O castelo era protegido por um manto de nevoeiro. Até mesmo durante o verão e a primavera, aquela névoa obscura e pesada circundava os arredores. Ninguém conseguia enxergar com clareza visto de longe. Mas Violett observava com os olhos semiabertos a estrutura preta dos enormes pináculos das torres. Estavam se aproximando da muralha de tamanho sem fim e ela teve que inclinar novamente a cabeça para baixo afim de evitar mais pinceladas frias de neve em seu rosto, que mais se assemelhavam com agulhas perfurando qualquer pele exposta. Não sabia quanto tempo estava sentada no cavalo, pareciam ter sido horas ao mesmo tempo apenas minutos. Sua mente estranhamente se estabilizou no nada. Sem linhas de raciocínios, pensamentos malucos ou esperançosos. A calma de não saber de absolutamente nada.
Ela sentiu quando o vampiro atrás de si desceu do cavalo, viu quando o portão de aço rangeu ao se erguer mostrando suas extremidades inferiores tão afiadas como adagas. Ela também desceu. O vento estava mais forte naquela área, o capuz que tanto sustentou durante o caminho sendo jogado para trás.
Três sentinelas surgiram em meio a névoa densa e pegaram as rédeas dos três cavalos novamente sendo engolidos segundos depois.
Violett não queria atravessar o portão, se ultrapassasse jamais sairia de novo. Observou o nevoeiro que mal possibilitava ver mais do que meio metro adiante. Aquilo engolia tudo que entrava como um buraco negro. Ela estremeceu ao pensar no que a esperava atrás dos muros.
A mulher que declarou sua desgraça seguiu mais à frente sumindo poucos segundos depois. Uma mão lhe dar um pequeno empurrãozinho nas costas para seguir em frente, um incentivo que Violett prontamente ignoraria se os dois vampiros não estivessem flanqueando ao seu lado. Deu um passo, dois passos, três passos e por fim entrou em meio a névoa.
Ela arfou chocada com o estranho silêncio. Em como os açoites do vento nunca chegaram até ela, apenas o ar era pesado. O farfalhar das roupas e das solas das botas contra os pedregulhos os únicos sons que se ouvia. O ambiente era como tentar olhar através de vidro esfumaçado. Estava andando completamente às cegas, um passo atrás dos enormes vampiros.
— O canalha não para de tagarelar. — O vampiro de olhos vermelhos, aquele que possuía a tatuagem na mandíbula, disse, cortando o silêncio sepulcral.
De quem ele estava falando?
— Você o deixou entrar. Lide com isso agora. — O de olhos cinzas, vampiro que ela já odiava com cada fibra do seu ser, murmurou, e pelo leve arrastar de sua voz, ela teve certeza de que o vampiro estava bastante entediado.
Uma surpresa que eles não estivessem caçoando do estado dela ou até mesmo querendo provar de seu sangue. Era o que seu pai mais lembrava a ela. Eles gostam de mostrar a você onde é o seu lugar, em qual classe você pertence. Mostram quem é a presa e o predador. Eles provam do seu sangue e dizem que ele é ruim, mas voltam a cravar os dentes em você.
— Lidar com isso? Estamos falando do próprio diabo!
Diabo?
Violett ficou momentaneamente apavorada. Quem era o canalha?
— Ele vai adorar saber que o chamou assim.
— Ele vai adorar receber o tratamento que vou dar à ele. — Havia diversão na voz do vampiro de uma olhos vermelhos.
Violett supôs que eles falavam de alguém próximo. Talvez alguém de seu círculo, porque ela soube que o mesmo tom entre gozação e afeição que envolvia as palavras dos vampiros era o mesmo que ela notava quando falava de Willie para alguém.
Então vampiros sentiam? Vampiros não tem sentimentos filha. Eles são um bando de animais que defendem apenas os próprios interesses.
Talvez a falta de esperança a estivesse deixando fragilizada.
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Príncipe Das Trevas (Reescrevendo)
VampirEm Valun'Leah, reino governado por vampiros escravocratas sedentos por uma gota de sangue, Violett, uma simples humana, acaba numa prisão sem saída: ser a próxima escrava a servir como bolsa de sangue ao temível Príncipe das Trevas, que carrega a fa...