Chicletes de Melancia

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Ele era o dono do mundo. O relógio girava ao próprio gosto. Ou, pelo menos, era o que Taehyung pensava. Seu tempo corria devagar.

Na verdade, julgava a velocidade ideal. Ideal para um garoto de oito anos. Dava tempo pra tudo, e suas horas eram infinitas.

Taehyung não parava quieto. Não calava a boca. Tinha sempre uma resposta na ponta da língua, alguma desculpa esfarrapada no bolso. Tinha uma penca de amigos. Era criança. Dessas crianças que já não se vê mais com tanta frequência, dessas que brincam na rua e ralam os joelhos, que não tem medo de se sujar na lama. Era uma criança de sorriso fácil e olhos brilhantes, perninhas magras cor de caramelo e alto demais para a sua idade. Meio desajeitado, é verdade, o que lhe rendeu um bocado de machucados e alguns ossos quebrados com o passar dos anos.

Estava na fase em que ir para a escola era mais um prazer do que um dever. Quando finalmente o ônibus escolar passou em frente a sua casa no primeiro dia da terceira série, Taehyung estava ansioso para rever logo os colegas. Cumprimentou o motorista com um sorriso largo e retangular, os dentes de leite mascando chicletes de melancia. Entrou saltitante pelo extenso corredor, berrando e rindo com as outras crianças, e se sentou na janela ao lado de um banco vazio. Mesmo assim, não passava muito tempo sentado. Estava sempre de pé, apontando para algum lado, rindo de alguma piada boba e infantil. O médico dizia que tinha hiperatividade e déficit de atenção, ou como sua mãe chamava: "as doenças das crianças saudáveis".

Na parada do ônibus escolar, logo depois de sua casa, um garoto entrou. Taehyung o observou por um momento, e concluiu que nunca tinha visto o pequeno. Era uma gracinha mesmo, com cabelos muito pretos feito cogumelo na cabeça, a pele bem branquinha e olhos grandes e muitos escuros. Usava uma mochilinha vermelha do Homem de Ferro, e tinha uma lancheira pra combinar em mãos. O uniforme dele estava passado, sem uma mínima dobra, e a camisa enfiada pra dentro dos shorts curtos, o oposto do uniforme amarrotado e desajeitado de Taehyung. Ele encarava os próprios pés, botinhas cor de mostarda bem bonitinhas e pequenas, nem um pouco parecidas com os tênis coloridos de velcro das outras crianças. As botinhas dele tinham cadarços de verdade, e Taehyung pensou que gostaria de saber amarrar cadarços.

Naqueles poucos segundos enquanto o garoto andava pelo corredor do ônibus, torceu secretamente para que ele se sentasse ao seu lado. Era mesmo muito fofo. Taehyung se sentou comportado, esperando não assustar o garotinho novo. Ele parecia ser tímido.

Ao passar pelo banco vazio ao lado de Taehyung, o garoto de cabelos negros parou. Ele levantou os olhos investigativos até o rosto de pele caramelo, e foi recebido por um sorriso caloroso de lábios cerrados. Hesitante, o pequeno sentou-se ao lado do garoto magricela, e Taehyung notou que os pés dele não alcançavam o chão.

— Olá!

Os olhos negros do garotinho focaram em si, curiosos, mas ele não respondeu. Taehyung investigou os bolsos do uniforme amassado.

— Quer chiclete? É de melancia.

Taehyung estendeu a mão de dedos finos e unhas roídas, e o garotinho encarou o pacotinho rasgado de chicletes.

Pegou um. Parecia proibido aquilo, e sua mãe não permitia que mascasse chicletes ainda. Dizia que era novo demais e poderia engasgar. Colocou a goma de mascar na boca e sorriu pequeno ao sentir o gosto exageradamente doce. Não se parecia em nada com melancia de verdade, mas era bom.

— Gostou? – O garotinho confirmou com a cabeça. – É bom, né? Eu sou viciado em chicletes. Na verdade, acho que qualquer doce. Minha mãe diz que eu como açúcar demais e por isso não consigo dar descanso! Maior bobagem. – Riu. – Qual seu nome, hein?

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