All the things she said

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"Uma pessoa não precisa estar a vida inteira ao seu lado para se tornar única e inesquecível."

Kylian

Antes de tudo isso, houve uma história de amor e traição que me moldou. Eu estava completamente apaixonada por Sara. Ela era meu mundo, e eu a amava com tudo o que tinha. Nosso relacionamento, no início, era intenso e cheio de paixão, mas terminou de forma brutal e devastadora. Quando perdi o emprego e a casa, quando minha vida estava desmoronando em pedacinhos, tudo o que eu precisava era dela ao meu lado. Mas, em vez de me apoiar, ela me trocou. Não ficou para enfrentar as dificuldades comigo. Escolheu ir embora com um cara qualquer, alguém que prometia a ela um futuro melhor — algo que, naquele momento, eu não podia oferecer.

Os meses que se seguiram foram um verdadeiro caos. Cada dia era uma batalha contra o desespero, uma luta para me manter de pé. Fui morar com meu irmão, tentando juntar os cacos do que restava da minha vida, enquanto a traição de Sara ainda ardia na minha mente e coração. Três meses depois, quando eu já começava a achar que estava conseguindo seguir em frente, Sara reapareceu. A visão dela ali, na minha frente, era um choque. Ela estava irreconhecível, completamente destroçada. Seus olhos estavam inchados e vermelhos de tanto chorar, e sua voz saía fraca, mal conseguindo formar as palavras entre os soluços.

Ela me contou tudo: o homem com quem tinha ficado a maltratou, a bateu e a humilhou de todas as maneiras possíveis. E como se isso já não fosse suficiente, ela estava grávida dele... mas logo perdeu o bebê. O peso daquilo me atingiu como um soco. Eu a ouvi desabar diante de mim, seu corpo tremendo com os soluços, e meu coração se apertava em conflito. Parte de mim ainda a amava, ainda queria abraçá-la, cuidar dela, protegê-la de tudo o que havia acontecido. Mas havia outra parte, amarga e marcada pelas cicatrizes que ela deixou, que só conseguia pensar: e se ela não tivesse me abandonado naquele momento tão difícil? Será que tudo teria sido diferente?

E agora, aqui estou eu, com a arma firme nas mãos, sentindo o peso esmagador de tudo que me levou até esse momento. A traição que rasgou minha alma, o sofrimento que me quebrou em pedaços, o abandono cruel que me deixou à deriva. Tudo, absolutamente tudo, finalmente veio à tona com uma força avassaladora.

Minhas mãos tremiam, mas não hesitei. Apertei o gatilho com uma determinação selvagem. O estrondo do disparo rasgou o silêncio, e por um breve segundo, o tempo congelou. O sangue começou a escorrer devagar, manchando o chão em um vermelho intenso e vivo, um contraste brutal com a frieza que impregnava o ambiente ao meu redor.

Senti algo se remexer dentro de mim, mas não era arrependimento. Não. Era uma estranha, mas irresistível, sensação de poder. De controle. O desgraçado nunca mais maltrataria mulher alguma. Nunca mais quebraria ninguém como me quebraram. Eu havia acabado com aquilo, com as próprias mãos.

Minha respiração vinha em rajadas irregulares, o ar rasgando minha garganta enquanto o horror da cena diante de mim se desdobrava. Mas, por mais grotesco que fosse, eu não conseguia desviar o olhar. Era como se o caos me puxasse, hipnotizasse, como se cada gota de sangue derramado fosse um reflexo do que eu sempre carreguei dentro de mim, esperando o momento certo para explodir. E agora, finalmente, havia despertado.

O sentimento que me consumia não era de arrependimento — longe disso. Era fome. Fome de mais destruição, de mais dor, de mais poder. Eu queria ver o mundo arder e ser a causa disso.

— O que você fez? — uma voz conhecida estourou minha bolha de êxtase.

Virei devagar, meu peito ainda arfando com a adrenalina, e vi Ryan me encarando. O choque, o medo, o nojo, tudo isso dançava em seus olhos. Ele estava paralisado, os lábios entreabertos, como se o cérebro dele estivesse tentando processar o que acabava de testemunhar. Mas eu não dava a mínima. Seu horror era irrelevante. Eu estava intoxicada demais pelo que acabara de fazer para me importar.