Tudo estava azul, o céu e a terra, digo, o teto, chão e as paredes, tudo parecia o mesmo, não dava para saber onde era a parte de cima ou a parte de baixo, aparentemente existia luz, já que eu enxergava o azul, não via sol ou qualquer fonte de luz e mesmo assim tudo estava claro.
Comecei a andar, quando os meus pés começaram a doer e o suor escorrer, avistei uma mulher abaixada, pensei em correr ou andar o mais depressa para longe dela, olhei para os lados e não parecia existir mais nada no local, decidi me aproximar de forma cautelosa, quando estava bem perto meus pés pisaram em algo que a princípio parecia molhado, não era água, era mais espesso, senti medo de olhar, algo me dizia para não me mover, para não olhar, a moça virou para mim, uma voz dizia mais alto na minha mente: "Não olhe", não consegui fechar os olhos, minhas mãos não se moviam, ali onde deveria existir um rosto, estava uma massa deformada, não tinha olhos, não tinha nada.
- VOCÊ ME DEIXOU!
Um buraco no meio do não rosto surgiu, abrindo e fechando, cada sílaba jogada.
- VOCÊ NOS DEIXOU...DEI..XOUUU!Uma voz saiu do chão e quando olhei na direção do som, vi um outro corpo, os braços estavam nas costas, a pernas estavam viradas para o lado, o grito não saiu, as vozes se repetiam, risadas misturas com gritos, sangue de ambos começou a escorrer de onde deveria ser um rosto, sangue saiam dos poros dos corpos.
Tentava me afastar, meu corpo não obedecia, meus olhos não fechavam, eu não podia gritar, o sangue que escorria dos corpos, começou a subir pelas minhas pernas, aquilo fez com que eu conseguisse me mover, correr era a única opção, então corri, corri.
O mundo em azul, agora era vermelho, rubro, vermelho sangue, chovia e não era água, eu estava coberto pelo o sangue, meu cabelo, meu corpo tudo era sangue, os corpos ainda gritavam, quando por fim acordei.
O suor cobria a minha pele, meu corpo doia em cada centímetro, a luz do quarto era fraca, parte da iluminação vinha da janela que mesmo fechada mostrava claridade através dos pequenos furos que faziam parte da sua composição, assim como tinha a claridade da porta que estava um pouco aberta, por um momento acreditei que tudo tinha sido um pesadelo, por opção fiquei imóvel e quando tentava entender como um pesadelo pudesse trazer tanta dor para o corpo físico, uma respiração que não era a minha, me fez olhar para o chão e a criança dormia, não parecia sereno em um sonho infantil e tive medo por ele e tive medo por mim.
Virei para o lado da parede, dor era o que me resumia, a gata subiu na cama e começou a fazer massagem nas costas, como quem queria agradar o dono, com a dor no corpo, parecia mais que ela estava terminando o trabalho do trem e tentava me matar de dor, virei e ela ofendida desceu e foi em direção a sala ou talvez a cozinha, sentei na cama e comecei a acreditar que tinha quebrado algo, procurei o celular e ele estava descarregado, o carregador estava na tomada e o cabo estava desconectado, então conectei o celular.
Minha cabeça tinha tanta informação, levantei em direção ao guarda-roupa e meu reflexo estava lá na porta, onde tinha um espelho e a imagem refletida mostrava o meu rosto cansado e expressão de dor, suspirei e andei com cuidado para não pisar no menino, não queria assustar ou acordar o menino.
Na sala liguei a TV, tomei um outro banho, tomei mais remédios para a dor, sentei no sofá, tudo parecia irreal, na televisão os anúncios que empresas estavam fechadas, mercados, estradas, em outros canais: médiuns, geográficos, pastores, meteorologistas, astrólogos e tentavam explicar o ocorrido, a palavra "apocalipse" surgiu em muitas matérias, daquele dia e de outros dias.
Depois de uma meia hora assistindo, conclui que ninguém sabia o que estava ocorrendo, meu estômago roncou, meu corpo por sorte dava mais sinais de vida e vontade de viver do que eu parecia sentir na minha mente, sim, eu estava com fome, precisava de mais um minuto, passaram quarenta e seis minutos, me conhecia bem o suficiente para saber que acabaria dormindo sem comer, a criança dormia ainda, ela iria querer comer, meu estômago roncou mais, praguejei e fui em direção a cozinha.
O gosto característico do Cuscuz, está quase esquecido, sempre amei cuscuz e foi isso que fiz naquele dia, depois analisei produtos na geladeira o que estragava mais rapidamente como frutas, legumes, arroz pronto, era com toda a certeza que deveria priorizar comer essas coisas, já que as lojas não tinha previsão e voltar, segundo dizia a televisão.
Tirei todo lixo de casa e limpei a areia da gata, joguei o que estava na caixa fora e fui levar o lixo, foi rápido, estava tenso, era um bom momento para observar o lado de fora, carros estavam no pátio, pessoas estavam levando cobertas para os carro, coisas variadas e janelas dos outros prédios estavam fechadas, uma ou outra estava aberta, conseguia ver alguns olhares me analisando, andei depressa e joguei tudo lá na caçamba e retornei para casa
O menino parecia não acordar, olhei no relógio e era nove e quarenta, era claro que ele não iria acordar, tínhamos dormido de madrugada e eu tinha caído da cama ou melhor, tinha sido expulso com aquele pesadelo maldito.
O jeito foi aproveitar o cuscuz com manteiga e um pouco de leite, sentindo o prazer de comer algo que eu sempre gostei.
(E ai gente?)0
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Dizel e a cidade do caos
AdventureDizel e a cidade do Caos, é uma história que comecei a escrever enquanto andava no metrô e a maioria dos capítulos também foram escritos assim, em alguns momentos foram feitos no trem, outros no ônibus e outras partes no metrô, enfim tudo que é vivo...