Thomas Putkins

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Thomas manteve o olhar vidrado na tela. Quando o projetor apagou, todos entraram num silêncio constrangedor e desconfortável. Thomas não esperava jamais que as filmagens fossem reveladas deste modo. Olhou para Kristen.

— O quê... mas, como..?

Não conseguia entender. Kristen tinha queimado as fitas e Thomas estivera com ela quando isso aconteceu. Como estavam passando em seu casamento se as viu serem consumidas no fogo com seus próprios olhos?

Sem perceber, já se encontrava tremendo. A esposa e cúmplice olhou para ele, também sem entender. Naquela igreja, todos o encaravam de um modo estranho. Cada cena naquela casa havia passado, cada momento, as mortes, as brigas... o assassino!

Naquele projetor, revelaram-se todos os detalhes de quando dera a maçã com fenciclidina para Dominik, fazendo-o matar em nome de Kaillua e de quando cortara a suástica em seu abdômen enquanto estava desacordado. Suas mentiras, suas dissimulações. Tudo.

Olhou irado para o rapaz da projeção.

— Quem... quem colocou esse vídeo? Quem está por trás dessa palhaçada?! — explodiu.

— Eu — Wolfgang pôs-se de pé — Não descarregue sua raiva no rapaz. A descarregue em mim. Não deveria ter brincado com a honra da minha família!

—Thomas Putkins! Seu pai estava certo, canalha. — Nathaniel estava com as algemas nas mãos e um sorriso vitorioso no rosto.

Thomas se desesperou e tentou correr para longe. Toda a igreja entrou num grande alvoroço. No entanto, estacou quando se viu na mira do revólver de Nathaniel. O policial veio até ele e, então, sentiu as pesadas mãos do homem sobre seus ombros, empurrando-o para o chão.

— Esperava ficar com o dinheiro, hein? Agora vai ficar com as grades. Você está preso por homicídio qualificado.

— Me solte! Me solte! Isto é loucura!

—Vamos nos entender no tribunal!
Thomas foi levado às pressas para a viatura, à vista dos olhares chocados de todos.

Na cela, de olhos fechados, Thomas remoia todas as memórias dos momentos passados. Estava indo tão bem. O que tinha dado errado? Seria a vingança perfeita para seu pai, que lhe tinha deserdado. Aquele velho louco e imbecil. Deu um longo suspiro e se ajeitou sobre aquela cama desconfortável. Pegou-se imaginando as incontáveis horas de sua juventude que seriam perdidas em uma prisão, longe de todo o dinheiro e tudo o que mais sonhou.

— A quantidade de tempo perdida aqui não será um problema, Thomas. —arrepiou ao ouvir a voz ao pé do ouvido.

— Quem está aí?

Não havia ninguém. Ele suspirou e se levantou. Já estava enlouquecendo?

—Oh, meu querido! – sorriu ternamente ao ouvir uma nova voz e uma silhueta conhecida se aproximar. Sim! Aquela era a voz gentil da mulher que tanto amava. —É uma lástima essa tragédia, planejamos tudo com tanto cuidado.

—Eu... Eu fiz tudo certo, como planejamos. Tentei até mesmo o amuleto, Kristen. Eu tentei, eu juro! Mas... meu pai estava louco. Foi em vão! O amuleto não funciona para controlar espírito coisa nenhuma! No fim não pude usar a garota morta ao nosso favor. – Deu um suspiro cansado, com as mãos jogadas sobre o rosto, envergonhado em ter falhado com a pessoa que mais amava.

—Eu sinto muito, Thomas.

—Não querida. Não sinta! Não sinta por mim. Eu não suportaria saber que sofre por mim, mesmo que seja inevitável. Eu vou dar um jeito de sair daqui, eu juro! Não sofra por mim.

—Não Thomas... – notou frieza em sua voz, assim como em seu olhar. — Não é por você que sinto, é por mim. Adoraria que as coisas fossem mais fáceis, mas ter você aqui... preso... Isso não é o que preciso.

—Do que está falando?

—Thomas, entenda, eu não preciso de você preso...

—Querida?

— Enquanto estiver com vida, não posso chamar de minha, a fortuna dos Putkins. Eu preciso de você morto!

Um forte arrepio o acertou. De repente, a fita usada em seu casamento rolou para dentro da cela acompanhada de um riso infantil desconhecido.

—O quê?

— Não está me reconhecendo? — uma voz lhe sussurrou ao pé do ouvido. Kristen se afastou uns passos da cela.

Quando virou-se para ver, teve um grande susto. Diante dele havia uma garota vestindo um pequeno vestido chamuscado e flutuando sobre o chão de cimento batido da cela, olhando-o com suas órbitas vazias dentro de um rosto descarnado.

Thomas arregalou os olhos. Sentiu a garganta se fechar e o ar começou a lhe faltar, fazendo seu coração acelerar com o desespero. Precisava respirar, sentia todo seu corpo travar. Quis gritar, mas sua voz saiu como um sussurro:

— Kaillua Etrius? Como?

— Tentar controlar um espírito vingativo em seu próprio habitat natural? No lugar em que ela morreu? — Kristen riu, balançando para ele o amuleto que roubara de seu pai. Afinal, o amuleto realmente controlava Kaillua. — Não aprendeu muito sobre a vida, meu caro, muito menos sobre a morte.

—Kristen? Você...

—Está vendo? Meu sogro não era tão louco quanto achava.

— Você me traiu, sua vagabunda! Mentiu para mim!

— Deveria ter dado ouvidos ao seu pai, Thomas!

— Você... — Rangeu os dentes, juntando as peças daquele quebra-cabeças. — Você sabia desde o início que o amuleto não funcionava na casa, não é? Por isso me deu a ideia de usá-lo, só para depois, como plano de contingência me sugerir matar as pessoas na casa com minhas próprias mãos diante das câmeras! Disse que me amava, traidora! Era tudo uma mentira?

Kaillua envolveu Thomas com as mãos, fazendo seu coração perder o ritmo e o jovem agarrar o próprio peito com violência e desespero.

— Não tente, sem o amuleto não pode me controlar. – a expressão de Kaillua era melancólica. Thomas deduziu que a garota não estava sentindo prazer algum naquela morte.

— Que poético! Morrendo exatamente igual ao pai que tanto odeia.

Thomas olhou para Kristen e, enquanto morria, assistiu a esposa recolher as fitas que supostamente havia queimado e as guardar juntamente com o amuleto. Olhou para Kaillua e a última visão que teve foi a do espectro da garota desvanecer no breu daquela cela.

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⏰ Última atualização: Oct 07, 2017 ⏰

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