levantei coloquei a mochila nas costas, o metrô estava mais lento, uma senhora tentava acalmar duas crianças, as crianças tentavam proteger os ouvidos usando as mãos, o metrô antes lotado agora estava casa vazio.

- EU NÃO CONSIGO PULAR COM AS DUAS CRIANÇAS!
Ela gritou para mim.

Algum sinal do meu corpo fez ela entender que eu a ajudaria, ela me empurrou um garoto com um mochila nas costas, ele chorava, ela chorava, o outro menino também chorava, percebi que eu também tinha começado a chora, no vagão restavam nós quatro figuras pálidas, eu, as crianças e a mulher, não sei dizer como todas as pessoas sumiram ou se o mundo tinha se reduzido ou apenas conseguia enxergar essas três pessoas, muitos anos depois comecei a pensar que talvez tinham corpos caídos no chão de pessoas desmaiadas, não sei dizer se criei essa imagem para explicar ou apenas foi isso que aconteceu, o que eu lembro de fato é que tinham bolsas jogadas pelo chão, não consigo dizer tudo ao certo, minha cabeça rodava e em algum momento dentro dos poucos segundos que isso aconteceu, como não existia saída aparente, a não ser pular, conclui: "Vou ter que pular de costas, vou colocar a criança na frente, talvez assim evite de quebrar o meu óculos".

Quando penso que estava preocupado com os óculos, dou risada, na época um tempo depois tive raiva por um pensamento tão bobo e tão simples, pular de um metrô em movimento era o risco para a minha vida. 0

Movido por uma força maior do que eu, peguei uma bolsa na cadeira que eu estava do lado alguém tinha largado, abri e tinha apenas uma blusa, tirei minha bolsa das costas, abri e tirei duas blusas que estavam lá, coloquei na outra bolsa que estava quase vazia, coloquei o meu caderno nessa mochila, talvez uma base fosse melhor, naquela hora, que me olhasse talvez visse um olhar louco, uma expressão sem sentido, já não ouvia nada, tinha ficado surdo com o barulho do metal/aço e gritos, por um momento parecia apenas existir as bolsas.

Coloquei a bolsa que estava agora com três blusas e um caderno, parecia estar leve, apertei procurando algo que pudesse me machucar nos bolsos, não parecia ter nada duro, muito tempo depois quando abri vi que tinha roupas e vinte reais, naquela hora apenas enxerguei uma blusa, coloquei a criança no colo, prendendo as pernas dele na minha cintura, coloquei a minha bolsa na costas dele, já que a pequena bolsa dele não fazia volume, talvez o som do metal tenha diminuído, eu só ouvia um zumbido, fiquei de costas e encarei a moça e olhei para os olhos dela.

- NOS VEMOS LÁ EMBAIXO
Gritei e arrisquei um sorriso, a velocidade não era grande, então quando eu pulei, minhas costas bateram por milagre na grama e rolamos com força, por existir um Deus, deusas, deuses, meu óculos não quebrou, fora a dor nas costas tudo parecia bem, o menino gritou quando tocamos o chão, eu não ouvi ele, apenas vi o movimento dos lábios, ele tinha soltado as pernas do meu corpo, quando saltamos o que foi outra situação de sorte, pois se ele não tivesse feito isso, minha falta de coerência teria machucado ele.

Olhei para a grama e não vi a mulher, olhei para o vagão e ela não tinha pulado, eu ia gritar para ela pular quando o vagão deu um tranco e como ela estava na beirada com a criança, ela escorregou e caiu por debaixo do metal que ainda deveria gritar , não tive coragem de ir olhar, não tive coragem de me mover por algum tempo e tudo ficou escuro.

(Originalmente o nome do personagem principal era o meu nome, pois pensei caso algo assim acontecesse comigo, mudei de ideia, já que não sou tão corajoso eee então gente, o que vocês acham que aconteceu com a terra? )

Dizel e a cidade do caosOnde histórias criam vida. Descubra agora