Dentes de um demônio

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    Observo atentamente a caçada da criatura. Um tropeço do pobre condenado me daria uma chance de chegar até a espada cravada nas costas do hurgom.

    As forças do jovem condenado começavam a se exaurir e cada passo seu, era mais pesado que o outro. Em cada olhada para trás ele via a criatura mais próxima de si. Até que ela o alcança, apenas com uma abocanhada arranca metade de seu corpo e começa a devorá-lo.

    Havia chegado a minha chance, começo a correr na direção da besta. Grito para o camarada que estava junto a mim:

    – Vamos, é nossa melhor chance.

    Ele pensa demais e não me acompanha, continuo correndo de olhos fixos no hurgom. Um outro condenado percebe o que eu tentava fazer e decide fazer o mesmo, mas estava bem mais longe do hurgom do que eu.

    Continuo correndo, ofegante e cansado. Não sei de onde tirava forças para isso. Tento chegar por trás da criatura, onde seu campo de visão era mais limitado. O outro condenado faz o mesmo e me segue a distância.

    Começo a chegar perto do hurgom, já posso ouvir sua respiração pesada. O cheiro de sangue é cada vez mais forte.

    Enfim eu o alcanço, com um salto me seguro em suas costas. Ele vira sua cabeça horrenda e olha para mim, bufa, da um erro e começa a se chacoalhar muito forte. Seguro como posso nos ossos presos em sua pele grossa e começo a tentar subir o mais rápido possível até a espada. A multidão vibra, como se tivessem mudado de lado.

    Continuo escalando suas costas rumo ao topo. Os trancos de suas pisadas faziam minhas mãos escorregarem. Mas eu persistia. Olho para baixo, em meio a poeira vejo o outro condenado começando a subir por uma das pernas do hurgom. Digo:

    – hey, veja ali, tem uma clava grudada em sua pele.

    Continuo a subir, já perto de sua cabeça, posso ouvir o ranger de seus dentes. Me levanto e seguro firmemente a espada. Olho para a multidão, eles vibravam. Olho para o rei e dou um sorriso. Podia-se ver o ódio em sua face.

    Sem esperar sinto um forte golpe na nuca. Minha visão fica turva e o som dos gritos da multidão profundos em meus ouvidos. Sinto outro golpe, agora nas costas. Me desequilíbrio, mas me agarro na espada.

    Olho para trás e vejo em borrões o outro condenado tentando me derrubar. O som volta e minha visão clareia, dou-lhe uma cotovelada no estômago – ele tosse e se abaixa  – tento arrancar a espada o mais rápido possível, enquanto o hurgom grita de dor e se sacode todo.

    O desgraçado se levanta e com uma chave de braço me impede de arrancar a espada. A inclinação de minha cabeça me faz olhar direto para o rei, que agora sorria.

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⏰ Última atualização: Oct 10, 2017 ⏰

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