A carona

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A c a r o n a



No dia seguinte, Bernardo parecia ter sido atropelado por um tanque de guerra russo, ou ao menos foi isso o que Catarina pensou quando viu o rapaz se arrastar de um lado para o outro do apartamento.

Ela preparou um misto quente simples, um copo de suco de laranja e colocou dois comprimidos ao lado do prato: um para o enjoo e outro para a dor de cabeça.

Todo mundo já teve seus dias difíceis e ele não seria o último que precisaria daquele tipo de ajuda, então nada lhe custava dar um pouco de apoio moral.

No entanto, mesmo parecendo com um zumbi, ele tinha um ar levemente melhor do que quando havia saído da casa na noite anterior, e aquilo tranquilizou Catarina - até que uma mulher saiu e calcinha e sutiã do quarto dele, abotoando o vestindo e indo embora.

Definitivamente não era o que ela estava esperando.

De repente Catarina estava consciente demais do seu corpo, lembrando-se de todas as garotas que ela já havia visto com seus amigos, Elisa e até mesmo a desconhecida de Bernardo. Todas elas, tão belas quanto possível, mulheres. Enquanto Catarina estava ali, com seus cabelos ruivos como o maior atrativo que dispunha.

- Hum... Bernardo? - ela o chamou, batendo na porta do banheiro que era o local em que ele se encontrava.

- Sim? - ele perguntou, berrando, pois provavelmente estava embaixo do chuveiro.

- Podemos conversar quando você sair daí? - ela indagou, olhando seu relógio de pulso e pensando em como chegaria atrasada por perder o seu metrô.

Ele não respondeu, então ela apenas voltou a se arrumar para o trabalho, prendendo seus cabelos em um rabo de cavalo e colocando o crachá da empresa dentro de sua bolsa.

Bernardo saiu do banheiro com apenas a sua toalha, fazendo com que ela derrubasse a bolsa com o batom nude que usava, tentando pegá-lo sem parecer tola novamente.

Ele não aparentou se importar com aquilo tanto quanto ela, então ela apenas se voltou a ele, olhando-o nos olhos - e não nos pingos que estavam escorrendo pelo corpo dele - e cruzou os braços, fingindo reprovação.

- Olha, sei que você estava acostumado a morar com um cara, mas temos que ter regras sobre as garotas que você trás aqui em casa - ela bufou - ainda mais sem avisar.

O rapaz fechou os olhos, apoiando-se no batente da porta e passando as mãos nos cabelos, deixando a toalha ao redor de sua cintura mais frouxa - não que ela estivesse olhando.

- Eu... eu sinto muito - ele falou, surpreendendo-a - não estava em nenhum dos meus planos que isso acontecesse.

- Bem, eu só espero que me avise caso você queira fazer isso de novo - ela deu de ombros - e avise a elas que não saiam de lingerie pela casa. Já tenho o meu corpo para olhar e certamente não estou interessada no delas.

Ele sorriu, provavelmente pensando em algumas piadas que poderia fazer sobre o assunto, porém ela não o permitiu falar nada sobre o assunto, apenas apontou para a comida que deixou na mesa para ele.

- Estou atrasada - ela comentou - nos falamos de noite?

- Espera - ele pediu, desprendendo-se do batente da porta - onde você trabalha?

- Faria Lima com a Juscelino, por quê? - ela indagou, abrindo a porta de sua casa.

- Trabalho por ali também, eu te dou carona, moça - ele apontou para o sofá e entrou no quarto, arrumando-se para ir trabalhar.

Em apenas um anoOnde histórias criam vida. Descubra agora