Prólogo

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Agachado, ele escutava os passos dela ecoando pelo asfaltoda rua deserta.

Apesar de ter pressentido um perigo assim que virou a esquina, ela ainda não havia visto o motivo do seu instinto ter despertado tão abruptamente.  

Ele seguia-a com os olhos, observando-a se aproximar cada vez mais. Em cima do telhado de uma casa na outra ponta da rua, o seu campo de visão ficava extremamente ampliado. E é por isso que ele sabia que não haveria testemunhas.

E muito menos interrupções.

Não que ele precisasse mesmo da visão para localizar alguma presa. O olfato era o seu verdadeiro ponto forte. Porém, a certeza de que o seu prazer seria intensificado enquanto observasse a presa entrando em desespero era um ótimo fator para espioná-la. Já sentia a boca salivando e uma ligeira excitação.

Ele queria ver o medo estampado no rosto dela.

Ele queria vê-la tentando fugir.  

E essa espera o divertia..

Os postes pouco iluminados foram insuficientespara que a mulher enxergasse qualquer coisa além do que havia logo a suafrente. Mal conseguia distinguir o contorno das casas. Os óculos já estavamembaçados devido à neblina da madrugada.

Ele não se surpreendia por ela não olhar para cima.

Eles nunca olham.

A mulher passou na frente da casa em que ele estava, contornando-a para dobrar a esquina. Ele conseguia sentir o alívio tomando conta dela, sem nunca deixar de acompanha-la com o olhar. As emoções dela estavam tão intensas que eram quase palpáveis e os batimentos cardíacos, antes acelerados, estavam diminuindo o ritmo.

A casa dela estava próxima. Ela finalmente chegaria. Finalmente estaria segura.

Pobre coitada. Ele não a deixaria escapar. 

Dobrando os joelhos e tomando o impulso necessário ele saltou do telhado silenciosamente. O seu corpo tampou a Lua por um momento, formando uma extensa sombra na rua. Mas a mulher não olhou para trás.

Ela já estava alcançando a porta de entrada.

Ele ouvia o tilintar das chaves enquanto ela mexia na bolsa. O barulho era irritante. Agudo demais para os seus ouvidos sensíveis.

Mas o cheiro dela era irresistível.

Ele sentia a saliva escorrer pela boca e pingar no chão enquanto se aproximava dela por trás.

A presa se dirigia à porta de entrada, inserindo a chave. Porém, segundos antes de destrancar a fechadura, ela olhou para o lado.

Algo havia chamado a sua atenção pelo canto do olho.

E ela o viu.

Enquanto o grito aterrorizado da mulher rompia com o silêncio da madrugada, assustando alguns vizinhos próximos que telefonariam para a polícia momentos depois, ele rosnou.

E a atacou.

Devora-meOnde histórias criam vida. Descubra agora