Lenore

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Se quebrou a taça dourada, lá se vai à alma que se aflige
Que soem o sino! -uma alma santa anda pelo rio Estige
Por que não choras, Guy De Vere? solta agora a sua tristeza!
Vê! o derradeiro leito que é do teu amor, Lenore
Vem! Ore a última prece, cante a canção final
Um hino à jovem e bela morta de porte real
Ela, duas vezes morta, bela jovem, virginal

“Vis! Amavam suas posses sem lhe perdoar a suas asas de anjo
E quando caiu de cama, bendisseram que morreria
Como rezarão as preces? Com que boca cantarão?
Com suas  línguas envenenadas, com seu mau olhado então
Que mataram a inocente, que tão jovem se foi em vão”

Peccavimus; deliras! Deixe o réquiem tocar
A purificar os mortos, subindo a Deus pelo ar
Seu amor, Lenore, que antes subiu, ao lado da esperança
Deixando o desespero por tua noiva, ainda criança
Por ela, a bela, a estrela que sob o chão já se vai
A vida em seus louros cachos mas não em seus olhos mais
A vida ali, ainda em seus cachos, em seus olhos jamais

Meu coração é leve, não me lamentarei mais
Ali o anjo paira, canta graças por seu ar
Que o êxtase dessa alma não ouça sino terreno
Que não se prenda ao mundo, condenado e tão pequeno
Do inferno ao céu a alma canta a nós o seu adeus
Do sofrimento a um monumento ao lado bem de Deus


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Estinge -rio que na mitologia grega os espíritos cruzam para chegar ao paraíso
Réquiem- Oração aós mortos

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⏰ Última atualização: Sep 28, 2017 ⏰

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