PRÓLOGO

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Andrew McCall

Afeganistão.

Estou deitado em uma das camas do alojamento. Voltamos faz alguns minutos de uma missão na qual sofremos uma emboscada e dois dos nossos soldados foram feridos. Um deles tomou um tiro de fuzil na perna, e o outro foi atingido no peito. Batemos em retirada quando o reforço chegou e os trouxemos para a tenda dos médicos. Espero que eles consigam salvar a vida do soldado Dantas, que foi atingido no tórax e perdeu bastante sangue durante o caminho. Não é fácil ver um companheiro ser atingido durante a batalha. No entanto, já estamos acostumados a esse tipo de acontecimento. Quando estamos no campo de guerra, somos obrigados a viver 24 horas por dia em alerta. Devemos sempre estar de prontidão. É difícil termos descanso.

Ninguém me falou que seria fácil ser um soldado. Faz seis anos que sirvo ao meu país. Alistei-me assim que completei 18 anos. Meus pais não apoiavam a minha decisão, mas era isso que eu precisava fazer. Não podia continuar em casa, lembranças do que eu fiz me assombravam constantemente. As lutas clandestinas de que eu participava já não surtiam efeito, elas já não me acalmavam mais. Precisava arrumar um novo jeito de extravasar a minha raiva, senão ela me consumiria.

Uma noite, quando eu estava andando pela rua de volta para casa após uma luta, deparei-me com uma tenda onde soldados distribuíam folhetos do Exército e, naquele momento, com o folder na mão, tomei a decisão de me alistar. Os três anos que passei lutando ajudaram-me a ganhar músculos, a minha altura também me favoreceu, e eu consegui passar nas provas.

— Sargento McCall, o tenente quer vê-lo — a voz do soldado me tira dos meus pensamentos.

Aceno para ele e me levanto da cama, sigo em direção à tenda do meu superior e bato continência ao entrar.

— Sente-se, McCall, precisamos conversar — ele pronuncia com a voz séria. — Faço o que ele ordena. — Sargento, não irei enrolar você. A notícia que tenho para lhe dar não é boa, contudo, não vejo outra forma de lhe dizer a não ser de uma vez. Fomos avisados de que os seus pais faleceram hoje pela manhã. Sinto muito.

A dor que atinge o meu peito é tão forte que levo o punho ao tórax e o massageio numa tentativa de aliviar a dor.

— Um helicóptero está vindo buscá-lo para o levar para casa. Você recebeu uma licença. Pode ir para Seattle cuidar dos preparativos do enterro. Meus pêsames.

Murmuro um "obrigado", bato continência e saio atordoado.

Meus pais eram tudo o que eu tinha. Agora não tenho mais ninguém, estou sozinho no mundo. Será isso algum tipo de castigo? Será que estou sendo punido pelo que fiz no passado? 

Protegida por você - Série Seattle 03 DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora