Quando criamos personagens que vivem em ambientes parecidos com o nosso, escrever histórias depende exclusivamente das nossas experiências de vida. Nesse caso, o processo criativo se torna um pouco mais fácil. Mas também podemos escrever sobre o mundo de outras pessoas e até mesmo mundos que não existem. Nesses dois casos, o desafio é criar histórias com verossimilhança.
Sobre o primeiro caso, basta ir atrás do que não sabemos, por exemplo, se criamos um personagem que tem uma profissão que está fora do nosso conhecimento. Entreviste alguém que trabalha nesse ramo, pergunte como é o dia a dia dela, quais os desafios profissionais que ela já enfrentou, o que fez ela querer trabalhar nessa área. Você precisa entender o mundo do seu personagem antes de escrever como se fosse ele. Se você não sabe como é o dia a dia de um juiz, se não conhece nenhum juiz, se tem preguiça de pesquisar na internet sobre como é a vida de juiz, evite escrever sobre isso – a menos que a profissão do personagem seja apenas para preencher a lacuna "ocupação".
Vamos supor que sua mãe seja jornalista. Você está cansada de ouvir as histórias dela sobre as complicações do trabalho. Mas olha quanta gente pode ler seus textos e não ter noção de como é o trabalho de um jornalista. Você pode acrescentar conflitos dessa profissão que poucas pessoas conhecem. Você está fazendo um retrato sobre a vida real, contando histórias que poderiam ter acontecido de verdade. Sua história tem verdade, ela é verossímil. Ou seja, a lógica da história faz sentido. Ninguém vai ler sua história e ficar pensando "não é bem assim". Especialmente se um leitor conhecer essa profissão e puder opinar sobre a situação que você escreveu.
Sobre a criação de mundos que não existem, você pode criar vários elementos irreais, mas que obedecem a uma lógica interna da história. Como disse Ricardo Sérgio, obras de ficção científica e fantasia podem contradizer a definição de verossimilhança. Contudo, mesmo com acontecimentos absurdos e ilógicos, se houver coerência interna, aceitamos a história como verdadeira. [1]
Robert McKee também fala que toda história deve obedecer a suas próprias regras internas de probabilidade, pois "o público inspeciona o universo ficcional, separando o possível do impossível, o provável do improvável". Por isso, o autor deve prosseguir com base nas limitações que estabeleceu no início da história, a fim de evitar que as pessoas rejeitem seu trabalho como ilógico e não convicente. [2]
McKee é uma das minhas principais referências e, mesmo que seus ensinamentos sejam direcionados para roteiros cinematográficos, ele fala muito sobre a criação de histórias em geral. Então, se você é uma pessoa que se preocupa com a estrutura, não deixe de ler o livro "Story", mesmo que sua intenção seja apenas escrever livros.
No próximo capítulo, vamos falar mais sobre a pesquisa como estratégia para criar histórias verossímeis.
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Storytelling - A Arte de Contar Histórias
Non-FictionPassei 10 anos da minha vida em busca da história perfeita. Durante esse tempo li diversos livros, artigos na internet, fiz cursos e escrevi milhares de rascunhos das minhas histórias. Eu sempre achava que não estava pronta pra publicar o meu livro...