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- Assustado? Eu nem ao menos sei o que ele pensa de mim vovô. Ele não gosta de mim.

-Chloe, ele precisa de você. Precisa de você por perto.-Era o que vovô pensava. O que ele queria era que eu conversasse com meu irmão de oito anos de idade que não fala nem meu nome por ter medo ou não gostar de mim.
Tenho planos para o meu aniversário e todos vão saber quando chegar o grande dia. Meus quatorze anos de idade. Se é que eu aguente até lá as broncas e palmadas de vovó.
Isso me faz sentir falta de papai e de mamãe.

-Chloe,pegue as minhas botas e vamos comigo até o celeiro.- Ordenou vovó.
Fui até a dispensa cheia de armários de madeira velhos. E de parede branca mofada. Peguei suas botas, pretas, sujas de lama. Fui junto de vovó, descalça. Não tenho botas, meus avós não acham que seja necessário gastar dinheiro com botas para mim. Meu chinelo arrebentou  pela décima vez semana passada e já não dá mais pra prender com o prego. E como não temos dinheiro para comprar outro,ando descalço. Uso meu tênis velho apenas para ir a escola.
- vamos, pegue o balde e encha de água.- eu a obedecia porque sentia medo. Mas tinha vontade de correr com o balde e joga - lo longe. Por maldade. Só pra vê - lá comprando  outro fiado. E levando sermão de vovô por gastar o dinheiro do pote de manteiga. O nosso único dinheiro. Bom, precisamos desse balde. Era com ele que tomamos banho e lavamos os pratos. E eu não queria ver vovô trabalhar no campo de novo apenas pra ganhar aqueles míseros sessenta reais.
Não temos animais no celeiro. Todos morreram de fome. Éramos os únicos animais dali. Naquela pequena casa velha de madeira, com chão que range. O nosso canto de tomar banho.
Amélia Rosvandi. Minha avó. Apesar de cuidar de mim, já que meus pais morreram em um assistente terrível. Me mantém presa entre as paredes dessa casa velha. Há duas semanas ela jogou nossa esponja fora e agora temos que esfregar os pés em pedras. E apenas molhar o resto do corpo. Isso não limpa uma sujeira acumulada de cinco dias.
  Então esfreguei meus pés nas pedras que meu avô havia pego para que pudéssemos,"limpar os pés". E me molhei com a água do pequeno balde. E acabei o meu banho da semana. Amélia me observava com olhar de reprovação. Talvez não fosse assim que devesse jogar a água no corpo. Ela se aproximou com um cipó, que ficava encostado no canto da parede de madeira e bateu com ele em minhas pernas. Repetindo:
- você deve aprender como tomar banho. Precisa aprender uma lição.-Lição de como a odia-la mais.
E eu me senti fraca e uma chorona. E fui para cama esperando que ela dormisse de pressa.
  Enfim, ela dormiu. Eu me levantei e andei da sala onde também era meu quarto até a cozinha, que ficavam uma ao lado da outra, divida por uma parede velha. E do lado de fora estava Steve. Meu melhor amigo. Sentado no nosso "cantinho". Em cima do feno. Com uma coberta cheia de pelo de gato,que ele trazia para que não sentíssemos frio enquanto que estivéssemos ali.
- eu apanhei hoje.- Abaixei a cabeça sem nenhuma vergonha. Porque é normal para Steve saber de tudo isso. Como também é normal o fato de eu apanhar. Ele apanha muito de seus pais também.
-De novo? Eu já te disse que a vida não vale a pena. A sua vida não vale a pena.-Ele disse me olhando nos olhos. Quase perfurando a alma.
-Por que é que a minha vida não vale a pena ? Você apanha também.-respondi confusa.
-Chloe, eles são meus pais. E eu moro com eles e eles me educam e me dão ao menos uma bota e um chinelo. Seus avós não podem te dar nem mesmo carinho.-Ele disse como se fosse assim tão simples.
- Você tem razão.
- Então. Por que insiste em viver? O que espera? Que daqui pra frente Seja diferente?  Não vale a pena sofrer esperando que algo mude em sua vida se já sabemos o final. O melhor a se fazer...É morrer.- Ele tira do bolso um pequeno canivete que dizia ser de seu pai e me entrega.
- O que quer que eu faça? - pergunto já sabendo a resposta.
- Acabe com isso de uma vez! Vai ser melhor.
Eu peguei e analisei o utensílio e minhas mãos.  Era frio, aspero e cheirava a manga. Ele disse que seu pai usava para cortar mangas quando ia ate o campo.
   Analisei a hipótese de fazer aquilo. De realmente descansar ja que era isso que todos diziam que acontece quando morremos.

A Morte BrancaOnde histórias criam vida. Descubra agora