6 - Na calada da noite

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Os incidentes já haviam ocorrido havia algum tempo, e isso me deu tempo para pensar em tudo que havia acontecido. Dois dias haviam passado desde então, e o fim de semana havia chegado. Os animatronics não se manifestaram mais. Isso me deu mais tempo para me aproximar mais de John, George e Lucy. Os dois eram muito gente boa, mas eu me identificava muito mais com Lucy.  Era simplesmente fantásticos como éramos parecidos. Gostávamos dos mesmos livros, das mesmas bandas. Ela até tinha uma coleção de LPs de rock, assim como eu. 

Havíamos nós quatro marcado de sair sábado à noite no centro, dar uma volta pela cidade de noite, para nos interagirmos mais. George e John iam levar companhia, já Lucy não, afinal, a nossa já era bastante, e ela era uma pessoa com poucas amigas de verdade, e era solitária, logo qualquer coisa já era suficiente. Esperei até a noite chegar, e as lembranças de Clara me atingiram em certos momentos, mas tudo parecia tão absurdo que não era possível ser verdade. Andava ansioso no meu quarto-sala que havia comprado quando juntei economias da minha vida inteira, junto com um certo capital que ganhei da minha família. Achara esse lugar relativamente perto da faculdade com um preço pequeno e me estabeleci. 

Meu relógio apitou as seis horas e eu me vesti em uma camisa social de manga curta e calças jeans escuras. Os sapatos foram básicos e pretos. Penteei o cabelo e saí. Decidi ir andando, pois havia bastante tempo até o horário que marcamos. Foi uma caminhada silenciosa, mas a rua estava bastante movimentada. Quando cheguei no local de encontro, apenas John e George estavam lá. Junto a John estava Brian, um rapaz de nossa idade, muito bem arrumado. Me cumprimentou com um sorriso. George estava sozinho. Então eu perguntei:

-George, onde está sua companhia?

-Ah Paul, eu trouxe minha irmã, Linda. Ela foi buscar um café para nós. Espero que goste de Capuccino.

-Adoro...

Foi então que eu tive a primeira visão dela. Seus cabelos compridos caíam por sua jaqueta vermelha. Sua face perfeita estava rosada em consequência do ar gelado que cortava a noite. Mas o que mais me impressionava era seus olhos. Seus olhos eram grandes e fundos. Expressivos, atentos a qualquer movimento. Eram azuis como a safira mais clara do mundo, mas selvagens como as águas do oceano em um dia chuvoso. Ela veio até onde estávamos, e me cumprimentou com sua voz doce e sensível:

-Muito prazer, Paul. George me contou sobre você. É uma pessoa interessante, um livro fechado, nas palavras dele. 

Eu peguei sua mão e a beijei.

-O prazer é todo meu, senhorita...

-Harrison...

...senhorita Harrison - Então olhei para George.- Um livro fechado, George? Que tal nós folhearmos um pouco as páginas dele? 

Nesse momento, Lucy chegou, pedindo desculpas pelo atraso. Todos dissemos que não se atrasara, apenas nós que chegamos cedo demais. Então saímos. Andamos por bastante tempo, mais de duas horas, até pararmos para lanchar. Paramos em uma cafeteria. Pedi um gelatto dessa vez, pois já havia tomado um capuccino há duas horas atrás. Enquanto esperávamos, começamos a conversar sobre Brian e Linda, que eram novas para pelo menos eu e Lucy, afinal, George e John eram grandes amigos. Brian era um empresário de grande sucesso no mundo musical e havia feito a faculdade com quinze anos devido ao seu QI elevado. Já Linda estava cursando Artes e estava no  primeiro ano também.

De repente, senti uma certa inquietação, e os pelos de minha nuca se eriçaram. Senti uma súbita sensação que estava sendo observado. Olhei para um arbusto no meio fio da alameda que estávamos e a princípio achei que vi as folhas se moverem. Lucy perguntou:

-Paul, está tudo bem?

-Está sim Lu - um sorriso dançou no canto dos meus lábios e fui obrigado a rir. - Tenho andado muito tenso. Provavelmente estou começando a ver coisas.

Meu nome foi chamado e fui pegar os cafés. Lanchamos e saímos andando pela noite, até chegarmos à uma esquina de uma grande avenida. Eu não vi o vulto preto dobrando o cruzamento, eu não vi ele correndo em nossa direção. O que me alertou foi a face assustada de Lucy. O ladrão passou e pegou a bolsa dela, e continuou correndo. Na mesma hora, uma adrenalina me atingiu e saí correndo. A única coisa que eu ouvi foi os gritos desesperados de Lucy chamando meu nome, e George e John pasmos, também me chamando. Depois, o único som foi o dos nossos passos. Eu corria a toda velocidade pela noite fria, mal conseguindo manter meus olhos abertos. 

Foi em poucos segundos que tudo aconteceu. Ele percebeu que estava sendo seguido e puxou uma pistola da cintura. Ainda correndo ele mirou em minha direção e atirou. A bala acertou em cheio minha barriga, mas a adrenalina me fez correr ainda mais. Quando atingi a menor distância que consegui, pulei em cima dele e o derrubei no chão. Ele tentou atirar em mim, mas desviei e puxei a bolsa de Lucy para longe. Ele mirou na minha cabeça de novo, e dessa vez desferi um soco na direção dele. Mas a minha mão acertou a arma. Isso o fez derrubá-la e ela caiu no seu peito, apontada em direção à sua cabeça. Não cheguei a ver a arma chegar no peito dele, pois tudo começou a ficar escuro. Mas a única coisa que eu escutei foi o baque surdo do tiro. E depois, veio a escuridão. 

Fnaf, o terror noturno - A Primeira Pizzaria Onde histórias criam vida. Descubra agora