Capítulo Unico

138 12 1
                                    

As cores da janela do avião deveriam ser as mais belas aos olhos dele. Mas Jesse não conseguia ver beleza na mistura de cores, só incerteza. E desespero. E esses sentimentos corroíam ele por dentro. Era tão injusto, chegava a ser irônico. Essas coisas simplesmente aconteciam nos melhores momentos, quando já estava tudo preparado. Tudo tão sonhado.
A forma como ela poderia ser tirada dele era cruel, fazia ele sentir como se ele tivesse o mundo em suas mãos, mas estivesse ficando cada vez mais inconstante. Mais fraco. Estava desaparecendo.

Tudo ao redor dele parecia tão frio. Nem as músicas que normalmente o acalmariam durante a viagem de horas puderam tirar aquele aperto do pescoço dele. Ele estava se esvaindo junto. Normalmente, durante as viagens aéreas eram o que mais incomodava Jesse, ele se sentia preso e de certa forma, sem tem controle algum do que poderia acontecer. Mas logo quando o avião pousava, essa sensação ia embora. Desta vez não foi assim.

Quando o avião pousou e ele junto dos passageiros desembarcou, a sensação pareceu aumentar. Após pegar a sua mala, o rapaz saiu do aeroporto Alemão e logo entrou em um dos táxis estacionados ali, deu o endereço do hotel em que se hospedaria durante um tempo indeterminado, que ele esperava ser único e que nunca mais tivesse de passar por uma situação parecida.

Durante a pequena corrida até hotel, Jesse pôde ler o letreiro do Waldhotel Stuggart, e após pagar o taxista, ele rapidamente levou sua bagagem para dentro e ao fazer o check-in rápido, nos minutos seguintes estava indo para o quarto 64.

Ele não estava com vontade nenhuma de parar no hotel mais que o necessário, mas o seu corpo implorava por apenas algumas horas de descanso, então mesmo contrariando seu coração, ele foi para o banheiro e tomou um banho demorado. Talvez ajudasse a levar metade daquele cansaço.

Os mesmos pensamentos que o assombraram no aeroporto de Los Angeles voltaram a se fazer presentes. E se não fosse o suficiente? E se alguma coisa desse errado? E se tivesse piorado? E se as dosagens aumentassem? E se ela não fosse forte o suficiente? E se aquilo exigisse muito dela?

O problema era que sua noiva havia sido internada na Clínica de Stuttgart com leucemia em um estágio avançado, não terminal, mas não seria tão fácil de curar. Ela havia vindo para Alemanha fazia pouco mais de dois dias, e ele infelizmente não pode vir com ela. O pior era que, por mais que ele tentasse esconder, o desespero tomava conta dele de várias formas e ele cada vez menos conseguia controlar os impulsos que lhe ocorriam. Era assustador o que um simples diagnóstico poderia fazer com uma pessoa. Estaria ele sendo esperançoso demais? Ou talvez estaria não esperando nada e quando o tratamento terminasse ela voltaria para casa com ele e eles teriam o sonhado casamento? Ou tudo essa esperança seria uma forma de adiar o inevitável e ela não voltaria com ele? Tais dúvidas vinham aparecendo nos pensamentos do rapaz a cada fração de hora. Ele esperava desesperadamente que a segunda fosse a correta, porque com certeza era a única que ele conseguia aceitar. As outras eram apenas hipóteses que vagavam por seus pensamentos, mas que ele não conseguia nem prolongar a duração delas por mais de meros segundos.

Ao deitar na confortável cama do quarto de hotel, por mais que ele quisesse e se obrigasse a isso, ele não conseguiu manter os olhos fechados por pouco mais de dez minutos. Era tortuosamente doloroso a certeza da incerteza. Ele pensava sobre como odiava histórias cliches, mas que nada mais definia ele que o básico "o meu mundo estava desmoronando junto com ela". Os momentos que eles viveram e sonharam com esse casamento desde os 12 anos, o assombrava, era aterrorizante a ideia de não conseguirem realizar algo tão simples porém de sumo importância e significado para os dois.

E sem ao menos perceber, grossas lágrimas cortavam os eixos de seu rosto. Não, Jesse nunca foi do tipo que detesta chorar, muito pelo contrário, se ele tivesse que chorar, choraria sem se importar em como as pessoas ao seu redor lidariam com isso. Não era como se ele ligasse para o que as pessoas acham, de qualquer forma.

Califournia Onde histórias criam vida. Descubra agora