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Darice pareceu refletir e soltei seus ombros de forma que seu rosto, ainda perplexo acompanhava meus movimentos involuntariamente

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Darice pareceu refletir e soltei seus ombros de forma que seu rosto, ainda perplexo acompanhava meus movimentos involuntariamente.

Eu mesmo não acreditava que tinha dito aquilo, porém não encontrava arrependimento em mim. Isso era apenas uma amostra grátis de tudo o que me preenchia.

Lágrimas desceram seu rosto vagarosamente e com uma expressão totalmente resignada, confusa, magoada... Ela saiu. Não fui atrás. Simplesmente não movi um musculo sequer.

Passaram-se dias, mandei mensagem, nada.

Decidi morar em Minessota com meus familiares e esquecer o rompimento com Darice, o que não deu certo. Meses depois, ela mandou uma mensagem, pedindo para me ver e ignorei.

Algumas notícias más acontecem enquanto todos estão dormindo, bem na calada da noite. Outras ocorrem quando fechamos nossos olhos por um segundo, mas nenhuma dói tanto quanto aqueles momentos que simplesmente ignoramos.

Passaram-se mais alguns meses, até saber que ela morreu vítima de um acidente de carro na saída do aeroporto.

Quase não reconheci a voz de Lilian no telefone, rouca e fraca.

- Quem é? – Pergunto, sentado na sala de minha casa.

- Chris... Uma coisa terrível...

- É você Lilian?

-Sim. – Mais um acesso de choro. – Uma tragédia...

Comecei a ficar nervoso.

- O que houve, com quem?

Lilian já não conseguia nem respirar. A falta de fôlego limitava a apenas chorar e dizer frases incoerentes.

Após alguns segundos, ela disse algo que se eu pudesse escolher, jamais receberia essa notícia.

- Chris... A Darice... Ela morreu no carro. – A voz vacilante dela começou a sair descontrolada e mais alta.

Eu quase deixei o celular cair.

Poucos momentos marcam com profundidade a vida de um homem. E aquele telefonema fez parte dessa seção de minha memória.

Meu coração havia parado e por um segundo achei que encontraria Darice. Morta. Não podia ser.

Não era a perda da minha ex. Era a perda de um amor.

Uma vez amor, sempre amor, mesmo que a vida a dois não dê certo.

Pensei nos possíveis momentos com Darice, se continuássemos juntos e me torturei ao pensar que talvez ela não morresse se eu tivesse interferido de alguma forma.

Mas ela precisou morrer para me dar conta de precisava dela, bem segura e principalmente, viva. Mesmo não sendo ao meu lado, mas tinha que estar viva.

E a vida me ensinou o valor de um simples respirar.

Parados neste banco de praça, são dez anos depois de tudo que me desligam do passado, observando esse casal brigar.

Mas há um fato engraçado nisso tudo. Já estive no lugar do rapaz e hoje sei perfeitamente que problemas com pombas ou uma discussão não podem se comparar a perda de alguém.

Permaneci em meu lugar até ver a garota deixar o rapaz no banco, ambos com feições pouco amigáveis.

Meu coração acelerou e me certifiquei de que ainda estava vivo. Estava acontecendo. Ela o estava deixando e ele permaneceu trancado em seu orgulho. Era uma cena mais que familiar, como se eu tivesse morrido e tivesse a chance de fazer tudo dar certo dessa vez.

O rapaz estava olhando para as crianças no parque, a testa se suavizando com os pensamentos. Aproximei-me humildemente, sentando no lugar vazio do banco:

- Quer um conselho?

Ele levantou uma sobrancelha.

- Por quê?

- Gostaria de fazer por você, algo que deveria ter feito dez anos atrás.

O rapaz ainda parece confuso e um pouco incomodado.

- Vou contar minha história. Acho que temos mais em comum do que imagina.


Déjà Vu Entre NósOnde histórias criam vida. Descubra agora