22. Ela

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- Meu nome é Zelda. Zelda Lobato de Djens.

- Eu não...

- Cícero. – ela diz, sorrindo de leve e com uma paciência que qualquer um teria inveja. Entendo o recado e deixo que continue, mesmo sem compreender realmente onde ela estava querendo chegar. – Nós estamos aqui há... Algumas horas. Nós dois. A gente nem se conhece de verdade, Cícero, mas realmente espero que isso aconteça e acho que esse é o melhor jeito.

Zelda tem razão. Quanto tempo havia passado com ela só nesse último mês? O quanto realmente eu a conheço? Fomos dois estranhos nos esbarrando por aí, e nos esbarrando de novo e de novo. De alguma forma, entramos na vida um do outro. Mas a gente se conhece? Quem é Zelda Lobato?

Ela ainda não me conhece. Ainda.

- Está vendo esse prédio bem aqui? – ela aponta para um dos edifícios que compõem nossa vista. O prédio é velho, porém com um ar chique, daqueles antigos. Com um balançar de cabeça, confirmo e minha amiga continua. – Minha mãe trabalha nele. O nome dela é Vivian. Acho que nunca te contei nem o nome dela, né?

- Você nunca me contou nada. – deixo escapar, quase num sussurro. Ela, literalmente, nunca me contou nada sobre sua vida. Única coisa que sei sobre a garota com quem vivo passando mais tempo nessas últimas semanas, é que ela tem a minha idade, não come carne, acredita em reencarnação e ama filmes do Woody Allen.

- Desculpe por isso, Cícero. Eu sei que sou uma tagarela e que vivo falando de coisas não tão importantes. – ela sorri. – Mas chegou a hora, né? Eu já sei muito de você e nem precisei que você me contasse. Vou ter que dar esse "empurrãzinho". Como eu ia dizendo, minha mãe se chama Vivian. Ela trabalha como secretária nesse prédio e, por isso, acho que você nunca me viu falando dela. Não por ela ser quase uma escrava pra eles, mas por não ter tempo mesmo. Ela está sempre trabalhando.

- E o seu pai? Você nunca...

- O meu pai. Bem. Complicado. – ela faz uma pausa, tentando organizar seus pensamentos e logo retoma, voltando à mãe e eu apenas assenti. – Minha mãe sempre quis fazer Literatura e esse é um dos motivos para que eu queira. Não havia mencionado isso também, eu acho. Sempre quis fazer Letras. É uma coisa bem cúmplice de nós duas. Eu escrevo alguns poemas e... E não são tão bons, para ser sincera, mas eu gosto. Faz com que eu me sinta bem. E a minha mãe também. Ela sempre escreveu, sabe? Desde que era pequena lembro-me dela escrevendo pelos cantos, ou até mesmo falando em voz alta. Só que, pela nossa realidade, ela não conseguiu uma faculdade. Na verdade, ela exercia outra profissão e estava tudo indo bem, mas... Bem. E é aí que entra meu pai.

- Certo. – digo, como um idiota tentando raciocinar tudo.

- Bom, antes de tudo, ele não é daqui. Veio de Guiné-Bissau, não sei se você sabe aonde é. Meu pai sempre teve um talento imenso para cantar, mas nunca conseguiu dar certo porque as oportunidades na África são quase mínimas, ainda mais para um cantor de Blues. Ele era inspirado por grandes personalidades dos Estados Unidos, o que o fez sempre ser olhado de uma maneira péssima, principalmente por seus parentes. Sendo assim, acabou conhecendo minha mãe lá, já que ela trabalhava para um homem um tanto importante no ramo dos negócios. Eles se apaixonaram e, além de se afastarem do golpe que se instalava na Guiné, vieram pro Brasil em busca de uma oportunidade, já que minha mãe tinha a família toda aqui. E, impressionantemente, - ela ri de uma maneira irônica – quem se deu bem foi só ele mesmo.

- Calma aí, seu pai é um cantor famoso? – pergunto, pensando em minha cabeça todos os rostos de cantores próximos às feições dela.

- É... Anástacio de Djens, talvez você o conheça como Tacio, aquele que gravou com o Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal... – ela fala cada nome com a cara mais linda do mundo, o que me deixa mais perplexo. Sua bochecha ganha uma cor um pouco rosada, com vergonha de estar se expondo desse jeito.

- MENTIRA? Tem uma música dele que minha mãe adora! Acho, mas deve ser. Teve um dia que ela até falou que queria ir num show.

- É, ele é meu pai – ela ri.

- Ok, agora me pegou.

- Mas nem tudo são flores, né? Ele deixou a gente assim que começou a fazer sucesso e minha mãe teve que cuidar de mim sozinha, o que me deixa... – ela pega na minha mão e a sinto ser apertada com força. Zelda fecha e abre lentamente os olhos, continuando a falar – com muita raiva. Enfim, depois disso ele teve até sucesso fora daqui e tal, mas a gente nem soube do homem mais. Passaram uns anos e a secretária dele nos ligou avisando que meu pai enviaria um cheque mensal e, basicamente, é isso que paga meu colégio até hoje. – os olhos castanhos da minha amiga começam a ficar marejados e, em segundos, algumas lágrimas tímidas começam a rolar por suas bochechas.

Ela as seca e sorri, mas é um sorriso diferente dos outros que vi. É aquele sorriso de "pronto, agora você me conhece e sabe o pior de mim", mas, mesmo que tenha sido horrível o que o pai fez com as duas, ela continua sendo incrível. E agora eu a conheço, e acho que por completo. É uma sensação incrível conhecê-la e conhecer seu mundo. Ela é incrível e vou repetir isso quantas vezes forem necessárias.

Zelda é incrível.

- Ei, eu to aqui. – digo e abraço Zelda bem forte, de maneira que ela se sinta totalmente fora do mundo, apenas comigo ali. Apenas eu e ela. 




GENTE NÃO IGNORA ESSAS NOTAS OBRIGADA DE NADA

HEY!!!!!!!!!! Como vocês estão? Gente, essa é a Zelda. Sim, filha de um cantor famoso. Sim, esse cantor famoso existe, mas não, não fez parceria com Caetano, Gal, ninguém e nem é  a história dele de verdade hahahah 

* Sobre o que aconteceu com a Tessa e que muitos não entenderam: 

A história é contada pelo ponto de vista do Cícero, então não tem como ele saber o que/como aconteceu a morte dela. É livre para a imaginação de vocês. Não tem como explicar, porque só ela esteve lá. Repensem nas atitudes dela e as entrelinhas de suas falas, depois tentem imaginar o que pode ter acontecido. Talvez um dia eu faça um capítulo extra, ou algo do tipo, mas não acho que seja necessário e nem que tenha a ver com a estrutura da história, enfim. 

* Sobre o próximo capítulo: 

Eu estou sem tempo nenhum de escrever, tanto que toda a reserva de capítulo já foi postada e estou num total de 0 escritos. Então não sei se o próximo vai sair semana que vem, peço desculpas desde já. 

BOM, É ISSO 


Beijos com gosto de chocolate 

Cícero Quer Ir à Praia [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora