ATO 1 - Capítulo Um

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SETE DEMÔNIOS


"Todo contato deixa uma marca"

Edmond Locard


Amanhecia quando Ruan parou com o carro ao lado das ruínas do Teatro Baco. Um incêndio havia devastado grande parte do local e por isso ele veio a ser interditado.

Ninguém nunca soube o real motivo do acidente, só se sabe que próximo ao término daencenação de uma peça o teatro pegou fogo. Desde então, contam-se lendas por toda Ponta d'Água de que os atores andam pelo local recitando suas falas e tentando terminar a sua apresentação.

- Bem, chegamos! – Ruan desligou o carro, abriu a porta e saiu do veículo.

O teatro, ou o que sobrara dele, estavam localizados na Floresta da Ponta, que só era nomeada assim devido à Cachoeira Ponta d'Água, que ficava ao lado da construção.

- Vamos entrar nessas ruínas logo! – Pedro saiu do carro já colocando seus óculos escuros à lá John Lennon.

Não demorou muito para os demais saírem do carro, apenas Nikolas e Julia ficaram no veículo.

- O que vocês dois estão fazendo aí? – Luana já não tinha a fala tão arrastada, o cochilo tirado durante a viagem havia feito bem a ela, a bebida se distribuíra melhor pelo organismo. – Será que os pombinhos podem se aprontar?

- Vão indo na frente, depois acompanhamos vocês! – Julia estava dormindo no colo de Nikolas.

Ruan entrou no carro e tirou a chave da ignição.

- Eu vou, mas levo a chave comigo! Se vocês pensam que vão fugir, vocês estão muito enganados! – Ruan pressentia que aquela era a vontade deles – E fala para o seu projeto de namorada aí, que como uma atriz ela está fingindo dormir muito mal.

Ruan, Luana, Guilherme, Pedro e Vanessa seguiram em direção ao que restara do teatro. Mas antes de chegar ao que um dia fora a entrada do lugar, Ruan viu uma pasta largada no chão, então abaixou-se e pegou-a, passou a mão sobre a capa e tirando todas as cinzas viu duas máscaras, características nas representações do teatro. Abaixo havia um cálice que estava escrito Baco na haste.

- O que é isso aí? – Questionou Vanessa, a única que reparou no achado do amigo, os demais já estavam dentro do teatro. – Deixa eu ver – e então Ruan entregou a ela a pasta.

A garota abriu e ficou incrédula com o que viu.

- O que foi? – Ela estava com uma expressão que passava admiração e horror.

- É... – Ela fez uma pausa – Uma cópia do texto que eles apresentaram no dia do incêndio.

Não é possível, esse texto havia se perdido há muito, não faz sentido ele reaparecer agora!

- Para de mentir! – Ruan então tomou o livro das mãos de Vanessa e foi ler o que estava escrito.

E... Ela estava certa, estava escrito:

"Companhia de Teatro Baco:

Sete Demônios

Escrita por:...."

O nome do autor não estava legível, mas era sabido que aquele era realmente o nome da peça apresentada na noite do incêndio. Ele virou uma página e viu o prólogo. Não conseguiu se segurar e leu, o título do poema de abertura era perturbador demais para não ser lido:


"PROSTITUTA DO DIABO

Sete faces numa mulher

Sete Demônios a implorar

Uns sete Anjos vão rogar

Prostituta do Diabo ela vai virar

Não tem reza para te livrar

Nenhum confessionário aceitará

No altar ajoelhará

Inexistente auxiliar

Medo na sua casa

Invadindo o seu coração

Temor na sua alma

Arrancando a sua emoção

Sete Demônios te caçando no ar

Sete Anjos caídos pelo chão

Nesse equilíbrio perdido

Você é uma chave e a perdição

Num dado jogado

Um novo alvo achado

E você já deve ter virado

Prostituta do Diabo

Nem fizera algo que preste

Vive numa infundada prece

Que seu coração dilacere

Soou como se nada fizesse

Sete almas perturbadas

Implorando oração

Sete Anjos no chão

Acalmando o coração

E no ar sete Demônios

Pairando sem emoção

Sete faces já deve ter concentrado

Um poder foi canalizado

E sem dúvida de que já tenha virado

Prostituta do Diabo"


Texto: Igor Teixeira

Revisão: Giovanna Longobardi

BHS : BacoWhere stories live. Discover now