11. Gregório Tem Interesse

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- Gregório? GREGÓRIO? - chamei. - Gregório, dá pra você parar de me ignorar?

- Eu não falo com moscas nerds.

- Para de graça.

- Eu não sei que zumbido é esse. Hum...Seria uma puta mosca inconveniente?

- Greg. Eu nem sou nerd.

- Zuuuuuum.

Revirei os olhos. Meu melhor amigo é tão chato. Fico esperando ele abrir a boca.

- Eu só não acredito que tu não me contou que elas estão ensaiando na sua casa! Quantas? Dez, quinze? Quinze garotas dançando na sua garagem, e tu não me avisou. Eu, seu melhor amigo. Inacreditável. Eu realmente espero que você vá para o Tártaro.

- Em minha defesa, não achei pertinente.

- Não achou pertinente??

- Desculpa!

- Zuuuuum! - ele faz com raiva e vira de costas, como uma perfeita criança gorda e ruiva.

- Mas, sério, você ainda joga Zelda?

- ZUUUUM! - Gregório imita uma mosca e marcha para fora do colégio.

- O que ele tem?

Tessa aparece e pergunta. Ela está com seu coturno. Também tem lápis nos olhos e seu cabelo está preso numa trança bagunçada. Ela é tão bonita que tenho vontade de chorar. De verdade. Ela parece um anjo. Um anjo que esmaga meu coração maldito.

Até esqueço o que ia falar.

Suspiro, pensando o quão clichê eu estar apaixonado por ela pode ser, e então volto à realidade.

- Ta com raiva porque não contei que as garotas estão ensaiando lá em casa.

- Quais garotas?

- Da dança, lá do festival. - digo. - Eduarda. - então ela se recorda e revira os olhos.

- Gregório! - ela grita, correndo até nosso amigo e vou atrás deles. - Gregório, tu pare de graça, seu desmiolado! - dá um tapa em sua cabeça quando o alcança.

- Ai! - ele coça a parte em que a mão pesada de Tessa bateu. - Bruta.

Ela sorri.

- Você é tão chato.

- Você também é muito chata, obrigado.

- Gregório. - digo.

Ela fica emburrado e para de me ignorar, encarando minha cara quadrada. Ele abre e fecha o nariz como um tourinho e põe os fones no ouvido. Se vira, me dando as costas e dizendo, ao começar a andar pra casa:

- Te vejo mais tarde na sua casa, Mosca.

Diz, enquanto marcha embora.

***

E agora está aqui.

- Agora você quer meus serviços como amigo?

- To aqui pelas garotas.

- Isso que é amigo.

- Quer mais? Entra no chat UOL. - ele diz e solta uma risadinha. - Abre logo essa porta antes que eu te esmague e saia rolando em cima de você. Mas bem que você merece.

- Cícero! Abre essa porta, meu filho. - Mãe diz, da sala. Ela chegou do trabalho há minutos e já vai me destruir.

- Ele não merece.

Tac tac tac.

- Gregório, oi! - ela surge ao meu lado e sorri para meu amigo.- Entre. - engrossa a voz, me mandando uma indireta sonora.

- Muito obrigado, senhora Catarina.

- Ah, por favor! Não me chame de senhora, não sou uma velha.

- Tudo bem, está certa. Muito obrigado, Catarina.

- Não há de quê. - sorri e me lança um olhar reprovador, indo embora para o quarto.

Ele veio para ver as garotas ensaiaram, mas, como fomos proibidos por Eduarda – muito mais consciente do que meu amigo -, estamos fazendo maratona de série. Uma vez ou outra alguém entra para ir o banheiro ou pedir água, e é aí que Gregório demonstra total interesse.

- E aquela menina? A Mariana? - pergunto, pegando a pipoca.

- Não me respondeu mais.

- Eu disse que você era chato.

- Olha só, você não entende. - ele coça os caracóis ruivos. - É tudo tática. Eu conheço. Vai me ignorar um tempo, fingindo estar ocupada, e depois dizer "Ah, me desculpe. Estava ocupada, não deu pra responder. Que tal nos encontrarmos para trocar saliva?"- ele faz um gesto como se beijasse uma mulher invisível e faz sons esquisitos.

- Ah, claro! - começo a rir.

- Diz aí, tu viu o que a Tessa fez com Os Caras?

Os Caras é um segundo nome para A Gangue.

- O que ela fez? Quando? - não lembro de nada que tenha acontecido hoje no colégio envolvendo A Gangue, muito menos Tessa. Apesar de que fiquei dois séculos na fila da cantina sozinho, porque meu melhor amigo estava com preguiça de tirar sua bunda gorda e ruiva do gramado e minha pequena paixão e melhor amiga estava muito ocupada perdida em seus pensamentos que mal me deu atenção.

- Beto apareceu. Você tinha sumido - por que será??? - e ele ficou falando um monte de besteira pra ela, porque aparentemente Tessa jogou seu estojo na privada.

O quê?

Por que, pelo amor de Deus?

Essa foi a pergunta que fiz à ela, mais tarde, antes de dormir. Liguei pra Tessa, primeiro porque estava com saudade de falar com ela e queria falar um pouco de Vikings, segundo, porque queria ouvir da boca dela o motivo. E a resposta dela foi:

- Porque eu quis.

E mais:

- Por tudo o que ele e toda sua gangue idiota faz com você e o Gregório, ele merecia muito mais. Muito mais, mesmo.

- Com você também. - eu disse.

- Comigo é pouco, é coisa "normal" de gente imbecil. Mas com vocês é demais, você não acha demasiado?

- Hum... Um pouco. Não chega a ser... Não sei. É. Talvez.

- É, Cícero.

- Talvez.

- É, talvez. - depois de uma longa pausa e momento em silêncio, ela diz que precisa desligar. - Boa noite, Cícero.

Boa noite, Tessa.

Cícero Quer Ir à Praia [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora