Capítulo Um – Shanghai?
Por Eric
Eu não sabia por que não tinha pensado nisso antes. Quer dizer, estava na cara não é mesmo? A fachada iluminada em vermelho do restaurante japonês me encarou como se fosse um monstro devorador de almas no escuro da noite, mas endireitei minha gravata, travei o carro e andei calmamente até lá, sendo prontamente recepcionado por uma mesura a lá Japão da moça sorridente que me indicou a mesa onde meus companheiros aguardavam.
É claro que iriam escolher um restaurante japonês!
Devia ser alarmante o fato da recepcionista saber quem eu era antes sequer que eu me apresentasse? Digo, eu não poderia ser simplesmente mais um nipo-descendente consumidor de comida japonesa procurando um pouco de saquê e peixe cru? Não, ela sabia quem eu era e certamente não era esse cidadão anônimo que acabei de descrever. Estava lá, no brilho do olhar dela, o reconhecimento, embora fosse profissional o suficiente para não comentar nada. Isso e o jornal dobrado no balcão atrás dela com a minha foto estampada na primeira página deixaram bastante clara o tipo de situação em que estava me metendo.
Lá vamos nós. Investigador Eric em cena. Eu sabia exatamente o que ia acontecer a partir daí.
— Aí está o nosso homem! — gritou meu chefe e desconfiava que ele já tinha bebido demais. Ele ergueu seu copo. Consegui ver pelo menos dez figuras importantes do departamento de polícia e outros homens desconhecidos, que tinha a leve impressão de que seriam importantes na minha carreira. — Yoroshiku onegai shimasu! — ele berrou e o restaurante todo o encarou.
Ele vinha fazendo isso ultimamente e não sabia como pará-lo. Acho que começou quando a mídia enlouqueceu depois de um caso de terrorismo, com repercussão internacional, que eu interceptei. Aliás, não sei como descobriram meu nome, pelo amor de Deus, eu faço parte da Inteligência Policial! É praticamente o serviço secreto, não era para ter minha foto em todos os jornais e todas as revistas circulando por aí como se fosse um maldito galã! E de repente me tornei O Agente Eric Shimura. O homem. O invencível. O poderoso. Não estou negando esses fatos, concordo que sou realmente bom no que faço, mas há um limite para tudo, não? E o correto nem é "agente" e sim investigador!
Investigador Eric Shimura!
Aparentemente, ao invés de proteger a imagem de seu investigador, o departamento de polícia todo enlouqueceu junto, como numa espécie de delírio coletivo. Eu recebi um aumento, não que isso seja necessariamente ruim, mas só estava fazendo meu trabalho, não estava interessado em ser o rostinho bonito do calendário policial.
Nem o próximo alvo de algum idiota querendo bancar o vilão.
Mas o problema maior veio quando uma revista famosa resolveu começar a me chamar de Agente Ninja. As manchetes eram repetições de: "É lógico que ele só poderia ser japonês". "Mas como ele teve a ideia de rastrear o caminhão do lixo, carregado de material para a construção de uma bomba? Só podia ser inteligência japonesa". Queridos, eu só rastreei as células terroristas. É isso que eu faço. Rastreio pessoas. E coisas.
Eu devia ter imaginado que esse tipo de atenção só daria ideias erradas ao pessoal.
Mas aparentemente agora sou o superagente.
Japonês.
Eu não sei quase nada da cultura japonesa! Alguém me salve, por favor, porque todo mundo resolveu achar que sou a encarnação de Buda e que de repente sei tudo sobre o Japão!
Ok. Desculpe. Talvez eu esteja um pouco estressado. É por causa do meu chefe. Com seu maldito guia de conversação em japonês.
Eu não falo japonês.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Operação Shanghai
Storie d'amoreSinopse: Paola Manzoni é contratada para ser secretária do Departamento de Polícia e conhece o excêntrico Eric Shimura, famoso por suas investigações. Durante a importante operação chamada Shanghai, os dois descobrirão que podem estar caçando um ao...