25. A Calmaria

1.1K 253 67
                                    


OI, OI, OI! Como vocês estão? Estou aqui para lembrar que esse é o penúltimo capítulo de Cícero Quer Ir à Praia. Isso mesmo! É o penúltimo e eu estou sofrendo muito por isso, já que é minha história favorita minha (isso ficou certo?). Enfim, muito obrigada por tudo! 

Ps: fotografei a @queenbrubs e tem umas fotos dela no meu site beulasartes.com 

Boa leitura e até o próximo, e último, capítulo <3

beijos com gosto de chocolate




Não temos ideia de como o Universo é realmente regido. Não sabem nem o tamanho dele. Alguns acreditam que uma explosão começou com tudo isso, outros têm certeza de que um ser maior deu ordens à natureza.

Não sabemos o que irá acontecer daqui a um segundo. Nem em algumas horas. Dias. Planejamos, mas não podemos saber com certeza. Nós somos tão pequenos em relação ao Universo, que não somos donos nem de um segundo da nossa vida. Não controlamos nada. As coisas acontecem porque devem acontecer e da maneira que é necessária.

Chega a ser absurdo. Até quando não esperamos por algo, esse pode acontecer, pois é a ordem do Universo. Mesmo que não seja uma ordem boa, à nosso ver. Não fazemos ideia de absolutamente nada.

Eu não fazia ideia de que Tessa partiria.

E nem que eu achasse um bilhete seu, escrito alguns dias antes de seu desaparecimento.

A praça está vazia, com algumas decorações já para o Natal. As pessoas são incrivelmente ansiosas. As luzinhas iluminam o ambiente e nem parece que é uma cena de filme triste. Não que minha vida seja um filme, mas às vezes parece e muito.

Não sei que horas são, mas assim que enviei a mensagem à Zelda, vim correndo. Arranco alguns pedaços de madeira do banco descascado, enquanto balanço a perna sem parar. O pedaço de papel está frio no meu bolso e começo a querer chorar, até que a vejo vindo em minha direção.

- Eu estou aqui.

É a primeira coisa que Zelda fala.

- Obrigado.

- Eu sempre vou estar aqui, Cícero Alencar Braga. – ela se senta e me abraça forte, se aconchegando no banco. – Qual era a urgência?

Fico em silêncio, tentando pensar em como explicar para ela que Tessa deixou uma pista e eu não vi. Minha garganta prende e, assim que tento começar a falar, o choro toma controle, completamente descontrolado.

- Eu aqui, eu aqui. – ela faz carinho em minhas costas, enquanto me debruço com o rosto já inchado e molhado. – Você não está sozinho. Vai ficar tudo bem. Quer que eu ligue para alguém? Chamo o Gregório?

- Não. Não... Você basta.

Então Zelda beija minha testa e ficamos assim por um bom tempo.

Tento me recompor aos poucos e ela me ajuda. As suas mãos finas passa pelo meu rosto, jogando as lágrimas embora dele. Ela me observa, enquanto acaricia minha bochecha, e meu queixo, minha boca. Ficamos nos olhando, quase que em transe. Meu coração parece que vai sair do corpo.

- Eu... O que você precisa? – ela pergunta ao desviar o olhar e recolher as mãos.

Retiro o papel do meu bolso e a entrego, em silêncio. Com a voz alta, ela o lê:

"Eu não tinha este rosto de hoje,

assim calmo, assim triste, assim magro,

nem estes olhos tão vazios,

nem o lábio amargo.


Eu não tinha estas mãos sem força,

tão paradas e frias e mortas;

eu não tinha este coração

que nem se mostra.


Eu não dei por esta mudança,

tão simples, tão certa, tão fácil:

– Em que espelho ficou perdida

a minha face?"


- É um poema da Cecília Meireles. – ela diz, sem entender. – Você quem o escreveu?

- Não. Tessa.

- Tessa?

- Encontrei no meu caderno. Ela escreveu esse bilhete pouco antes de... Partir. Como eu não pude ver, Zelda? – começo a chorar novamente e sinto seus braços me afagando. – Não há como acabar com essa dor?

Zelda não responde imediatamente, ao contrário, consigo sentir sua mão se levantando. Ela também está chorando, mas logo se recompõe, diferente de mim.

- Sofrimento é como... Como uma vela de aniversário apagada, que pode reacender a qualquer momento, com nossa ajuda ou até mesmo sozinha. Acredito que haja um meio de acabar com ele, como a chama de um fósforo, que, quando apaga, é impossível acender novamente. Mas... Sem dor, Cícero, não há existência. Você precisa ser forte.

- Mas é muito complicado, eu não consigo, Zelda.

- Uma vez eu vi um episódio de Bojack Horseman, e foi dito uma frase que nunca mais esqueci. É sobre você ser perseverante, não desistir. Eu sei que no início parece impossível suportar a dor, mas você não pode desistir de tentar. Ele diz que "fica realmente fácil, mas você precisa fazer todo dia. Essa é a parte mais difícil.". E é mesmo. Mas você precisa tentar, Cícero. Não desista disso, porque vai acabar desistindo de você também.

- Você acha que eu consigo?

- Eu acho que todos nós somos capazes do que quisermos. – ela diz, beijando minha testa mais uma vez. Sua voz e seu abraço me acalmam de uma maneira que nunca imaginei.

Como eu disse: não temos ideia de como o Universo é realmente regido. E eu, menos ainda. A única coisa que tenho certeza é que Zelda surgiu na minha vida no momento certo. E é isso que digo para Gregório, assim que chego em casa.

Digo que Zelda veio para ficar. 

Cícero Quer Ir à Praia [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora