"Um dia você será velho o bastante para voltar a ler contos de fadas."
C.S. LEWIS
Becca não conseguia acreditar que havia concordado em sair naquela noite. Algo como o sexto sentido tinha apitado maiscedo, alertando-a que o melhor era permanecer em casa. De preferência dormindo.
Porém, a garota era impetuosa. Possuía o costumede ignorar todos os avisos que o seu cérebro parecia emitir e fazia o contráriodo que o bom senso ditava. Só se vive umavez, ela sempre pensava.
O resultado disso? Ela estava quase vomitando na pista de dança.
A comemoração pelo aprovação na faculdade era algo a ser feito, de fato. Entretanto, aquela festa excedeu todos oslimites possíveis. Os veteranos, bêbados, não se contentaram até que todos oscalouros estivessem no mesmo estado que eles (ou até pior). Becca nem se lembravade quantas doses tomou ou quais bebidas misturou. Ela só pensava em uma únicacoisa: vaso.
Vaso sanitário.
Empurrando e desviando dos corpos suados na pista, ela cambaleava a procura de um banheiro. As luzes da balada eram as únicas responsáveis pela iluminação local. O que não ajudava em nada. As luzes coloridas só serviram para deixá-la mais tonta.
E muito mais enjoada.
Quando finalmente avistou a placa da boneca indicando o banheiro feminino, Becca suspirou de alívio. Agradeceu aos céus por não haver fila naquele momento.
Abrindo a porta de rompante, ela parou abruptamente enquanto tentava entender a cena que acontecia na sua frente. Havia um casal se pegando. A garota estava apoiada na pequena bancada da pia, com um cara entre as suas pernas. O banheiro, que já não era muito grande, pareceu ficar menor com os dois ocupantes.
A lâmpada amarela solitária do banheiro, já falha, piscava a cada segundo, fazendo a cabeça de Becca girar ainda mais.
— Vou vomitar — ela gemeu baixinho para ninguém em particular.
E vomitou.
• • • ☾ • • •
Rebecca se espreguiçou.
O sol batendo diretamente no seu rosto serviu como um eficaz despertador. Na verdade, como um irritante despertador.
A cama estava confortável demais para ser acordada tão cedo.
Ela encarou o quarto sem reconhecê-lo. Tinha absoluta certeza que o seu quarto não possuía paredes nem chão pretos. Muito menos com uma janela imensa à esquerda, que ocupava, basicamente, a parede inteira. E sem dúvida alguma a sua cama não era branca e de casal, com lençóis também pretos. Por Deus, tudo aqui é preto?
A porta abriu de uma vez à sua direita. Assustada, garota sentou na cama rapidamente.
— Finalmente você acordou — disse uma voz desconhecida. — Eu já estava me perguntando se deveria chamar uma ambulância e avisar que uma garota em coma estava ocupando a minha cama. Ou, talvez, chamar uma funerária.
Becca o encarou sem expressão. O cérebro dela estava lento devido ao sono e a ressaca. Principalmente pela ressaca, ela reconheceu. A cabeça doía como se ela tivesse sido nocauteada. Então, não era possível processar rapidamente o homem parado à sua frente e o que ele estava falando. Não era mesmo.
E ele a encarava como se ela possuísse algum problema mental.
Algo como demência, talvez.
— Esse não é o meu quarto — ela afirmou, arrependendo-se logo em seguida. Deveria haver um limite para a estupidez humana. Ou pelo menos, para a minha, ela se censurou.
Obviamente não estava em seu quarto.
O homem riu. Com o seu cabelo liso um poucoabaixo do queixo, o tom castanho ressaltava perfeitamente o azul dos olhosdele. A barba por fazer moldava a boca fina, que no momento exibia um sorrisotorto. Ela não ficou surpresa em constatar que a roupa dele também era preta,com uma camisa gola V caindo muito, mas muito bem no peitoral definido.
E o que a mais impressionou foi que ele era enorme.
Enorme e com várias tatuagens cobrindo os braços e uma parte visível do peito.
— Se você conseguiu perceber isso, acho que está tudo bem com o seu cérebro — e entrando no quarto, ele colocou um copo com água no criado mudo ao seu lado, também preto. — Quando estiver pronta para levantar, estarei esperando lá embaixo.
Seguindo o olhar dele, que estava focado em algum lugar logo abaixo do seu pescoço, Becca reparou pela primeira vez na roupa que usava. Era uma camisa branca de manga comprida que deixava à mostra uma boa parte dos seus seios.
Ela o encarou.
— Esse não é o meu vestido.
— Eu sei — ele sorriu.
Becca sacudiu a cabeça para clarear a mente. O homem ainda estava parado ao lado da cama. Devo estar acabada, ela pensou. Porém, não havia muito a ser feito. Ela já tomou vários porres na vida, mas ao ponto de acordar na cama de um cara que ela nem ao menos sabia o nome era a primeira vez.
E a dor de cabeça de matar continuava.
Ela perguntou com a voz baixa:
— Onde está o meu vestido? — no fundo, ela não sabia se realmente queria saber a resposta. Mas, ao mesmo tempo, ela precisava saber o que tinha acontecido para acordar sem ele.
O homem continuou encarando-a com um sorriso no rosto. O azul dos olhos brilhava.
Levantando apenas uma sobrancelha, ele ofereceu o seu sorriso mais debochado enquanto a respondia:
— No lixo.
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Devora-me
Hombres LoboQuando o lobo bate à sua porta, a morte se torna uma boa opção. Não há pistas. Não há corpos. Devora-me conta a história de Rebecca Maddox, uma estudante que após se mudar para uma cidade em que os desaparecimentos de pessoas tornaram-se comuns, d...