Alguns dias depois já me encontro numa rotina, trabalhar, correr, visitar Hope. Não é algo esplendido, mas com certeza é melhor do que eu tinha alguns meses atrás.
Eu não poderia reclamar de Lilly também, algo nela havia mudado desde o dia em que passei a noite lá e eu não conseguiria ignorar o fato de que ela parece menos indiferente a minha presença. Quando vou visitar minha filha tento não deixar as coisas constrangedoras para ela, mas a iniciativa de falar comigo vinda dela me surpreende sempre.
Então quando meu telefone tocou de manhã e vi na tela seu nome, preocupação encheu meu coração, algo muito sério tinha que acontecer para que ela me ligasse por livre vontade. Repassei meus compromissos, eu não iria para lá até o próximo final de semana.
No entanto, ela conseguiu me deixar mais em choque quando propôs que nos encontrássemos para uma conversa amigável, ela me assegurou que Hope estava bem antes que eu concordasse.
Estou aqui então, em uma cafeteria movimentada esperando pela única pessoa que consegue fazer meu coração acelerar só de imagina-la. Eu tenho um copo em minhas mãos, que as esquenta do frio de Londres, e observo enquanto as pessoas pegam seu próprio café.
Alguns casais, amigos que parecem não se encontrar há um tempo, crianças que pedem por donuts coloridos, todos que parecem viver uma vida normal e não conseguem perceber a batida instável do meu coração.
"Ei, desculpe-me pelo atraso." - Lilly cumprimenta-me tirando seu casaco e tirando-o para colocar na cadeira. - "Obrigada por vir."
"Claro. Está tudo bem? " - pergunto preocupado, não consigo evitar que a pergunta escape.
"Incrivelmente, sim. Hope está muito mais tranquila com tuas últimas visitas, ela se acostumou fácil com tua presença." - ela sorri. Ela sorri para mim. Isso é realmente inacreditável, eu pareço estar num mundo paralelo.
Eu não quero perguntar -de novo- se algo está errado, mas eu sinto algo borbulhar no meu estomago, como um pressentimento de que as coisas estão boas demais para que eu possa acreditar e me confortar sobre a situação.
Antes que eu possa me impedir as palavras saem de mim - "E então? Porque me ligaste? Não que eu esteja reclamando, mas estou surpreso e curioso, apenas não decidi ainda se de uma forma boa."
Ela ri. Uma risada a qual eu não reconhecia algum tempo, e que preenche algo em mim que eu não sabia que estava faltando, mesmo que eu soubesse de muita coisa que parecia fora do lugar.
Pela primeira vez desde o dia em que eu vi tudo desmoronar eu vi algum calor nos olhos de Lilly quando ela olha para mim, e um pensamento me assusta e não consigo deixar de duvidar daquela situação, me questionando o tempo todo o que teria mudado.
Uma tensão cresce em mim ainda mais quando ela desfaz seu riso e fica seria, algo está para vir a superfície e não consigo distinguir se será algo que me agradará.
"Eu refleti sobre as coisas nos últimos tempos. Não que eu não tivesse feito antes, mas agora é diferente... eu não sei mais quem eu sou. Minha vida agora é condicionada a apenas um momento que com certeza não me define, e então eu parei para pensar, que talvez isso não te defina também." - algo borbulha em mim com suas palavras, não consigo evitar me mexer, e balanço minha perna demonstrando minha ansiedade por suas palavras.
Talvez aquela fosse a minha esperança, talvez fosse a forma dela dizer que um dia me perdoará. Mesmo assim não consigo deixar de perceber o jeito que ela falará sobre tudo, e perceber o tom de dor em sua voz.
"Eu estou feliz por ti, saber que tu estas seguindo em frente... tua mãe me disse que tudo está muito bom no seu novo emprego." - ela sorri e desvia o olhar, cutucando um bolinho que eu tinha pedido para ela, era seu preferido quando costumávamos sair. - "Eu não estou dizendo que um dia confiarei em ti, mas nós temos uma filha, e com certeza temos em comum o amor por ela."
"O que mudou?" - eu não consegui evitar a curiosidade que me consumia, até algum tempo atrás ela não conseguia olhar para mim.
"Eu não sei também, mas não me parecia que daquela forma funcionaria... e quando Hope crescer? Eu quero ser melhor que isso, e de forma alguma quero viver todos os dias me lembrando de momentos horríveis." - ela não consegue olhar para mim, enquanto tudo que consigo fazer é encara-la.
Em que ponto isso nos coloca?
"Acho que deveríamos estreitar nossa relação para apenas pais, esquecer o passado talvez seja a melhor forma para supera-lo." - ela finaliza, e então aquela faísca de esperança que ganhava vida dentro de mim se apaga, deixando algo frio e sombrio, que de forma alguma eu poderia demonstrar.
Eu sentia dor e um vazio, porque apesar de isso significar que ela queria esquecer o mal que eu proporcionei a ela, significava também esquecer os momentos bons aos quais passamos juntos, aqueles que não me abandonavam mesmo se eu quisesse.
Aquilo que mantinha a chama acessa em mim era com certeza a fantasia de que talvez, apenas talvez, nossos momentos bons pudessem superar os ruins.
Mas então algo me passa pela cabeça e sinto um calor agradável correr pelas minhas veias, e se destruir fosse a melhor forma de construir algo mais estável e melhor?
Eu sei que eu estou achando uma brecha na fala dela, e que sem dúvidas esse não era o significado de seu discurso, mas não é essa a ideia da esperança? Transformar aquilo que parece ruim, e mentalizar que do chão podemos ir apenas para cima?
Eu queria acreditar nisso, e foi o que eu fiz, ao sorrir para a mulher a minha frente e ansiar pelo dia em que conseguirei provar para ela que eu posso não merece-la, mas cada parte do meu corpo deseja que eu fosse digno.
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Stockholm Syndrome 》Z.M《
Fanfic⏩Não leias se fores sensível a violência⏪ Como se tudo o que eu fiz voltasse à tona na minha cara, literalmente. Cada mentira, cada traição, cada vítima de meus comentários maldosos. Estou pagando por cada pecado. Ele tira de mim tudo que eu a...