Passei a pensar nela todos os dias. Era incrível como ela me domou de uma forma que nem eu sabia que poderia ser domada. Era estranho pois eu nunca havia me apaixonado por ninguém como me apaixonei por ela. Não vou negar, já havia me apaixonado por meninos, mas aquilo não fora nada comparado a isto.
Não sei como explicar, mas quando eu estive com Caio, um ex cazinho meu, quando eu dormi com ele naquela virada de ano, não senti nada. Era como se meu corpo e alma estivessem fora de mim. Era como se aquilo não fosse normal. Então quando acabamos de transar ele me perguntou: foi bom? Eu virei para o canto e não disse nada, algumas lágrimas escorreram pelo meu rosto, eram lágrimas de arrependimento por aquilo ter acontecido. Se eu pudesse voltar atrás, ele nunca teria me tocado.
Foi tudo mera interpretação, eu parecia uma daquelas atrizes fazendo uma cena de sexo da qual ninguém se toca de verdade. Você não geme, não sente prazer, parece tudo tão estranho. Eu era estranha, mas ela não me fazia sentir assim, com ela o certo era incerto, e o errado era certo.Eu podia sentir seus olhares e suas investidas sobre mim. Ela sabia que eu jamais a olharia como amiga, no fundo ela sabia. Minhas colegas já haviam percebido, na verdade a sala inteira já sabia, menos ela. Manos a minha amada Fernanda.
Seus olhos sempre cruzavam com o meus por onde nós fossemos, ela passava no corredor e lá estava eu, a olhando, ela sorria timidamente e ia embora como se aquilo que ela fizesse fosse estranhamente incerto. Apesar dos olhares que ela me lançava eu sabia que não passariam de olhares. Nós sabíamos dos nossos desejos impuros, mas só nós saberíamos deles.
- Abram o livro na página 37. - Disse ela me olhando rapidamente.
- Peixes? - Pergunto eu. - Não era para você estar dando a matéria sobre os fungos?
- Eu já falei sobre eles tem um mês, Bella.
- Não me lembro.
- Talvez se você prestasse mais atenção.
- Eu presto muita atenção, professora Fernanda. - Sorri quase a despindo. Ela com toda a certeza havia sentindo aquele meu sorriso malicioso a despir por completo.
- Vejamos... As aulas são um ensinamento básico daquilo que algum dia você vira em sua vida. Não é nada fantasticamente misterioso.
- Assim como os amores impossíveis? - Pergunto.
Ela me olhara confusa, de repente sua face branca como a neve se envermelhou, ela fica envergonhada.
- Não sei explicar.
- Nunca se apaixonou Ms. Alabarce?
- Claro que sim, mas este não é o assunto de nossa aula.
- Desculpe!
Ela explica sobre a reprodução dos peixes e outros animais, falou de um que só se reproduzia abraçando o outro e eu abracei a Stefani.
- Vamos reproduzir alguns bebês? - Eu disse e toda a sala riu, inclusive ela. Eu adorava fazê-la sorrir, por mais besta que eu parecesse, não me importava desde que ela estivesse sempre com um sorriso estampado em sua face por minha culpa. Sim, eu queria ser a culpada deste crime, eu queria fazê-la sorrir sempre.
Esse clima todo estava tão estranho, desde que ela me mandou aquela mensagem me perguntando de quem eu gostava e simplesmente as palavras "de você" saíram de minha boca fazendo ambas se calarem pela eternidade. Eu era uma criança para ela, talvez fosse isso o que ela imaginava. Talvez ela achasse que eu era uma criança na casa dos 10, que ainda nem havia entrado na casa dos 20. Eu não poderia ser madura com 19 anos, não para ela.
O sinal tocou e eu quase faleci por saber que ela não viria mais para a minha sala. O "até logo" dela fora um tiro em meu peito. Por que por mais que estivéssemos brigadas, eu ainda assim, a queria por perto, pois ela era tudo o que eu havia conhecido sobre o amor. Ela era o meu primeiro amor.