Prólogo: O peixe morde a ísca

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Quioto – Japão

Os fracos feixes de luz da lua, que ultrapassavam as brechas das cortinas escuras, iluminavam parcamente o ambiente, revelando um homem sentado em sua cadeira estofada atrás de uma mesa, fumando um charuto da melhor qualidade e envolto pela penumbra da noite, tão entediado em seus pensamentos que não se importou quando o silêncio foi rompido por um abrir de porta brusco.

Logo após, um choro frenético chegou aos seus ouvidos, e isso sim o deixou perturbado. Levantou-se da cadeira de imediato, e seguiu em direção aos recém-chegados. Um homem de meia idade, não muito corpulento a quem chamavam de wakagashira, o segundo no comando, e uma moça de cabelos curtos e grandes olhos arredondados, a dona do choro.

Olhou para a garota com um ar desdenhoso e isso pareceu fazê-la engolir o choro, que voltou com toda força quando ele desferiu-lhe uma bofetada no rosto.

Oyabun, nós a encontramos a caminho da Embaixada — observou o homem ao lado, referindo-se a moça.

— Menos mal, mostra que não são tão incompetentes assim.

— Porém, temo dizer que acho que ela conseguiu fazer uma denúncia antes de conseguirmos localizá-la, chefe.

A informação fez com que a face do homem, o chefe Oyabun, adquirisse um tom púrpura de raiva e ele voltou a olhar para a garota, agora com mais ódio do que desdém.

— Você fez isso, boneca? — perguntou pausadamente, esquecendo-se de que ela provavelmente não entendia sua língua. — Traduza para ela!

O seu braço direito fez o que tinha mandado sem titubear e a garota, ao invés de dizer qualquer coisa, apenas abaixou a cabeça e continuou a chorar. Ganhou uma nova bofetada por tal atitude.

— Saia! Deixe-me a sós com ela — ordenou.

— Mas chefe... — ele se voltou para seu subordinado, lançando-lhe um olhar duro de repreensão.

— Preciso lembrar-lhe quem dita as ordens aqui?

— Não, chefe.

Dizendo isso, o subalterno fez uma reverência e saiu.

A sós com a garota, o homem continuou a fumar seu charuto e se afastou dela, voltando para sua cadeira estofada. Assim que se sentou, abriu uma gaveta em sua mesa e retirou de lá uma arma prateada de cano curto. Em seguida, deixou o charuto sobre um cinzeiro e pegou um silenciador, encaixando-o à pistola com todo o cuidado do mundo. A garota recomeçou seu choro frenético diante da cena e ele apenas sorria de uma forma que tornava seus olhos, naturalmente puxados, apenas dois pontos pequenos e iluminados naquele ambiente funesto.

— Muito bonita, é até uma pena... — disse para si mesmo, pois sabia que ela não conseguia compreendê-lo.

Agora com a arma em punho, aproximou-se dela e puxou-a pelos cabelos, fazendo-a ficar rente ao seu corpo. A mão com a pistola desceu por seu corpo, deixando-a sentir a frieza do metal e então parou em suas partes íntimas. Ali, ele a acariciou com o cano da pistola, arrancando-lhe um gemido desesperado. Isso apenas serviu para alimentar ainda mais seu sadismo.

— Tudo poderia ter sido diferente se não fosse uma menina má — comentou, continuando com sua dança erótica da morte. — Porém agora existe uma grande possibilidade de ficarem na cola do meu filho e quem sabe chegarem até mim... não posso arriscar.

A garota continuava a chorar e tentou se desvencilhar dos braços fortes do homem, que a conteve sem dificuldades. Cansado do joguinho, ele colocou a pistola na cabeça dela e falou, próximo ao seu ouvido:

— Ninguém mandou tentar fugir, boneca.

Em seguida, apenas um pequeno estampido soou e o corpo da garota tombou no meio da sala com sangue manchando o carpete. Sem demonstrar qualquer tipo de emoção diante do que acabara de fazer, ele foi até sua mesa e guardou a pistola. Pegou seu charuto e se encaminhou para a saída do cômodo.

Assim que abriu a porta, deparou-se com o rosto assustado do seu subordinado e apenas voltou o olhar para o interior da sala, dizendo:

— Limpe a sujeira, Hideki-san — fez uma pausa, dando uma tragada no charuto. — E quando digo isso, refiro-me a tudo o que a denúncia dela pode vir a causar.

— Sim, chefe.

Sem postergar, foi-se por um longo corredor escuro, deixando para trás um homem e uma missão para resolver. Senão, poderia acabar como o corpo estendido no chão acarpetado daquela sala macabra.

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