O Início do fim - Reencontros

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O dia amanheceu escaldante. E ela exausta, como sempre. Ela queria somente que tudo acabasse ou que conseguisse encontrar uma solução para resolver sua vida. Estava cada vez mais difícil conciliar todas as responsabilidades: casa, filhos, trabalho, etc. Não tinha mais tempo para si. Até o banho era estilo ninja.
Sossego, onde você estará? Pensou.
Levantou se da cama e foi se arrumar, sem vaidade se é que ainda tinha alguma. Penteou os cabelos e pegou as mesmas roupas de sempre. Sim aquele jeans velho e camiseta preta. Seu ALL star batido. A mochila desbotada e mentalmente se programou, organizou seu roteiro. Não havia tempo a perder. E naquele dia, ela iria tentar marcar exames médicos para a filha maior.
Logo saiu a rua avistou o ônibus.
Ai como odeio ônibus. Prefiro bicicleta.
Com dificuldade conseguiu um canto próximo a catraca e lá permaneceria intacta até o fim da pequena viagem.
A mente começou então sua odisseia pensante.
Como queria que esse dia fosse diferente. Como almejava por uma gota de emoção no marasmo em que se encontrava.
Fazia tanto tempo... Tudo era sempre igual, os dias nasciam e morriam... E ela se sentia como uma pedra inerte mergulhada num riacho fundo. Não era capaz de sentir a refrescancia, nem a frieza do Riacho.
Será que sequei?
Mau concluiu seus pensamentos e praticamente fora arrastada para fora do transporte.
Vamos garota. Não há tempo a perder.
Disse a si mesma.
Logo depois que cruzou o centro comercial, em direção a uma clínica médica, percebeu algo estranho. Um carro escuro, vidros escuros, não não sabia a marca... Mas era novo, o carro, parecia segui-la.
Não acredito!!! Era só o que me faltava, achar que estou sendo seguida. Pensou.
Olhou novamente e o carro se aproximava. Teve uma idéia, dispistar o carro.
Lógico que não estou sendo seguida. É tudo fruto da minha mente estressada. Mas o seguro morreu de velho. E concluiu virando a esquina.
Ufa.... Acho que consegui.
E lá seguia despreocupada, mas quando chegou ao fim daquela rua, eis que avista novamente o fatídico automóvel. Foi dando meia volta e sentindo a certeza amarga, sim estava sendo seguida.
Mas genteee, quem seria? Um serial killer? Um assaltante? Até parece. Com um carrão desses eu que deveria assalta-lo.
Olhou sorrateiramente com o canto dos olhos e percebeu que a porta se abria. Rapidamente tomou fôlego enquanto pensava: Eu sei correr, eu vou correr, eu...
-Oi, oi, AnaLe... É você mesma?
A voz firme, forte a fez parar o ato. A curiosidade a fez virar se.
-Anhh, Oi?
- Você não lembra quem sou eu, não é?
-Realmente???
Não, não faça essa cara de tonta! pensou.
-Sou Gil Mendes. Fui embora da cidade quando você tinha uns onze anos.
A memória trapaceira parecia não colaborar.
Lembra, lembra.
Uma luz no fim do túnel.
-Gil... Que morava???
- AnaLe, perto do Mercadão. Três casas depois da sua. Ou melhor dos seus pais.
-Ahhhh sim. Como vai Gil?
Tentava não tremer tanto.
Puxa vida, céus. Quando o assunto é emoção vocês me surpreenderam, pensou, lembrando o q desejara pela manhã no ônibus.
-Estou bem menina.  E você como cresceu... Mudou...
Acho que ele quis dizer velha e gorda.
Era assim que se sentia nesta manhã.
Que vergonha. Só então se deram conta que não estava nada atraente, nada arrumada.
-Digo, apesar de tanto tempo, você ainda manteve esses olhos brilhantes e vivos.
-Obrigada. ( Estúpida, o que mais eu iria responder)
-Então menina... O que acha de um café... Para por o papo em dia?
E agora? E o trabalho?
Rapidamente ela pesou os prós e contras e meio que sem muito pensar.
- Eu topo.
Ele abriu a porta do carona e impulsivamente AnaLe sentou se no banco confortável.
Nossa... Que carro lindo.
Ela tremia e as mãos suavam. Enquanto Gil dirigia, ela se pôs a observa- lo. Alto, moreno. Sorriso alinhado. Cabelo curtinho preto. Cheiroso...
Hummm... Ele tem cheiro de manhã orvalhada. O que será que ele está pensando. Puxa queria saber ler mentes... Tipo o professor Xavier ( X-man).
Ele puxa o ar e também assunto.
-Entao...  Me fala de você.
-O que quer saber?
Que acidaaaa eih. Pensou se recriminando.
- Casada? Filhos? Como estão seus pais? Tanta coisa que não sei... O que você quer contar?
Respira, respira...
-Vamos lá... Casada, por enquanto. ( Não acredito que falei isso. O que há comigo?). Tenho dois filhos. Não moro com meus pais, mas tenho contato e eles estão bem. Obrigada por perguntar.
Silêncio....
-E você Gil?
Enquanto estacionava ele respondeu rápido:
- Separado, um filho maior de dezoito anos, trabalho. Não moro com meus pais... Eles também estão bem.
Quando o carro parou totalmente foi que AnaLe percebeu, não estavam em um restaurante ou café. Estavam ao ar livre. No parque central da cidade.
O que será que ele pretende. Pensou
-Desculpe me. Mas você me parece precisar de ar puro e espairecer a mente.
Que isso amigos, o rapaz lê mentes?!?! Xavier é você? Ironicamente pensou.
-Ar puro realmente faz bem.
-Voce não se importa de aparecer em público com um homem que não seja seu marido não é?
-Na verdade, não pensei em nada disso quando aceitei sua proposta. Mas não. Não me importo.
-O que acha de sentarmos em um banco?
- Claro.
Sentaram se próximo a um riacho, embaixo de uma árvore. Dessas típicas de parques... Algumas pequenas florinhas amarelas caiam dos altos galhos.
- AnaLe, menina. Você não vai acreditar, mas queria muito reve la. Lembro de você pequena, cabelo loirinho. Esse narizinho arrebitado e seus olhos vivos e brilhantes. Acho que em tempo algum jamais iria me esquecer desse brilho.
-Estou ficando sem jeito.
As faces coradas a denunciariam antes que sua boca se abrisse.
- Não fique, menina. Não era minha intenção...
E os assuntos começaram a fluir... AnaLe começou seu passeio de memórias em baixo daquela árvore. Voltou como se fosse um túnel do tempo, para uma época onde ela era feliz... Mas ela não é feliz??? Sempre achava que sim. Agora um turbilhão de contradições surgia dentro de si.
E nesta manhã já não importava mais o sol escaldante. Nem o tempo apressado... Os compromissos??? Foi como um stop. O tempo havia parado.
Só havia ele, o riacho, a brisa e ela.
Sorria desmedidamente...
-Parece que não é só o olhar que continua o mesmo, o riso, o humor... Menina, que bom te reencontrar...
E sem que ela pudesse esperar, ele a abraçou e ela se derretia naqueles braços.... Todas as barreiras caíam. Quando foi o último abraço que havia recebido? Não, ela não conseguia se lembrar... Mas como era bom... Alguém realmente se sentia feliz em reve-la, alguém não havia esquecido dela... Daquela juventude que até mesmo ela havia esquecido.
Algo dentro de si estava mudando. Naquele abraço.
Naquela manhã.
Um simples reencontro.

Existe vida após o divórcio!?Onde histórias criam vida. Descubra agora