CAPÍTULO 1

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CARINE

Existe muitas coisas na vida para se lamentar, uns lamentam não ter sorte, outros lamentam não conseguir o emprego dos sonhos, ou até mesmo lamentam por estarem tão acostumados a lamentarem por tudo. Mas eu lamento ter dinheiro. É estranho dizer isto? Bom, fazer o que se eu realmente lamento?

Meus pais são milionários, donos da maior rede de hotéis luxuosos de Londres, rei e rainha, como se nomeiam, e eu a princesa. O único defeito de tudo isso é a grande ambição que ambos carregam dentro de si, as centenas de inimigos que fizeram durante os anos e que não param de nos perseguir, e claro, o fato de que eu odeio tudo isso. Tudo.

Antes de conseguirem conquistar esse império, eram filhos de famílias inglesas pobres, as famílias tinham um laço de amizade tão forte que foram tentar a sorte no Brasil juntas, mas nada ocorreu do jeito planejado, porém, meus avós passaram a amar o país e desejaram nunca mais voltar a Inglaterra. Meus pais pensavam ao contrário (mesmo ambos tendo nacionalidade brasileira, não inglesa, os dois nasceram no mesmo ano que meus avós chegaram lá) e foi justamente esse pensamento que uniu os dois, mas essa é a única coisa que sei da história, eles dizem que é melhor manter o passado enterrado e eu não discuto sobre isso com eles

Podem pensar que sou uma menina mimada, que não sabe o que diz, mas acreditem, não fazem idéia do inferno que é ser filha de Amberly e Alexander Hill, do quanto eles cobram que a própria filha seja um objeto de desejo para todos, de como eu tenho que ser perfeita. A. Cada. Minuto. É sufocante, frustrante e triste. E nunca, jamais faça algo que não esteja nos planos deles, a consequência vem com um peso de tirar o fôlego ou a vida

Eu estava no meu quarto, em frente ao espelho tentando deixar meu cabelo o mais apresentável possível quando Stella, minha dama de companhia, (isso mesmo que leu, lembra-se que eu disse lá no início que meus pais se achavam a própria realeza? Estava falando sério). Quando ela abriu a porta e colocou apenas sua cabeça para o lado de dentro deixando que seu longo cabelo loiro balançasse no ar

- Por tudo que mais ama nesse mundo, pode me confirmar se está pronta ou não? Seus pais daqui a pouco irão surtar lá em baixo - ela diz, tentando falsamente prender a risada

Eu conhecia Stella desde os meus oito anos de idade, sua mãe era minha babá e ela era a única amiga que eu tinha na época, bom, a única que ainda tenho e não por eu não ser sociável, mas todos os amigos que tentei fazer ao longo dos anos estavam mais interessados no meu dinheiro do que outra coisa. Stella sempre foi diferente, ela não ligava para bens ou qualquer outra coisa, sempre dizia que a o dinheiro trazia mais infelicidade do que qualquer outro sentimento, e ela não queria provar deles, então quando sua mãe morreu há dois anos eu a tomei para mim, jurando cuidar dela eternamente como se fossemos realmente irmãs de sangue, eu devia isso a ela

- Sim - falo levantando devagar para não amassar nenhuma parte do meu vestido - Como estou?

- Lindíssima, agora ande logo - ela abriu mais a porta e pude ver que usava um uniforme rosa com um pequeno crachá dourado e a inicial da minha família estampado no meio, fechei a cara

- O que já conversamos zilhões de vezes sobre uniforme? - indago fazendo com que ela congelasse no lugar

- Desculpe Ka, sua mãe disse que eu só te acompanharia essa noite se estivesse devidamente no meu lugar

Sinto meu sangue ferver, por que isso? Ela sabe o quanto considero Stella e que odeio quando a tratam assim, mordi meu lábio inferior tentando prender todas as palavras que queria dizer, preciso respirar e descer para essa maldita festa, mas não deixarei isso de lado, minha mãe vai ter que me escutar, ah vai!

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