Cheiro da Morte

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Lá estava eu. Encolhido em um canto, era muito escuro e frio, a lama entrava por entre os meus dedos dos pés, e escondia o tom azulado da minha pele. Mas o que me incomodava de verdade eram os vermes nas paredes, do tamanho das minhas mãos, me beliscavam o tempo todo famintos por um pedaço de carne fresca. Eu os matava.

Tenho que sair desta cela viva - pensei comigo - me levanto e seguro nas grades, frias como o gelo, a ponto de fazerem minhas grandes mãos de três dedos doerem. Havia um guarda ao lado da cela viva, parado como uma estátua dos montes de Fogo Branco.

Tento chamar sua atenção, estendendo minha mão para fora, eu estava faminto, a ponto de lhe implorar comida. "Coma os vermes, e mate sua fome" ele dizia com sua voz grave. Os vermes não tinham uma aparência muito boa, eram pegajosos e asquerosos de mais.

Resolvo me sentar novamente e esperar pela hora da minha morte. Os pensamentos passados vem em minha mente, quando eu era um jovem crosgom e sonhava em lutar nas arenas de Fogo Branco. Meu pai sempre dizia que isso não era um bom sonho, só os que não se importavam com a vida queriam isso.

- hey, seu crosgom de merda. Levante, chegou sua hora.

Sem comida por dias, fraco e imundo. Iria lutar agora, mas não nas arenas de Fogo Branco. Apenas os campeões lutam lá.

Mas eu vi pelo lado bom, finalmente aquele guarda de voz grave iria abrir a cela viva, e eu sairia dali. Ele não era muito gentil, segurava bruscamente minha nuca com suas mãos gigantescas e pesadas. Mas sair da cela foi um alívio grande, mesmo sabendo que iria de encontro com a morte. Talvez morrer não fosse de todo mal assim.

Eu podia ouvir os gritos de longe, parecia uma multidão enorme. Ouvi um urro forte e estridente, era um urro de hurgom - me gelou toda espinha - essas criaturas são gigantescas e brutas ao extremo, com toda certeza não seria uma coisa boa o que me aguardava.

Cada vez que chegava mais perto da arena, podia sentir o cheiro da morte. Eu olhava para os lados e via gurdas do rei, parados como estátuas e firmemente centrados com os olhos fixos no nada.

O brilho de suas armaduras douradas ofuscava minha vista cansada. Meus olhos lacrimejavam e isso me incomodava.

Ao atravessar os portões da arena, percebi que não era o único condenado ali. Havia mais uns seis. Todos parados lá no meio da arena, a maioria se borrando de medo. Dava pra ver o hurgom preso atrás das grades. Faminto, Eufórico e ansioso para nos devorar. Cada urro seu, fazia meu coração bater dez vezes mais rápido.

O guarda me levou até o centro da arena junto aos outros. Com um forte empurrão me jogou no chão. Senti dor no peito, mas me levante. Olhei para o alto e lá estava ele sentado, distante demais para eu poder alcançar e o matar com minhas próprias mãos.

Com sua coroa dourada, pele vermelha como a de um demônio. Ele realmente era. Se levanta e a multidão cesa. Ele diz:

- Olhem para o meu rosto, vejam a face do poder... é esse o destino de quem se rebela contra o reino. Eu posso lhes conceder a vida, ou lhes dar a morte. - ele se cala por alguns segundos - escolho a morte, meu reinado não é feito de segundas chances. Soltem o hurgom.

A multidão torna a gritar, como um cântico para a morte. Enquanto as grades da cela começam a se levantar lentamente.

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Cela viva, tem esse nome por ser construída dentro de uma árvore e infestada de vermes enormes.

Crosgom são os habitantes de uma aldeia, pegos como escravos pela sua resistência e força. Possuem pele azulada e apenas três dedos nas mãos.

Fogo branco é a cidade considerada sagrada para o povo Crosgom e para outras raças. Foi construída entre montanhas e colocadas várias estátuas ao seu redor, nos topos dos montes e montanhas, representando proteção divina e mística.

Hurgom é uma besta cruel, carnívora, anda em quatro patas e pesa mais de uma tonelada. Quando cai sobre suas vítimas o peso é tanto que elas ficam grudadas em suas pele, até se decomporem e ficarem apenas ossos, fazendo do hurgom uma montanha viva com ossos pelo corpo.

Terra de KranavótusOnde histórias criam vida. Descubra agora